venerdì, dicembre 30, 2005

Eu tinha um monte de coisas pra dizer, mas estou sem computador.

Feliz 2006, onde eu continuo de onde parei.

domenica, dicembre 18, 2005

interlúdio

01
01.01
01.02.01
01.03.03.01
01.04.06.04.01
01.05.10.10.05.01
01.06.15.20.15.06.01

Pascal era um filósofo por que isso descreve, passo a passo, a vida, com exatidão.


Ah, a Julieta me transformou num fotlogger! :O

lunedì, novembre 28, 2005

Sobrevivência

(isso é uma continuação. você não viu a primeira parte?)


Acordei uns três dias depois, era quinta feira. Dentro de mim tudo doía. Estava febril e fraco, na minha cama. A família preocupada em volta. Ninguém podia entender o que tinha me acontecido. Expliquei minha versão dos fatos. O médico disse que tal órgão não existia, acho que conversaram sobre a possibilidade de eu estar alucinando, me testaram em busca de todo tipo de drogas - passei uma semana arrastado de casa para o hospital e então de volta, e nada. Minha mãe trazia olheiras de preocupação, e cada vez que eu pensava em explicar o que aconteceu ela destava a chorar. Fiquei puto. Fodido mesmo, todo mundo dizendo que queria me curar e ninguém parava um segundo pra me ouvir. Levantei uma noite e fui embora. Essa raiva me deu uma energia provisória importante para tudo o que aconteceu a seguir; era como se por alguns instantes ela pudesse substituir o que eu tinha perdido.

Era fevereiro, mas eu sentia muito frio. Guardei tudo que conseguia carregar numa mala e vesti um sobretudo berrante, de uma fantasia de Dick Tracy que uma vez eu tentei usar no carnaval. Saí de noite, sem fazer idéia de onde ir, com os trocados que apanhei pelos cantos da casa. Toda certeza que eu tinha era uma só: era preciso achar o homem do saco e recuperar o que era meu. Pista eu não tinha nenhuma, mas esse tipo de coisa é praticamente desnecessário. Fui para o centro, que é onde gente perdida se perde mais até chegar onde não esperava.

Passei uns três dias na base da raiva e dos trocados, sobrevivendo sei lá como a tudo isso, dividindo o espaço com mendigos. Comer no centro é bem barato e não vivi tão mal assim. Eu lia dentro dos sebos e nessas horas a vida nem parecia doer; conheci todos os hits de camelôs e achei que podia ficar ali para sempre. Mas a energia que eu tinha conquistado era temporária, e começou a se esvair. Milha pele que andava vermelha perdeu toda a cor e eu agora era um tom de cinza ambulante. Se fazia necessária uma atitude rápida, mas de fato, nada que eu soubesse me ajudava, nenhum médico, nenhum amigo, nem mesmo um mendigo que disse que foi pai de santo.
Eu ia morrer tão rápido que nem sabia como.
E o porra do homem do saco ia ficar rindo com a última parte viva de mim numa estante de troféus.
*
Os oráculos de rua são assim. Eles passam pelo meio das histórias sem fazer sentido. Eles pegam nossa convicção que nada se perde e nada se cria e tomam na sopa; se tudo se transforma, não é por essa ou por aquela lei da física agiu, é porque um deles esteve presente. Pelo menos na cidade.
A minha foi uma velhota de aspecto horrendo e fedor inacreditável. Cabelos brancos e longos e quase nenhum dente, roupas indicando a mais longa mendicância, parou para comer uma banana do meu lado. Quase vomitei tudo o que restava das minhas tripas ao assistir ao gesto horrível de mastigação escancarada no qual ela insistia. A banana se amassando contra a gengiva escurecida de sujeira, e meu esôfago pulsava para fora.
Ela me disse:
- Tu tá morrendo, filho! Vai pra casa que eles te curam.
Me lembrei de que não poderia voltar a minha casa. Pensei em discutir com ela. A sujeita foi mais rápida.
- Não a da tua mãe. Não a tua que ainda não existe. Vai pra casa dos macacos.
"Ah, sua velha maluca, se eu quisesse conversar com você, gritava! Que tipo de loucura é essa que você acha que existe uma casa dos macacos e que podem ter eles a ver com me curar?"
Ao invés de ler meus pensamentos de forma tão clara como fez da primeira vez, a velha largou a casca da banana do meu lado e foi andando embora até sumir. Alguma coisa me impediu de segui-la, por mais que minha vontade fosse entender a insanidade dessa mulher. Vi que ela deixou caida perto do meu pé a casca de banana, e sob ela, desenhado num guardanapo engordurado de pastel, um mapinha.

giovedì, novembre 24, 2005

O Homem do Saco (Isso é um "capítulo" um de um lance maior)

- "Um homem bateu a minha porta e eu abri!"...Não lembro como continua essa musiquinha que as meninas cantam pra pular corda, mas te digo, rapaz, sei muito bem o que esses versos querem dizer. Querem dizer que elas são umas putinhas, todas umas putinhas! Um homem, e elas abriram. E você sabe o que ele fez, todos nós sabemos, afinal, não somos homens? As vadias? As vadias gostaram! Gozaram até o sol nascer. E saíram para cantar ao amanhecer, e pular corda e dizer que deram à noite toda, como se fosse a coisa mais bonita do mundo. Vaquinhas de merda. Você está com medo. Suando e tremendo, coitado. É porque eu estou falando isso? Só porque você abriu a porta quando eu bati? Ou é por causa desse saco de pano imenso nas minhas costas?
O Homem-do-Saco estava num terno bege de corte elegante, e trazia o saco combinando. Eu fiquei paralisado de medo. Tentei me defender, mas não funcionou. Ele enfiou a mão pela minha boca, desceu com seu braço pelas minhas entranhas, eu ali, todo aberto, paralisado, deformado com aquela violência. Ele procurava alguma coisa perdida entre meus rins e os intestinos (impressionante descobrir como a gente sente tudo isso por dentro). O filha da puta ficava sorrindo com uns dentes esgarçados embaixo daquele bigodinho loiro e ralo. Pela cara, não devia ter nem cinco anos mais que meus vinte. E ainda assim, já andava com um bigodinho ridículo e um terno bege de corte alinhado, o maldito engomadinho. Aposto que eu era a última coisa entre ele e sua meta comercial do ano; que o chefe do maldito ia falar "parabéns, Jeremias, ninguém preenche a cota tão rápido desde o rapto de todas as criancinhas de Hammelin! Você tem um ótimo futuro como Homem-do-Saco."
Jeremias, Homem-do-Saco, isso mesmo. Nem fez questão de se apresentar, mas enquanto ele sedento vasculhava minhas entranhas tive bastante tempro pra ver o crachá ridículo, que dependurado recaia sobre meu rosto. Achou algo. Puxou com muita força, senti o tranco dentro de mim; mas nada aconteceu. Aparentemente estava bem fixado lá, onde deveria permanecer. O jovem executivo não se deixou abalar, apoiou seus pés contra a parede, ficou por cima de mim, fez força e mais força. Quando finalmente o negócio se desprendeu, ele caiu para trás num baque, mas ergueu seu braço triunfante, com o troféu a mostra. A dor foi a pior que já senti, deitei no chão me contorcendo, e não conseguia fazer absolutamente nada enquanto ele colocava uma bolota de uma gosma, metade azul e metade rosa, que pulsava forte e se remexia na sua mão. Não fosse pela maleabilidade, pareceria uma imensa bola colorida de vidro. Mas era uma parte do meu corpo, que eu nunca tinha ouvido falar, que o sujeito roubara. Pôs naquele saco imensa onde tanta coisa se mexia querendo fugir e foi embora pela porta da frente, sem problemas. Ninguém na rua nunca suspeita do homem do saco; ele sempre está tão bem arrumado.

mercoledì, novembre 23, 2005

Velho testamento.

O Gêneses nos meus olhos.
O Êxodo na minha voz.
O Apocalipse em minhas calças.

lunedì, novembre 21, 2005

A Grande Convenção de 1737.

A terra era um lugar bem diferente uns três séculos atrás, muito mais do que se imagina. Até o ano que hoje nós chamamos de 1737 da era cristã, nada do que nós conhecemos existia, e uma estranha e tecnologicamente avançada civilização de humanos que não se chamam por esse nome governava o planeta.
A história desse povo é antiga e misteriosa, mas eles funcionam completamente diferente de nós. Não costumam planejar para que seus filhos tenham felicidade material e desempenhos morais que lhes sejam satisfatórios. Gostam, pelo contrário, de elaborar futuros abertamente áridos e turbulentos para propiciar o desafio certo para as próximas gerações. Foi então que naquele ano todas as pessoas mais adultas que criaças enviaram representantes para uma grande assembléia, que decidiu que no prazo de cento e onze ano todas as provas da história real desse planeta deixariam de existir, e seriam substituídas por uma elaborada construção ficcional, capaz de fazer as gerações futuras se tornarem exatamente o oposto daquilo que a humanidade era.
Contistas caprichosos resolveram contar a história de um fantástico império, berço da civilização, cujos ideais e métodos seriam difundidos justamente pelos povos bárbaros que o destruíram. As hábeis mãos de artistas criaram falsos inícios para a escrita e para as cidades na Mesopotâmia, no Egito e nos Andes. Técnicas complexas transformaram objetos novos em ruínas e artefatos que aparentavam ter milênios de idade. A população foi redistribuida pelo mundo, línguas artificais foram criadas e ensinadas aos jovens para que esses acreditassem na história de sua nação; centenas de milhares de livros, pergaminhos, afrescos e similares foram escritos retroativamente dessas línguas inventadas, até que se pudesse rastrear uma origem milenar em qualquer dialeto novato.
Poetas e filósofos usaram essas línguas e histórias para dividir o novo mundo em religiões, ciências e preceitos, cuja origem no ocidente se daria num lugar inventado chamado Grécia. As discussões ficcionais eram tão fascinantes que, em alguns momentos, os farsantes esqueciam da peça e acreditavam realmente em seus embates.
Rapidamente, toda a prova de que o mundo era um lugar completamente diferente foi sendo esquecida. Passados os cento e onze anos, as pessoas mais velhas do mundo se reuniram numa tumba no mediterrâneo, destruíram os últimos pertences que remetiam a sua existência e se sacrificaram num ritual suicida. Foi assim que o mundo começou em 1848.

domenica, novembre 13, 2005

O Efeito Valentina - Belmira Mortessana

Com Belmira aconteceu assim. Um dia, comprou cigarros no boteco e reparou numa carteira de motorista perdida esperando ser reconhecida no caixa pelo seu dono desatento. Noutro, viu o R.G. de uma desajeitada no lotação, grudado ao lado da catraca, pois quem sabe ela não passa por ali outro dia. É desde então que ela sabe o que fazer.
Belmira Mortessana, Berenice de nascimento, Belmira de Verdade. Nome difícil de esquecer, rosto que ninguém nunca notou, atrás dos longos e desfeitos cabelos pretos que cobrem tudo. Tirou uma foto com eles presos, uns brincos chamativos e maquiagem carregada. O verdadeiro rosto que ninguém nunca viu. Hora extra no serviço de cartório, como desculpa para tirar oitocentas e noventa cópias autenticadas da própria identidade. Um fim de semana basta para perdê-las por toda a São Paulo. E desde então, existe uma nova celebridade instantânea na cidade.
Só no mês de outubro, dezoito blogues, vinte e três fotologues, e três sites razoáveis publicaram comentários, fotos e artigos sobre o fenômeno. A musa dos botecos e lotações; quem será? Sabemos que nasceu à 13/07/1979. O nome dos pais está borrado e incompreensível em todas as cópias. Será que ela cometeu algum crime? Dalila Morena, do site "Isso sim me importa", investigou. Sim; criar um documento de uma pessoa que não existe, mas com todas as marcas federais de autenticidade, falsidade ideológica e mais uma dúzia de coisas. Sim, crime da esfera federal. Belmira Berenice das Couves, você está encrenca.
Tudo muito fatual até agora, paremos um momento para pensar nos cigarros de Belmira, de certa forma onde isso se iniciou. Consta que ela gosta de fumá-los aos pares; não ao mesmo tempo, mas sempre em seqüência. Ao todos, menos num dia que a maioria dos fumantes que você deve conhecer; mas, desde pequena, quando todos os outros precisavam de cinco minutos, a ela pareciam necessários dz ou nenhum. Daí o hábito: ela sempre tira dez minutos inteiros para fumar; caso contrário, consideraria o ato espetacularmente superficial e desnecessário, câncer pelo câncer, o que não é o caso dela por aqui.
Mas que tal crime federal (e foi tudo isso uma maneira barata de não falar nele por alguns instantes, os muito menos do que dez minutos que precisei para dizer isso?) criou uma disputa das que não se vê todo dia. Funcionário contra funcionário, a um burocrata com inusitado senso de decência pareceu que não havia porque fazer vista grossa as atividades da moça. Como no documento consta Belmira, que não existe para o estado, Fábio Moraes, o intrépido e desajeitado antagonsta que vos proponho não pôde localizar seu alvo facilmente. Foi necessário um plano. Primeira etapa simples, procurar nos locais já identificados pela jornalista. Nos botecos do largo da batata, jovens esquisitos e, no ideário de Fábio, excessivamente "pra-frentex" prestavam uma espécie de homenagem irônica e condescendenta para a imagem patética da moça do R.G. falso. O Balconista se recusou a entregar o documento; ótima isca de clientela; esses moleques não parecem mas bebem bem. Foi necessário puxar a autoridade, vantagens de quem trabalha para a polícia federal, para obrigar a entrega da prova. Finalmente, havia um começo.
Logo, despertaria o maior e mais honesto e decente detetive do Brasil.
E por essa parte, Belmira não poderia se interessar menos.

sabato, novembre 05, 2005

LISTA?!

Eu não preencho mais essas listas. Mas eu não desaponto a Estranha. Meu cérebro entrou em conflito, deu crepe, respondi. A moça é mais importante do que o que eu faço ou deixo de fazer no meu cotidiano. Divirta-se aí.

7 coisas que eu odeio fazer ou de que tenho medo
- odeio ficar noiado com estranhos na rua.
- deixar recado na secretária eletrônica
- esperar no telefone.
- ser largado soxinho - morro de medo disso.
- tenho pavor de silêncio
- odeio odeio odeio pegar elevador com desconhecidos
- Concordo com a Estranha, tomar certas decisões é um terror.

7 coisas que gosto
- Ler e escrever
- pornografia
- sair com os amigos
- assistir, seja um filme, um programa de tv, uma peça de teatro ou um bafão na rua.
- dançar
- jogar estupidezes no computador
- músicas divertidas e toscas que todo o mundo odeia

7 coisas importantes no meu quarto
- Minha estante das surpresas
- A lata de filme pintada de amarelo com uma propagandade rum
- o meu computador cheio da minha tralha
- minha cama, grande e adorável
- um quadrinho com uma capa velha de livro chamado 'os andróginos'
- Um armário em decomposição
- A coleção de CDs roubados

7 fatos quaisquer sobre mim
- Eu nao sei mentir, mas minto.
- Conceitualmente, gosto de gatos e não de cachorros, mas na prática sai ao contrário.
- Eu nunca tenho dois pares de tênis próprios para uso ao mesmo tempo.
- Eu gosto de Rum e de Saquê.
- Eu adoro identificar regras e dar nomes para elas.
- Sou neurótico.
- Acho muito difícil recusar um pedido de um amigo, por mais que as vezes eles não percebam porque eu disfarço sendo bem grosso.

7 coisas que eu planejo fazer antes de morrer
- Viajar decentemente pelas melhores cidades do mundo
- Ter um filho
- Escrever e realizar um longa metragem
- Sobreviver a um ataque cardíaco.
- Quebrar a cara de alguém que mereça, uma vez só.
- Ter um banheiro de azulejos vermelhos e pretos
- Queimar o mundo na ponta de um charuto vagabundo e fedorento.

7 coisas que eu sei fazer
- piadas infames
- ouvir as pessoas
- manejar um martelo
- chocolate quente
- compania
- contar sobre minha vida
- dar um jeitinho em caixa de descarga

7 coisas que eu não sei fazer
- Dirigir
- Andar de bicileta, skate, surfar e qualquer coisa dessas.
- Torta de limão
- comprar tinta (é muito difícil!)
- lidar corretamente com o telefone
- consertar box de chuveiro
- desenhar


7 coisas que eu acredito

- Que da terceira vez sempre dá certo.
- Na entropia
- Que tudo que alguém acredita existe, mas não do jeito que se espera ou concebe
- Que toda doença tem cura
- Na regra do banho
- Que quando se morre, caputz.
- Que o que falta às pessoas que eu não gosto são umas boas palmadas.


As 7 coisas que eu mais falo

- Isso é insensato.
- Não serve para nada.
- Não, é mentira.
- Dessa vez eu acho que vai dar certo.
- Por favor, a gente PRECISA sair.
- Rola um bar hoje, hein?
- Passava uma manteiga...

7 celebridades por quem tenho um apreço especial
- Lyetchenstein
- Björk
- Madonna
- Tati Quebra Barraco
- Tina Turner :p
- Alan Moore
- Tim Burton

Sete pessoas que tem que responder isso agora: as primeiras que se prontificarem, oras. Não quero escolher ninguém.

venerdì, ottobre 28, 2005

martedì, ottobre 25, 2005

Enquanto eu não coloco esse blogue no lugar, um pouco de Billie Holliday para vocês

Holding hands at midnight
'Neath the starry sky
Nice work if you can get it
And you can get it if you try
Scrolling with the one boy
Sighing after sigh
Nice work if you can get it
And you can get it if you try
Just imagen someone waiting at the cottage door
Where two hearts become one
Who could ask for anything more
Loving one who loves you
And then taking that vow
Nice work if you can get it
And if you can get it
Won't you tell me how?

martedì, ottobre 11, 2005

meu template foi assassinado.

Resíduos

O pistoleiro adentrou o bar, faminto e sedento. Havia acabado de estourar os miolos de alguém na esquina. A hombridade em pessoa se via em seus cabelos desgrenhados, o bigode que cobria quase toda a boca, as costeletas onde podia se esconder um dedo de cadáver. Tiro a queima roupa e ele estava coberto de sangue. Na pia, removeu rapidamente o líquido vermelho do rosto. Sentou e pediu; sorvete de creme. E como lambuzou o bigode! Sangue nas costeletas e sorvete de creme no bigode. Tudo que ele realmente precisava estava ali, e deixava as marcas visíveis à todos.

domenica, ottobre 02, 2005

Fogo sobe, água desce. As vezes os conflitos são simples assim: na vertical.
Movimentos circulares: um sentido suga, o outro expele. Geralmente o mundo acontece desse jeito; revoluções nas sutilezas.
A vida moderna é uma tralha sem tamanho.

domenica, settembre 25, 2005

Darwin

São muitas as espécies de peixes burras o suficiente para comer a própria cria. Ainda assim, esses animais se reproduzem tanto que essa estupidez não é o suficiente para causar qualquer forma de extinção tão cedo, então a burrice dos peixes pode ser considerada evolutivamente eficiente.

Só isso explica o fato da humanidade ainda existir.

venerdì, settembre 23, 2005

Mantra

Agora, crianças, repitam até saber que é verdade. Repitam até que seja verdade. Repitam até que a verdade seja apenas essa frase.
OmundoébomOmundoébomOmundoébomOmundoébomOmundoébomOmundoébom
OmundoébomOmundoébomOmundoébomOmundoébomOmundoébomOmundoébom
Respirem, deixem suas vozes desprenderem de seus corpos, a sonoridade grave dos peitos ocos, tão rápido, tão fluído que a frase é rio, que nada a pode conter. Falem até esquecerem o que estão dizendo, porque o som deixa de ser uma palavra e passa a ser um universo.
FelicidadeexisteFelicidadeexisteFelicidadeexisteFelicidadeexisteFelicidadeexiste
FelicidadeexisteFelicidadeexisteFelicidadeexisteFelicidadeexisteFelicidadeexiste
E não se esqueçam nunca de contar pra mamãe e pro papai que vocês os amam.

mercoledì, settembre 21, 2005

Radio'll be the end of me

"Renataaaa
Ingrataaaa
Trocou o meu amor por uma ilusão

Renataaaa
Ingrataaa
Quem planta sacanagem colhe solidão"

Lotação é foda.

sabato, settembre 17, 2005

Eu quero ser seu cafajeste

Eu queria ser escroto, ter bigodes e óculos escuros, tratar as pessoas como objetos e sempre conseguir o que quero; na cara de pau, na intimidação ou na porrada mesmo. Dar tabefes de carinho e dizer "te amo, porra". Voltar bêbado para encontrar alguém chorando e chamar tudo isso de frescura. E que meu amor sofrindo nunca fosse embora, por mais que eu só fizesse merda. Queria queimar o mundo na ponta de um charuto vagabundo e fedorento.

domenica, settembre 04, 2005

Enquanto Adão e Eva estavam ingênuos no paraíso, a verdade é que eles não curtiam muito a idéia. A balada hippie de comunhão com a natureza não agradava nem um pouco o primeiro homem que se sentia entediado, e a nudez permanente não permitia à garota gastar sua ansiedade em roupas. Sendo que o paraíso não se dava no japão segundo a maioria dos teólogos, podemos concluir que comida crua todos os dias também devia parecer um bocado irritante, e obedecer a Deus em alegria a cada segundo dava a toda a coisa um aspecto muito cachorrinho. É por isso que, muito antes da serpente, os dois já tinham muito bem colocado na cabeça que, assim que desse, desobedeceriam o Sujeito de maneira ou de outra. E desse momento, se sentiriam gente, poderiam ser felizes, conhecer o mundo e parar de sofrer. Só Deus sabe o quanto eles esperaram, até porque ninguém mais viu tudo isso acontecendo. Adão pensou em pecar, mas não conhecia ainda os pecados capitais e se viu de mãos atadas; Eva já tinha achado, fuçando nas litotecas tábuas com uma série de mandamentos, mas a maioria deles ainda nem podia ser desobedecido, na ausência de um próximo que não Adão. Por isso que, quando a serpente ofereceu o fruto do conhecimento do bem e do mal, eles aceitaram na hora. Quer dizer, Adão era tonto como todo homem tem de ser, mas não a esse ponto de achar que o Cara não ia se importar. Estavam ambos muito prontos para as conseqüências, foram lá, comeram. Expulsão, conforme estava avisado, prescrito e planejado. Por um tempinho, a idéia foi basicamente de "finalmente podemos ser felizes". Tinham esperado uma vida idílica inteira por um pouco de ação. Eva adorou imaginar que um dia haveriam shopping centers, o maridão ensinando aos filhos a importância de um dia fazer carros e filmes de guerra. Daí, a primeira vez que sentiram fome, não um avisinho do estômago dizendo que tá na hora, mas fome, e verdade, de alguns dias se roendo em dor, se tocaram do pepino que tinham arranjado. Inventaram, etão, uma idéia idiota: "como éramos felizes antes de tudo isso."

O grande problema da gente hoje em dia talvez seja que pensaram isso ao invés de "Fiz cagada, mas faria tudo de novo."
Ajudava mais.

venerdì, settembre 02, 2005

Lipidose Hepática só dá em gatos

Diz um filme do 007 que o amanhã nunca morre. Meia-verdade, como tantas outras; o amanhã é natimorto, e só interessa a filósofos tristes. O hoje é, por conseqüência, imortal, sempre vivendo do amanhã que morre todo dia à meia noite. Mas isso já é pieguice, uma vez que mesmo o dia sendo eterno, as coisas nunca permanecem.

Uma música do Blondie chamada 11:59 fala sobre esse um minuto antes do processo se realizar. E é Blondie, então é ótimo!

Ótimo é o que a gente diz das coisas quando se sente mais perto do que é ser feliz.
A interpretação mais simples e conhecida de Platão (não vou fingir que li esse sujeito na fonte, mas a idéia persiste) é a de que tudo que existe é mera tentativa de perseguir um ideal impossível e perfeito. Mas a idéia não precede o ser, e perseguir esse tipo de platonismo leva ao tédio e a um excesso de crises existênciais cretinas.
Eu tenho um nome para essa cretinice: Plano A. O maior problema é se libertar do Plano A, o resto é secundário.

Plan A, uma música dos Dandy Warhols, ironiza a ilusão de que todos pertencemos a um lugar inatingível e melhor. É Dandy Warhols, então é ótimo.

Porque, então, a gente quer tanto visitar o reino do sonhar, que é feito só de idéias, se elas são a origem de toda a infelicidade? Ilusões, projetos, conceitos e todas as coisas que não existem?
Todo o sonho tem em si o poder de existir, de maneiras que as vezes a gente nem compreende. E respeitar esse poder, da mesma forma que respeitamos as duras formas da realidade material, sem idolatria ou purismo, talvez seja amor.

O amor moderno é tralha.

Isso já é uma tradução que mistura uma música e um disco. Bowie e Blur, então é ótimo.

martedì, agosto 23, 2005

Quem sabe contar e quem não sabe

Os cientistas (estudiosos em geral inclusos aqui) em sua arrogância, acreditam ser superiores ao resto da humanidade. Eternamente em laboratórios e bibliotecas, só conhecendo ambientes externos para pesquisas de meio, eles são apaixonados pelo conhecimento. Procuram, na dita ciência, soluçõs, sobrevivência, mas também um prazer que não parecem ser capazes de extrair do convívio humano.
Sobre eles, os artistas dirão que são tolos e frios. Artistas, uma segunda categoria de pessoas, acredita piamente que os cientistas são uns completos imbecis, entregues a uma racionalidade positivista aonde não há alegria e prazer. Reúnem-se em ateliês, teatros, cinemas e cafés, e se deixam iluminar uns pelos outros, por uma quantidade humanamente aceitável de referências bibliográficas e por algumas drogas. Depois saem por aí a criar. O sonho masoquista de cada um é, certamente, não ser compreendido no próprio tempo e morrer faminto, amaldiçoando a mediocridade de todos que os cercam.
É para evitar essa rixa que existem os políticos - não os deputados engravatados que respondem inquéritos na tevê, mas os trabalhadores e estudantes que organizam movimentos de protesto, sindicatos, uniões e todo esse tipo de coisa. Os políticos foram alertados de que pode haver um mundo lindo de ciência e arte, onde todos são livres para fazer isso. E o primeiro passo para chegar nesse mundo é tratar todos os cientistas e artistas como pessoas alienadas, que não entendem nada e precisam ser demovidas de suas atividades fúteis e descompromissadas para poderem fortalecer o movimento.
No que todos esses três tipos superiores de gente concordam é que o resto, cera de noventa porcento de nós, é, basicamente, gado burro e amável. Qualquer um deles vai dizer que é apaixonado pela humanidade, que procura criar tecnologias para que todos vivam melhor, beleza para que se deliciem, e uma sociedade justa e livre, para que todos exerçam seu totall potencial como pessoas. Mas é só você colocar um de frente com um homem ou mulher verdadeiros, tirados das ruas, que o intelectual progressivo vai se enojar com os hábitos, idéias e vontades absurdas desse macaco. "Tirem essa critaura daqui, por favor" ele vai dizer, "estou ocupado salvando o mundo."
Bando de imbecis.

domenica, agosto 21, 2005

martedì, agosto 16, 2005

Imaginei um desenho. Eu não sei desenhar, então só planejava descrevê-lo pra outra pessoa fazer o trabalho sujo. Seria um desfiladeiro, meio caricato, um bocado Coiote e Papa-Léguas. Bem estreito e fundo. Em cima, teria uma placa de um lado, toda colorida, bonita e com luzes, meio torta e psicodélica, escrito "terra do nunca". Outro lado, uma placa dura e quadrada, quase de envenenamento nuclear, avisando "mundo real". Lá em baixo uma confusão de rabiscos parecendo alguém estatelado e uma flechinha apontando "Você está aqui." Mas ai eu tinha que decidir de que lado ficava cada placa. Veja bem, num mundo ocidental, você absorve toda a linguagem visual como começando na esquerda no topo, indo para a direita ao fundo; ainda mais numa imagem narrativa como essa. Então, ao colocar a placa da terra do nunca da esquerda, eu disse "tentou crescer e se fodeu." Que não é o que eu queria, nem um pouco. Já "tentou nunca crescer e se fudeu" me parece ainda mais idiota. Não queria sucitar nenhuma leitura tão simplista e direta das coisas. Reparei: mais que não saber fazer traços indo pra direção ou com a intensidade que eu quero, eu basicamente não sei desenhar; não conheço o código e as estratégias que me permitiriam exprimir da maneira adequada numa imagem estática em duas dimensões.
Aí eu conto isso por escrito, fingindo que a linguagem textual eu domino.

domenica, agosto 14, 2005

Toda criança já sonhou em cavar um buraco até a china. O que a maioria ignora é que o meu deu certo.

giovedì, agosto 11, 2005

Não te preocupes. Estamos salvos.

Deus (bem como as bruxas), insiste em existir por mais que eu não acredite nele. Se você me disser que a Arte está morta, respondo que nós dois, e também os outros, continuamos todos respirando. A Revolução é inevitável, igualmete à todas as suas predecessoras, e só nos cabe acelerar e guiar como um automóvel. E mais, sabe quem vai nos redmir a todos? O Amor, esse mesmo, tão banalizado nesses dias de melodrama. A Beleza salvará o mundo. Existem a sorte, o destino, o espírito, o despertar das conciências, a insurreição das classes, a verdade científica e todas as coisas perfeitas que alguém já quis que resolvessem tudo. Todas elas. Inclusive o pudim de leite condensado.

martedì, agosto 09, 2005

Linguagem universal.

Na fila do banco. Tinha um oriental de meia idade e origem não identificada (entre chinês, coreano ou outros), acompanhado de um adolescente mestiço uns quarenta centímetros mais alto. Atende o celular. Ai que ele começa a gritar com a pessoa do outro lado em termos de "Chow gong zeng assu gong chuchecha zing zong sossohosso"s e "Hu mwahaiii gogagogagoga"s e etcetera. A conversa é plenamente compreensível. É da empresa. Passaram o pepino para ele. Os incompetentes deviam ter resolvido isso, é um procedimento óbvio. Cabeças vão rolar. Mas eu resolvo. Sim, podemos fazer isso. E nessa hora, o sim é "Ok, how." Que não teria nada demais se não fosse seguido por um "Ok how how." E num ritmo alucinado, ele começa a repetir oks e hows em quantidades diferentes sem parar. Howhowhowhowhowhowhowhow. Ok Howhowhow. Howhow. Juro que ouvi muito disso, era um bocado esquisito. Ok Howhow final, Byebye. Desliga o telefone, guarda na cintura e murmura, irritado, enquanto ainda é assistido por toda a fila de curiosos no banco. "Saaaaaco!".

venerdì, agosto 05, 2005

Eu tenho uma metranca guardada na geladeira. Me faz sentir menos inseguro.

domenica, luglio 31, 2005

Caros dirigentes mundiais,

Após anos de pesquisa, nossa organização pode finalmente determinar com segurança que a principal causa de mortes na humanidade é a passagem do tempo. Mesmo as vítimas da violência da guerra e de nossos tão amados atentados terroristas não morrem instantânemamente, deixando claro que se o tempo for congelado, suas vidas podem ser salvas. O maior problema da saúde mundial, caros senhores, é o fluxo ordenado de enventos.

Por isso, viemos por meio dessa, oferecer nosso projeto para congelar definitiamente o tempo, de maneira a garantir a humanidade uma existência saudável e prolongada. Embora estejamos empenhados nessa causa por puro interesse humantário, pedimos vosso apoio para obter os recursos tecnológicos para realizar esse dispendioso projeto. Nossos engenheiros projetaram um dispositivo capaz de transformar toda a massa da lua em energia, o que pelas fórmulas comprovadas pelos principais físicos do século XX garantiria uma geração de força inacreditável, capaz de alimentar a segunda parte do plano: um campo de força que paralisaria a rotação e a translação da terra.

Sem as fases da lua, a variação da lumnosidade do dia e as estações do ano, todos os determinantes de tempo que conhecemos terão sido eliminados, e por princípio filosófico, o próprio tempo, como uma dimensão alheia a vontade humana, deixará de existir. É preciso matar o tempo, antes que ele nos mate, e, senhores, nós temos como fazê-lo. Como congelar todos os relógios e criar um paraíso de eternidade.
Por favor, mandem um cheque.

Atenciosamente

Toda a equipe da Agencia F.O. de tecnologia insensata.

sabato, luglio 23, 2005

Estimação.

O meu vizinho tem um hipópotamo, e é um problema imenso o ronco desse bicho a noite. Minha casa até treme quando ele dorme pesado. Um barulhão grave, vibrado, parece que a erra vai cair. Além disso, a lama que ele gosta atrái tanto mosquito quedá até vergonha. A a gente teve que cobrir a casa inteira com tela. Quando vai abrir pra alguém entrar, a gente espirra veneno por toda a fresta, se não os insteos vem junto, em peso.
Alguns cachorros correm atrás de carteiros. o Hipólito (nome ridiculo, não acham?) é pior: hipopótamos costumam ser herbívoros, mas parece que ele não se importou muito com isso e engoliu um inteiro. Deu processo, mas não rendeu nada. Sabe como é, os animais as vezes tem mais direitos que gente. O Flávio, caçula do vizinho, sempre sai para passear com o hipopótamo pelas manhãs. Antes eles iam no fim da tarde, mas esse é o horário que a dona Odete costuma levar o crocodilo dela para passear, e os dois as vezes se estranham. O fato é que a Odete entendem bem mais de animais e o crocodilo dela, ao contrário daquele brutamontes, é um animal gentil e bem treinado que não suporta provocações de coisas obesas como aquele paquiderme. Era um horror.
Mas o maior problema mesmo é quando esquecem de limpar o cocô do bichinho de estimação. Que horror! O cheiro daquela bosta já fez os urubus do Aírton, da rua de cima, fugirem três vezes. A gente sempre pede pra saúde pública dar um jeito nesse hipopótamo, mas ninguém faz nada. Quer dizer, alguém faz: o meu vizinho já encomendou uma fêmea para ele.

giovedì, luglio 14, 2005

Alguém disse uma vez "As vezes eu quero morrer." Respondeu-se "Te entendo. As vezes, me dá uma vontade enorme de comer queijo."
E o pior é que ele entendia mesmo.

giovedì, giugno 30, 2005

O banco revolucionário

Sentou-se um contador infeliz no banco, disfarçado no meio de tantos outros, numa pequena galeria comercial sem qualquer interesse. Totalmente fora de seu hábito, pegou uma caneta, um pedaço de papel, rabiscou: "As máquinas não foram feitas para amar"; e, por mais que essa frase fosse uma obviedade, escrita sem qualquer estilo ou beleza, sentiu-se tornado um poeta. Guardou sua única obra, ergueu-se e foi embora, assobiando, morrer de tuberculose ou aids ou qualquer que seja a próxima.
Semanas depois, pousou uma perua decadente naquele mesmo banco, porém virada para o outro lado. Observava as belas roubas da coleção luxuosa de uma butique carésima a sua frente. Roupas feitas para separarem uma mulher da multidão, ela pensou, quando três loiras tingidas passaram entre ela e a vitrine, vestindo de cima a baixo peças daquela mesma coleção. Desde então, ela só usa roupas feitas em casa, de tecidos da 25 de março e couro rasgado.
Quando a galeria sofreu uma reforma geral, um empresário aproveitou para levar o banco para seu jardim, onde ele ornava muito bom. Sua recatada filha, estudante de admnistração, criou o hábito de receber rapazes - bom, geralmente eram rapazes - deslumbrantemente nua sobre aquele acento ao luar. Depois de um ano de encontros, ela engravidou e saiu de casa. Nunca mais falou com seu pai.
Furioso, o último dono estraçalhou o banco e jogou os pedaços numa caçamba de lixo. Dois garotos que passavam recolheram a madeira e a levaram para acender a fogueira de uma festa de rua. E olhando aquela chama vermelha queimar, foi que eu aprendi a respeitar as possibilidades de um simples banco de corredor de galeria.

mercoledì, giugno 22, 2005

Bons sentimentos não dão boa literatura.

Tinha uma escritora muito talentosa que morava num apartamento onde tudo era da cor da fumaça de cigarro. Ela tinha uma vocação secreta para romântica e, mesmo sendo muito moderna e dedicada, sonhava com grandes inspirações vindas do Olimpo que finalmente fariam dela um gênio.

Um dia, tocou sua campainha uma musa. Vinha de mala e cuia, estava sem onde morar. Muito bonita, tinha a pele azul, cabelos negros brilhantes e olhos dourados. A escritora deixou-a entrar, se apaixonou e concluiu que tinha a vida feita. Numa das malas havia milhares de papéis em branco, na verdade, uma quantidade miticamente inesgotável deles. Durante meses, papéis e mais papéis saiam da mala e eram preenchidos com os mais fabulosos contos e poemas, e novelas e até um romance ou dois. Tudo era quase que psicografado, fluia direto dos céus para o papel, com a mão no papel de um instrumento tolo; quase um obstáculo ao processo divino de criação.

Talvez tenha sido a época mais feliz da vida dela. Cantava para todos os jornais, revistas e editoras seu amor perfeito, ancestral e ideal. Escrevia metáforas e mais metáforas para o amor e a perfeição.Até sua musa falou "cansei", fechou a malinha mágica e foi embora. Assim, do mesmo jeito que qualquer musa inspiradora que você tenha encontrado pela vida provavelmente fez, porque elas são mais generosas e mais cruéis do que prostitutas baratas, e chegando o dia de ir elas não piscam duas vezes.

A mulher forte decidiu não se abalar; era sabido que isso ia acontecer algum dia. Nunca confie na mitologia grega, mamãe sempre dizia. "Fiquemos com aquilo que aproveitei da relação. Todos meus textos." Só agora ela finalmente os leu. Eram tolos, idiotas, horríveis. Egoístas, sem nenhuma relevância; apenas a ela podia interessar algo assim. Tentara, sem sucesso, publicar vários contos e poemas, e agora entendia porque. A chama inspiração destruiu sua literatura, tudo eram cartas de adolescentes no correio elegante. Ela olhou para seu apartamento cor de fumaça de cigarro, que estava todo abarrotado de papéis róseos ou ainda mais bregas. Não chegou a ler tudo antes de jogar fora. Botou fogo no lixo e sentiu vergonha. Prometeu ser fria e distante a partir de agora. Voltou cinco anos atrás as prateleiras, todos adoraram a volta do seu estilo, agora mais amargo do que nunca. E ela achou uma alegria bizarra em odiar a vida da forma como ela odeia.

sabato, giugno 18, 2005

"Coz there aint no woman or man or tranny or thing whose gonna love you like they should"

Ou então a gente explica tudo isso dizendo que no momento, a vida é uma droga.

E o pior é que aquilo é um verso de uma música feliz.

lunedì, giugno 13, 2005

S.A.C.

"Obrigada por ligar para o serviço de felicidade entregue em casa! No momento, todos os nossos operadores estão ocupados. Por favor aguarde.
E então você ouve dez milhões de vezes aquela bossa nova genérica de espera telefônica.
Aí algum dia outra máquina te atende e diz:
"Obrigada pela paciência. Em poucos momentos, você será atendido."
E então, troca a bossa nova por um jazz fraco.
Finalmente, pedem alguma informação.
"Bem vindo ao nosso sistema de felicidade automática. Tecle um se quiser resolver seus problemas materiais e profissionais, dois para uma aceitação espiritual da condição humana. Disque três para ajuda com sua vocação, quatro para encontrar a família perfeita e cinco para ter muitos amigos. Disque seis para que procuremos o amor da sua vida."
Você disca seis, o resto até que está resolvido.
"O serviço de localização de felicidade amorosa está muito requisitado. Por favor, aguarde enquanto processamos seus dados."
E eles começam a repetir a mesma do Wando...

giovedì, giugno 09, 2005

Plan A ou O Amor em Pessoa

Porque somos todos céticos esperando ir para o paraíso, e todas as mulheres independentes que conheci adoram um príncipe encantado. O mundo desanda nessa nossa vontade de ser salvo. Por mais idiota que eu saiba que é, por mais que você ache que só os otários ainda fazem isso, eu ainda fico aqui tentando ser uma pessoa boa, não porque eu quero de verdade ser uma pessoa boa, mas porque de alguma forma tudo tem que dar certo pra mim. Se eu nunca li a Bíblia, devem ter me dado melodramas o suficiente no lugar. E seja num disco voador para outro planeta ou abraçado no amor em pessoa, quantos de nós não ficamos nessa vida só esperando o dia de ir embora?
É gozado como a decisão de dizer que chega disso tem que ser refeita todo dia, e, mesmo assim, as vezes a gente é pego pelo plano a e se esquece de ser feliz.

domenica, giugno 05, 2005

"I love Jack White like a little brother"




"Well, this is the last show on this tour, so if you don't mind we would like to play a little longer. We're gona play some new songs you never heard before, unless you want us to just play seven nation army and go home, ok?*"

HA!

*É claro que minha memória já distorceu a fala totalmente, mas era essa a idéia.

martedì, maggio 31, 2005

Can't step of the train

Quando eu comprei a passagem, a moça da bilheteria deu uma risadinha irônica. Pensei brevemente no que podia ser tão idiota assim em comprar aquela passagem, mas conclui que ela deveria era estar louca e fui tomar o café com pão de queijo da estação. Café, pão de queijo e estações de trem tem uma força anos trinta incrível, então rapidamente todas as cores decaíram a tons de sépia e as roupas se tornaram aquelas coisas charmosas, desconfortáveis e quentes de muito tempo atrás.
É curioso que em pleno século vinte e um o único jeito de se chegar naquela montanha seja de trem. Eu não devia perder tempo indo até uma montanha besta; eu devia ser Maomé. Mas eu não sou, e preciso ir até a porra da montanha.
Café nos anos trinta era engraçado, foi a primeira coisa que eu descobri. Quer dizer, ele era todo plantado aqui e era muito que sempre sobrava, então é algo de incrivel como o grão era mais fresco.
A segunda coisa que eu descobri é que pouquíssima gente entrava nesse trem. Uns solitários de capotes, umas jovens donzelas ingênuas e alguns boêmios cheios de conhaque e ópio. Ninguém embarcava acompanhado, e as pessoas na estação pareciam olhar curiosas em volta, todas com a mesma ironia contente da mulher que vendeu a passagem. A fila andou, um moço recebeu minha passagem; ele não falou com mais ninguém, mas na minha vez, me fitou nos olhos, e me disse com uma clareza solene: "Até que o trem pare, você não pode sair." Eu concordei com o pescoço, embaraçado pelo conselho um tanto ridículo e óbvio que acabara de ouvir. Um monte de silenciosos depois de mim, até que finalmente partimos.
Duas horas de trilhos e a paisagem urbana já deu lugar a pés de café e vacas. Na terceira, já podia ver a montanha lá no horizonte; meio azulada, como dizem que é o Olimpo, porque nessas horas a gente fica querendo ser heróico que nem aqueles intelectuais que sempre falam de coisas gregas. Achei que até o fim do dia chegaríamos, até entrar num túnel escuro e terivelmente longo. Passou a noite toda lá, e talvez alguma manhã. Claustrofóbico demais, mal consegui dormir. Quando acordei, a montanha estava lá atrás. Perguntei ao moço que conferia o bem estar dos passageiros. "Por ali não havia acesso; acalme-se, agora já estamos quase chegando. O senhor não pensou que seria uma linha reta, não é mesmo?"
Eu me senti idiota de ter acreditado na linearidade. Está bem, que venham as curvas, já estamos chegando. Curvas e curvas e mais curvas, e já voltamos a direção da montanha. Há um mar de morros. As curvas sobem e descem e contornam cada um dos morros, e depois pontes passam por cima dos morros e das curvas, e a noite acontece e desacontece, e ainda estamos chegando. "Agora falta tão pouco, por favor se acalme."
Só as vezes, parece que estamos chegando realmente mais perto, e então, curva! e estamos de novo sempre a mesma distância. Nunca a montanha. Sempre falta tão pouquinho; o trem nunca pára. Eu não aguento mais. Preciso descer. Vou até a porta do vagão. A janela tem o rosto da balconista, ela sorri e diz "o senhor não pode descer de um trem em movimento." A porta não abre. Agh! "Por favor, senhor, se acalme e sente. Nós já estamos quase lá."
É mentira, a montanha não chega, o trem não pára. E eu não posso descer.

Um dia a gente aprende a ser feliz só de ver a paisagem e ouvir o som dos trilhos, sempre sorrindo com a idéia de que vamos à montanha.

sabato, maggio 28, 2005

Death to Bonnie and Clyde



The Story of Bonnie and Clyde

You´ve heard the story of Jesse James
Of how he lived and died
If you´re still in need
Of something to read
Here´s the story of Bonnie and Clyde...

Now Bonnie and Clyde are the Barrow gang
I´m sure you all have read
How they rob and steal
And those who squeal
Are usually found dyin´ or dead.

They call them cold-hearted killers
They say they are heartless and mean
But I say this with pride
That I once knew Clyde
When he was honest and upright and clean.

But ´laws´ fooled around
Kept takin´ him down
And lockin´ him up in a cell
Till he said to me: ´I´ll never be free
So I´ll meet a few of them in Hell.´

If a policeman is killed in Dallas
And they have no clue to guide
If they can´t find a fiend
They just wipe their slate clean
And hang it on Bonnie and Clyde.

If they try to act like citizens
And rent them a nice little flat
About the third night
They´re invited to fight
By a sub-guns´ rat-a-tat-tat.

Some day, they´ll go down together
They´ll bury them side by side
To a few, it´ll be grief-
To the law, a relief-
But it´s death for Bonnie and Clyde.


Tem uma hora em que Clyde tenta desencorajar Bonnie de seguir com ele.
"You would never have peace."
"Do you promise?"

Que é tudo que você precisa saber sobre os dois.

domenica, maggio 22, 2005

O mundo é mais parecido com "Alice através do espelho" do que ele gosta de acrediar.

giovedì, maggio 19, 2005

A fuga do viandante

Era conhecido na cidade inteira por andar cercando-se das figuras mais estranhas e diversas dos lugares. Pessoas cheias de alegria sombria, ou de radiante dor. Amava e era amado por cada um deles. O viandante fazia tudo caminhando, e caminhava todos os dias. Tinha um teto, algumas roupas, em geral bonitas, um bar que quase era sua casa, e muitos amigos. E isso parecia tudo que ele precisava. Bradava, com orgulho e coragem, que tinha tudo que precisava. Quem já passou fome e sede, e quem já passou solidão, como ele conheceu os três, sabe que se escolhe por último a solidão. O movimento dessas ruas parecia ser o sangue que corre em suas veias; ninguém podia imaginar tal criatura morando fora daqui. Só que calhou um dia de acordar com um formigamento. Esse sangue lhe ardia, parecia contaminado. A fome e a sede pareceram grandes demais. Juntou suas roupas, saiu de baixo do teto. Viandou na luz do dia, que nunca foi sua amiga. Mesmo com todo o fluxo, e todo o calor do sol, e com seu tamanho grande e desajeitado, ninguém notou que ele ia embora. Não que ninguém tenha visto, mas tal informação era tão incoerente que as pessoas simplesmente não registravam corretamente: o viandante, uma das forças da natureza artificial desse lugar, foi embora. Quem sabe se um dia volta?

DÉJEUNER DU MATIN
Jacques Prévert

Il a mis le café Ele pôs o café
dans la tasse na xícara

Il a mis le lait Ele pôs o leite
dans la tasse de café na xícara de café
Il a mis le sucre Ele pôs o açúcar
dans le café au lait no café com leite
Avec la petite cuiller Com a colherinha,
il a tourné Ele mexeu.
Il a bu le café au lait Ele bebeu o café com leite.
et il a reposé la tasse e pousou a xícara na mesa.
sans me parler sem falar comigo.
Il a allumé Ele acendeu
une cigarette um cigarro
Il a fait des ronds E fez bolinhas
avec la fumée com a fumaça no ar.
Il a mis les cendres Ele bateu as cinzas
dans le cendrier no cinzeiro
sans me parler sem falar comigo
sans me regarder sem me olhar
Il s’est lévé Ele se levantou
Il a mis e colocou
son chapeau sur la tête seu chapéu na cabeça
Il a mis son manteau de pluie ele vestiu o seu casaco
parce qu’il pleuvait porque chovia
et il est parti e ele partiu
sous la pluie debaixo de chuva
sans une parole sem falar comigo
sans me regarder sem me olhar
et moi j’ai pris e eu coloquei
ma tête dans ma main minha cabeça entre as mãos
e j’ai pleuré. e eu chorei.


Obs: A coluna da direita é como me lembro da tradução que eu gostava mais desse poema; ela é bem literal na maior parte do tempo, mas as vezes fica esquisita. Não tenho a menor certeza de que seja assim, mas eu gosto. No site onde eu achei o original, existe outra tradução, que eu não gostei muito, achei que perde as pausas do poema.

martedì, maggio 17, 2005

Em caso de dúvidas, utilize nosso teste de urina.

Não são impressionantes as coisas que a gente descobre?
Eu descobri que passei um mês ou dois deprimido, logo agora que passou (bom, pasou há umas duas semanas já, vai). Poxa, ainda bem que eu não consegui completar o serviço que eu estava fazendo de jogar a minha vida fora, se não eu estaria perdido. Existem esses milhares de pessoas depressivas por aí que pelo menos podem se contentar em saber que são assim, se tratar e ter a plena consciência de que aquilo que elas estão sentindo é muito mais uma coisa de hormônios, neurotransmissores e azar na hora do parto do que de fato uma vida de bosta. Quer dizer, eles deviam ter consciência disso, não sei. Alguém paranóico pára de desconfiar dos outros pensando "Não, isso é só a minha nóia"? Mas veja só, eu que não sou um ser preparado para isso peguei todas aquelas dores da vida sem sentido nenhum e comecei a ter para mim. Achei que deviam estar motivadíssimas, porque eu nunca tive dessas caraminholas na cabeça. Se fosse que nem câncer de mama, que tem auto-exame, o mundo seria bem melhor, juro.
"Durante o banho, ou em sua intimidade, sente calmamente e reflita sobre sua vida e tudo que o incomoda. Passe delicadamente as mãos pela cabeça, enquanto mantém o corpo todo relaxado; procure sentir caroços e rachaduras que indiquem que o mundo inteiro está martelando por aí sem te deixar pensar. Caso encontre alguma coisa, compre imediatamente uma barra de chocolate ou procure seu psiquiatra."

lunedì, maggio 16, 2005

E se a vida for mais que nem uma comédia romântica?

De repente perseguir as pessoas que nem um alucinado traz futuro. E trilhas sonoras óbvias e ruins, que escancaram de um jeito meio idiota os nossos sentimentos, contem no fim de tudo uma verdade. Uma verdade engraçada e bonitinha na qual todo mundo queria viver; um mundo assim meio qualquer coisa com a Julia Roberts ou a Jennifer Aniston. Nesse cenário absurdo, o roquenrou, a revolta e todos os vanguardismos ficam sendo, por um instante, a fantasia, o escape de perfeição de porcelana. E os mitos mais bobos da nossa modernidade, realismo. Só por um instante. Que dará a todo o resto uma porção imensa de significado.

giovedì, maggio 12, 2005

Sobre o dia.

Hoje eu fiz nada o dia todo. Aí eu saí no fim da tarde pra ir numa reunião, mas fiquei preso no trânsito e voltei. Devia ser proíbido a gente ficar preso no trânsito nesse estado em que eu estou.

(Coluna boba e típica bem de blog ali do lado. Eu quis.)

mercoledì, maggio 11, 2005

Plano de carreira

Eu escolhi essa minha vida audiovisuenta, entre outras coisas, pelas vantagens oferecidas sobre um trabalho comum: informalidade do ambiente profissional, multiplicidade das tarefas, cooperação de equipes, rotatividade dos locais de serviço, contao humano intenso.
Como existem outras atividades mais lucrativas no mercado que oferecem as mesmas comodidades para profissionais destacados, decidi: vou virar seqüestrador.

lunedì, maggio 09, 2005

CNTP

O jeito que eu encaro as coisas é exatamente como o clima em São Paulo: ele simplesmente não tem a menor obrigação de seguir uma sequencia lógica, linear e previsível ou respeitar a época do ano. É quente ou frio, com vento ou ar parado. E hoje estamos com deliciosos 20° centígrados dentro da minha cabeça, não importam todas as coisas que ainda podem dar errado.

sabato, maggio 07, 2005

Homenagem Freakout ao dia das mães

(ou melhor, à tua velha.)



(Tá porco e feito em cinco minutos mesmo. Aqui é um blog, não um deviant.art.)

mercoledì, maggio 04, 2005

Epitáfio

Escrevi convidado (por Lima) a publicar um texto nesse blog que infelizmente agora fecha as portas. Bom, olhem lá, leiam as contribuições de outras pessoas, e tenham opiniões.

Eu as vezes acho que estou me repetindo, as vezes que é só o meu estilo a se definir. Mas no fundo é tudo a mesma coisa.

(obs: enquanto eu fazia esse post, acabei sem querer achando essa maravilha aqui.)

domenica, maggio 01, 2005

O que você quer ser quando crescer?

Eu quero usar tênis. E poder ter um corte cabelo divertido, fazer piada e sair de fim de semana a noite sem ser para ir num lugar "sossegado". O mais importante é toda noite poder pensar no que eu vou fazer amanhã, sem que isso seja uma coisa óbvia e pronta. Sem que envolva bater cartão em algum lugar. A segunda coisa mais importante é que tenha mais gente fazendo isso comigo. E hoje eu trabalhei no cinema.
Falando desse jeito brega e prepotente mesmo, chamando as coisas de cinema, porque no fim, o resto também é - já que cinema é movimento, e um montão de coisas legais se mexem. Então, seja isso um dia televisão, um dia rádio, um dia, quem sabe (após os traumas) teatro... é um lugar. Um lugar onde eu posso, em determinado momento, ser gente grande, sem que isso signifique ser infeliz, entediado, conformado ou monótono. Sem que isso me obrigue a fazer o que eu não gosto a maior parte do tempo e não saiba mais perder a noção e me divertir.
As pessoas lá são todas incrivelmente novas, até o momento em que você descobre a idade delas. Nenhum Peter Pan, não. Mas é possível sim ter trinta e poucos anos e ser realmente alguém da balada - independente e da balada. Independente, competente, com crianças geniais, da balada, e feliz.
E felicidade é brega, mas de importância primária nessa vida.

mercoledì, aprile 27, 2005

ATENÇÃO - esse post desobedece a regra do banho! (e é ficção)

"Eu tive um sonho erótico com meu fisioterapeuta. Você não imagina o que ele fez para deixar a minha coluna ereta."

martedì, aprile 19, 2005

Constatação pedante sobre os olhos

Eu achava que a coisa mais bonita que poderia haver em olhos era a denotação de bondade. A cor amendoada que tem os olhos de gente simples, o brilho infantil da ingenuidade, os globos arredondados que nunca mentem. Mas outro dia descobri um par de olhos mais bonito. Estreitos que podiam cortar tudo que viam como uma faca. Tão fechados, na verdade, que era impossível ve-los sem ser visto. A cor era verde, ou azul, quase invisível, de tão clara e pequena. Tudo nesses olhos é ambíguo e de pouquíssima confiança. A coisa mais bela que já percebi em olhos foi, sem dúvida, a maldade.

lunedì, aprile 11, 2005

The fear of being eaten by a sandwich*

Uma vez eu estava lendo Paul Auster. O personagem estava fazendo faculdade e morava num apartamento onde só tinham caixas e mais caixas de livros; quando ele ficava sem dinheiro, vendia alguns num sebo. A faculdade acabou, e os livros também; ele ficou um tempo sozinho no apartamento, sem nada, morrendo. Depois ele foi mendigar no central park e acabou trabalhando pra um velho cego e mutilado que começou a contar sobre sua comunhão com a natureza ermitando no deserto e eu mandei o livro tomar no cu, onde ele merecia. Mas aquela primeira metade descreve exatamente, com precisão, o agora, o que eu sou. Parece mais triste do que eu devia ser; seria mesmo, se fosse triste. Soube que a minha empregada comentou outro dia que eu não estou nem aí pra vida. Ela disse isso no bom sentido de um jeito gostoso. Sobre como eu gosto de ficar assistindo tevê e cantarolando baixinho (porque eu não vou obrigar ninguém a ouvir meu desafinamento o tempo todo). Então, basicamente, enquanto eu não tiver nenhuma idéia muito melhor, eu vou passar um tempinho aqui, morrendo. E cantando baixinho.

(*Promentalshitbackwashpsychosis Enema Squad)


In Vitro

"Depois", ele disse, "você pode descer ao laboratório e conhecer minhas opiniões". A jovem achou aquilo uma graça e aceitou o convite para jantar na casa do professor, mesmo sendo esperta o suficiente para traduzir os olhares dele. Quando ela elogiou o risoto, ele gentilmente fechou a mão em torno do hálito que saia da boca dela e formou com carinho uma bolinha, como se faz com brigadeiro. "Eis a primeira opinião que você me dá. Podemos descer agora para colocar ela na colônia, e você vai ver como todas as minhas opiniões estão indo." O laboratório era particularmente escuro para um lugar de observação, mas o professor explicou que algumas opiniões preferiam justamente a ambiguidade das sombras. Abriu uma grande cortina vermelha de veludo, e por trás dela se revelou uma imensa caixa de vidro, com tubos, andares, escadas, rampas e rodas de exercícios por onde dezenas de opiniões se agitavam freneticamente. Pôs Estava-uma-delícia, que agora era já uma bolinha rosa bem felpuda para convivar com seus pares, por uma portinhola na parte mais baixa da gaiola. Rapidamente, uma imensa bola negra, lisa e rija rolou para cima da jovem opinião, que tremeu apavorada. Sua doadora sentiu sua dor, mas apenas observou. Uma opinião achatada e cor de creme pareceu sair do nada e ficou entre David e Golias. Parecia muito importante, pois a outra parou na hora. O professor explicou que eram Não-gosto-de-gente-estranha e A-paz-é-o-melhor-caminho, e que elas faziam essa cena o tempo todo. Depois apontou outras de suas favoritas naquele nível: Prefiro-o-inverno era uma criatura prismóide azul tão clara que parecia branco; Odeio-pagode e Adoro-pagode eram mais parecidas do que queriam aceitar e PauloCoelho-é-um-charlatão era apenas um pontinho minúsculo, mas corria com mais energia do que qualquer opinião jovem e forte.
"Convém notar que esse ambiente pacífico existe porque só mantenho juntas opiniões amenas. No começo, guardavamos todas numa mesma gaiola e tudo parecia bem. Até que elas começaram a formar grupos. As liberais contra as conservadoras primeiro, as libertárias contra as liberais depois, e só Deus sabe que mais teríamos se as deixassemos lá por mais tempo! As opiniões radicais ficam em gaiolas ao fundo. Sim, podemos observá-las agora mesmo! Note também que olhamos apenas opiniões jovens de espírito. Embora não seja possível estabelecer uma expectativa de vida para cada opinião, parece haver uma estreita conexão entre esses espécimes e os eventos ocorridos na vida de seus 'pais' ideológicos. Olhe por exemplo aquela ali - apontou para uma opinião oval, metade preta e metade branca, toda enrugada e cabisbaixa, cheia de teias de aranha - Sexo-por-prazer-é-pecado me foi dada por um jovem do grupo religioso da universidade. Veja como ela esta quase morta, já. Soube, dois dias depois de ela começar a definhar, que uma nova garota no grupo, de roupas relativamente ousadas e atitude condescendente arrancou suspiros do rapaz. Já vai tarde, odiava essa aí!"
A estudante chama a atenção para outro vidro, Onde uma opinião perfeitamente redonda e azul reside num leito médico, embrulhada num cobertor e cheia de controladores de umidade e temperatura. Não-à-guerra parece estar muito doente, e o professor tem feito o possível para evitar que ela sucumba, mas canja de galinha não cura opiniões, nem dos males mais simples. Dois metros mais para lá, Supremacia-do-ocidente! tem mais um espasmo enfurecido. Parece uma estrela do mar listrada de azul, vermelho e branco, e investe contra as paredes de vidro com fúria: é uma das mais perigosas e frequentemente tem de ser sedada. O anestéstico foi aplicado a pouco, logo fará efeito, não há com o que se preocupar, por enquanto.
Ele, orgulhoso descreve centenas de opiniões e fala das possibilidades imensas que a pesquisa sobre elas traz no mercado e na academia. Elogia diversas vezes o interesse e capacidade de sua acompanhante em acompanhar a experiência, e sugere que ela entre para sua equipe. Depois, sobem ao quarto para ler um livro. Não é preciso nenhuma investigação acadêmica para concluir que o professor atingiu seu objetivo pessoal nessa experiência. Quando ela vai fumar um cigarro, o velho corpo do homem já se rendeu ao esforço e adormece ao seu lado. Curiosa, ela tenta segurar o hálito dele enquanto ronca, e dá forma ao punhado de ar vivo que sente em suas mãos. Súbito que sobe por seus dedos uma nova opiniãozinha, amarelada e feminina, com silhueta invejável. A pequena criatura escala o braço, fazendo cócegas, chega ao ombro, pinica para superar o pescoço e finalmente se dependura na orelha direita. Entrando lá, se desfaz em um sopro que parece a voz dele. Essa-ninfeta-vadia-dá-pra-quem-se-exibe. A "ninfeta vadia" fica enfurecida. Se veste rapidamente, pega todo o dinheiro que ele tinha na carteira e sai na rua em busca de um taxi.
Na manhã seguinte, procurando por algum bilhete ou sinal de consideração de sua amante, o professor é mordido por uma opinião cinzenta, comprida e dentuça. Coloca-a nas gaiolas com certo contentamento. Perdeu uma amante, mas ganhou um belíssimo exemplar de Homem-não-presta.

martedì, aprile 05, 2005

domenica, marzo 27, 2005

Não importa que não tenha ninguém na rua e que os carros e ônibus não circulem. A cidade pode estar toda parada, os bares não funcionarem, e cada porta e janela fechada, com o mundinho que há dentro delas totalmente apagado de mim. Hoje sou só eu e a noite e fico muito bem assim. O gosto do vento e da umidade, a companhia que as sombras me fazem. Como amigos numa música brega, eu e a lua trocamos as mais estúpidas confissões, com risadinhas e vergonha. O sereno me massageia, me promete o conforto de um colo gélido; e os edifícios, abandonados, uivam com o vento uma canção que é só para mim. Porque a noite são meus novos melhores amigos, e embora eu vá precisar dos velhos de dia (e mesmo nas outras noites que não serão essa), até as seis e quinze tenho tudo o que preciso.

lunedì, marzo 14, 2005

Realidade e ficção. Desconexos ainda é a palavra.

Os comentários mais antigos desse blog serão mantidos reféns a não ser que eu "doe" um resgate de 12 doláres. Ou seja, nós nunca mais os veremos. Acho que vou mudar pra Rate your music assim que eu tiver paciência de mexer nisso.
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Maybe you are Juliet, but I'm not Romeo
(Isso é de uma música de uma banda de um cara que é um diretor de cinema famoso cujo nome eu esqueci e é da Iugoslávia. E tem a ver com uma coisa nada a ver que eu pensei hoje. Mas é um puta verso em si.)
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A minha espetacular irmã comprou o DVD de The End of Evangelion e Evangelion: Death and Rebirth. Eu estou me divertindo bem mais que ela.
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Desconexão é usar todos os shifts+número para separar idéias.
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Uma senhorita romântica do fim do século dezenove. Vestido de renda branca, sombrinha combinando. Ela senta na praça todos os dias as cinco e meia da tarde, fora Domingo, que é muito cheia. O rapaz de boa família e futuro promissor sempre passa na frente daquele banco as quinze para as seis, então é o horário perfeito para parecer que é natural que ela esteja ali. As segundas, ela segura aberto em frente a si um livro diferente a cada semana. São sempre grossos, várias vezes em línguas estrangeiras bem difíceis. Já as terças, ela faz uns bordadinhos bem coloridos e bonitos, com agilidade para mostrar que é prendada. Quarta-feira é dia de levar os primos mais novos para reunir os amigos em frente a ela; que com carinho e serenidade se revela capaz de disciplinar um pequeno bando de crianças das mais difíceis. Mas ele ainda não olhou para ela com tudo isso.
Toda quinta-feira ela está com o seu cachorrinho, o mais bonito, obediente e saudável da cidade. Ele é afetuoso e esperto, e se porta como o cachorro de uma senhorita boa para se casar. Sexta, quando o pecado da vaidade é menos pecado do que antes, ela põe suas jóias caras, daquelas que brilham como só quem tem um bom dote consegue usar. No sétimo dia, que Deus descansa, ela põe outro vestido, parecido, mas cruel. Mais curto. E cavado. E a renda é tão fina, por causa do calor que faz aqui, que as vezes, na luz, até se vê os braços. E o rapaz nunca olha para ela.
Então, nos domingos, ela entra na igreja, e o vê cada vez falando com uma donzela diferente. E elas dão risadinhas e ele faz as gentilezas para elas, mas nunca duas vezes com a mesma. E nunca com ela. São umas tontas, todas as que ele flerta. Se fosse com ela, não deixaria escapar. Depois ela se confessa com o padre, quando todo mundo vai embora. Fala das mentiras que fez de si mesma, de como se exibiu e foi vaidosa. O padre sempre perdoa rápido, cobra poucas rezas, porque Deus é piedoso com quem peca por amor. Antes essa dedicação a um, ele diz, do que virar uma cocota que se engraça com todos.
Já nas noites de domingo, e isso nunca contou ao padre, ela se esquece do rapaz indo para um lugar bem longe na cidade enquanto devia estar dormindo, bebe e dança, e ama homens de verdae que, só por algumas horas, uma vez por semanas, a fazem esquecer do rapaz menos atento que anda pela cidade. Só para depois poder amá-lo mais.
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O mundo acabou faz uns cinco anos. Ou foram minutos? Não faz muita diferença, já que não existem mais coisas para o tempo passar. Eu sinto que vejo em pontos diferentes do passado várias das coisas que não aconteceram, e elas vem toda na ordem errada. Por isso, reordeno-as ao meu sabor, nos meus diários como se fossem registros históricos. Porque meus sonhos formam uma pequena parte do que chamamos de realidade, mas uma enorme naquilo que restou.

martedì, marzo 08, 2005

Olha o que eu recebo...

O QUE AS ESCOLAS E MUITOS PAIS NÃO ENSINAM SOBRE A VIDA*
Bill Gates
Er, as pessoas que espalham esse lixo juram que é dele. Bom, é COMPATÍVEL

Para qualquer pessoa, com filhos de qualquer idade, ou qualquer pessoa que já foi criança, aqui estão alguns conselhos que Bill Gates recentemente deu em uma conferência numa escola secundária sobre coisas que os estudantes não aprendem na escola e nem em casa, pois eles uma visão irreal sobre a vida. Ele fala sobre como a política do "bem estar ou sentir-se bem" tem criado uma geração de crianças e jovens sem o real conceito da realidade e como esta política tem levado as pessoas a falharem em suas vidas posteriores à escola.
Bom, eu tenho certeza que um sujeito que calcula sua renda mensal em bilhões entende MUITO BEM sobre a vida real das pessoas. Certeza ABSOLUTA.

Regra 1: A vida não é fácil, acostume-se com isso.
Uhu! Só mesmo o gênio que inventou o windows pra me dizer isso...

Regra 2: O mundo não está preocupado com a sua auto-estima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil ANTES de você sentir-se bem com você mesmo.
Sinto muito, mas por onde eu vejo, é a minha auto-estima que não está preocupada com o mundo. É por isso que ela se chama auto-estima, sabe?

Regra 3: Você não ganhará R$ 10.000 por mês assim que sair da escola.
Faço valer o meu comentário a respeito da regra um. E acrescento: é realmente gratificante notar que o homem mais rico do mundo se importa em saber quanto vale aproximadamente nossa moeda e quais são os salários normais por aqui.
Você não será vice-presidente de uma empresa com carro e telefone à disposição antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone.

Regra 4: Se você acha seu professor rude e chato, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você em nenhuma circunstância. Você será cobrado o tempo todo.
Acrescente o fato de que eu achei vários deles incompetentes e aparvalhados. O que vale para os meus futuros chefes. Mas, eles não vão ter pena de mim nem se eu fizer aquela cara de cachorrinho pidão?

Regra 5: Fritar hambúrgueres, cortar grama ou lavar carros não está abaixo da sua posição social. Seus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam de "oportunidade".
Meus avós tem palavras diferentes pra várias coisas. Eles chamam sinuca de snooker, genocídio medieval de guerra santa, Mussollinni de Il Dulce** e assim por diante.

Regra 6: Se você fracassar, não é culpa de seus pais, NECESSARIAMENTE.
Então não lamente seus erros, aprenda com eles.
Caro Senhor Gates: para quem você disse isso pela primeira vez? Para os códigos de programação do windows? Quer dizer que não é culpa sua que ele dê pau? Quem sabe se ele tivesse fritado uns hambúrgueres na adolescência...

Regra 7: Antes de você nascer seus pais não eram tão chatos como são agora. Eles só ficaram assim por ter que pagar as suas contas, levar você à escola, lavar suas roupas, fazer comida para você e ter que ouvir você falar o quanto você é legal e eles são chatos. Então, antes de salvar o planeta para a próxima geração, querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente limpar seu próprio quarto, lavar seus talheres e ser mais amável com sua mãe.
Conheço um monte de gente que paga as próprias contas, cuida de uma casa e de outras pessoas e não ficou nem um pouco chata. E juro que lutar por igualdade social, fim de guerras e tiranias e preservação dos recursos naturais pode ser mais importante do que dar beijinhos de boa noite. (Mas eu dou do mesmo jeito.)

Regra 8: Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e os perdedores por imposição da Associação de Pais, Alunos e Mestres, mas a vida não é assim, ela sempre fará esta distinção. Em algumas escolas não se repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar.
Qualquer dúvida, pergunte aos generais do presidente Bush. Eles vão explicar mil coisas sobre como os coreanos, palestinos, iraquianos e outras dessas etnias estranhas são naturalmente perdedoras e responsáveis pela própria extinção.
Alguns pais não corrigem seus filhos, não os responsabilizam, fazendo-os arcar com as conseqüências de suas atitudes. Isto não se parece absolutamente em nada com a vida real.
Na vida real, você bombardeia a torto e a direito e é reeleito. Os pais insistem em ralhar com os filhos quando eles exibem comportamento violento. Fico com os pais irreais. Que sabem que filhos não são erros de ortografia para serem corrigidos.

Regra 9: A vida não é dividida em semestres. Você não terá sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período.
Obviamente ele nunca morou num lugar que comemorasse o carnaval. Ou Corpus Christi.

Regra 10: Novelas e Televisão não são exemplos de vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou o clube e ir trabalhar.
Preciso apresentar alguns amigos meus pra ele, anda vendo telejornal demais...

Regra 11: Você pode ser um ótimo aluno, porém se não acordar cedo para a vida, verá que existem ótimos alunos hoje correndo atrás de caminhão de lixo (gari). Nem sempre ótimos alunos buscam ótimas oportunidades... E tem pais que não enxergam isso... e se enganam a vida toda ...
Olha, meu filho, tem tanta coisa que pais não enxergam... é quase que inerente ao cargo. De fato, é uma perda para o mundo que VOCÊ não esteja atrás de um caminhão hoje. A propósito, isso seria mais ou menos digno da posição social de Mr. Gates do que fritar um hambúrguer?

Obs: Se você não tem filhos ainda, guarde isso para que eles possam ler um dia.
Claro! Afinal, eles também precisam rir!


*Pois não é uma pérola? Acho que nem meus amigos mais devotados ao trabalho conseguem tolerar todos os absurdos contidos nesse tosco tratado de ideologia presbiteriana-capitalista. Talvez não seja divertido ler tudo isso seguido dos meus comentários não tão originais. Mas menos divertido ainda é perceber que esse cara é levado a sério.
**É uma hipérbole. Meus avôs são, apesar de tudo, pessoas muito amáveis e desafetas de violência e autoritarismo. Não a ponto de mudarem de opinião sobre as cruzadas ou se libertar da ideologia racista, mas, bem, eles não vão durar tanto assim pra isso ser um problema real.

sabato, marzo 05, 2005

Movimentos criativos para mudar o mundo

Movimento libertário dos almofadinhas
Partido revolucionário composto de pessoas com muita cara de ricas e certinhas, com cabelos e barbas bem cortados e visual ajeitadinho. Contribui para manifestações ficando entre o resto dos ativistas e a polícia, uma vez que batem menos nessas pessoas. Quando o aparelho repressor desencanar e começar a descer o cacete em Almofadinhas do mesmo jeito, o movimento planeja realizar pequenos sequestros que levem almofadinhas não engajados para serem confundidos com os membros do partido e apanharem junto.

Straight to Hell
Organização religiosa pentecostal, centrada no meio-oeste dos estados unidos, que prega que a heterossexualidade está proibida na bíblia e que todos os não-sodomitas devem se arrepender e ser tratados em campos especiais para curar esse desvio. Entre outras coisas, pretendem abolir totalmente a instituição do casamento.

Grupo sedentário pela transformação urbana
Inimigos principalmente dos Shoppings Centers e parques temáticos, eles pretendem inviabilizar o funcionamento de centros de lazer altamente mercadológicos. Suas táticas, criativas e radicais, envolvem geralmente convocar imensas multidões para sentar na frente de tais centros, de maneira a inviabilizar a entrada e de criar uma imagem de tédio sobre o alvo. Também destroem quadras e pistas de exercícios, como forma de protestar contra a ideologia capitalista do esporte e da perfeição corporal. Infelizmente, o grupo faz isso muito raramente pois seus mebros não curtem ficar saindo assim o tempo todo.

Mulheres Furiosas pela libertação caótica
O movimento mais radical até hoje, promove uma espécie distorcida de terrorismo poético. Suas fileiras são compostas de garotas pacatas e bonitinhas, com cara de inofensivas, que de tempos em tempos cometem atos de violência extrema, como descarregar metralhadoras em multidões e explodir casas noturnas lotadas.

mercoledì, marzo 02, 2005

"Porém duma feita quando embrulhava os pães na carrocinha percebeu Rosa que voltava da venda. Esperou muito naturalmente, não era nenhum mal-criado não. O sol dava de chapa no corpo que vinha vindo. Foi então que João pôs reparo na mudança da Rosa. Estava outra. Inteiramente mulher com pernas bem delineadas e dois seios agudos se contando na lisura da blusa que nem rubi de anel dentro da blusa. Isto é... João não viu nada disso, estou fantasiando a história. Depois do século dezenove os contadores parece que se sentem na obrigação de esmiuçar com sem-vergonhices essas coisas. Nem aquela côr de maçã camoesa amorenada limpa... Nem aquêles olhos de explendor solar... João reparou apenas que tinha um mal estar por dentro e concluiu que o mal-estar vinha da Rosa. Era a Rosa que estava dando aquilo nêle, não tem dúvida. Alastrou um riso perdido na cara. Foi-se embora tonto sem nem falar bom dia direito. Mas daí em diante não jogou mais os pães no passeio. Esperava que a Rosa viesse buscá-los na mão dêle."

De "O Besouro e a Rosa", in "os contos de belazarte", de Mário de Andrade.

Sei lá, queria citar, citei.

mercoledì, febbraio 23, 2005

Uma breve história verídica

(aproveitem, que isso é raro por aqui)

O Alê é um sujeito contemporâneo.
Não conheço, nunca falei com ele, nunca vi mais gordo, nem mesmo no orkut.
Segundo o icq dele (uin:100159153), ele se chama Alexandre Ferreira, tem 29 anos - imagino que seja uma idade particularmente difícil, os 30 anos são um limite até segundo o que o Marlito disse que o Sartre (é assim?) escreveu. Mora aqui em São Paulo, é taurino, gosta de linguagens de programação, jogar futebol, viajar tanto para o litoral quanto para o interior e parece ser espírita.
O cara é provido de certa cultura, tendo em vista que sua página é essa aqui, com citação a Pompeu e tudo o mais.
E agora pouco, numa madrugada de terça para quarta, Ale (Alexandre no icq) decidiu ligar seu computador, procurar um sujeito completamente desconhecido - eu - e iniciar uma agradável conversa com a simpática e esperada frase: (ipsis literis)

vc curte at ou pass?

Só isso. Sem nenhum "oi"; "te vi no orkut"; "você vem sempre aqui?"; "tudo bem?"; "que balada você gosta? frequenta a loca, ou o wings?"; "posso te pagar um drinque?"; "ei, gatinho, você é entendido?". Nada. Se eu fosse uma garotinha oprimida, me sentiria um pedaço de carne exposto num açougue online. Ou se eu fosse uma vadiazinha oprimida, ia me achar gostosa pra caralho. Eu sendo eu, só fico feliz por não ter desistido nem do icq e nem do blog.




Nota do tradutor: embora não haja denotação específica para as expressões at e pass, o uso das duas concomitantemente numa conversa com desconhecidos no icq leva a elaborar a teoria de que se refiram a ativo e passivo, respectivamente.

martedì, febbraio 15, 2005

boom boom in the zoom zoom room

(O título é uma mentira. É só um nome engraçado de uma música que é uma belezinha... meio jazz sexy de cabaret depois da new wave. Tentem ouvir por aí. o título verdadeiro se encontra aí em baixo, em negrito. E por meio brega, entendam totalmente. E foda-se o excesso de metáforas fechadas, eu quiz.)

The Summer of Love ou Vontade meio brega de entender um pouco esse mundo assustador

E ficamos sabendo que cerca de metade de nós tinha de morrer em breve; não importava quem, contanto que estivessem mortos. Portanto nos coube decidir. Subimos, então, ao alto da torre mais alta, no topo do mundo, onde pudemos ver todas as coisas bonitas que há. Demos as mãos em roda, e embalados pelo ritmo frenético dessa beleza excessiva, começamos a dançar. A dança durou por um mês ou dois, mas o tempo objetivo diz que foi uma eternidade, uma vez que absortos no ritmo, perdemos qualquer contato com nossas memórias, com a realidade. Depois de uma aceleração infinita, eis que metade do grupo foi atirado da roda, com força tão grande que quebrou as grades da torre. Todos aqueles que foram arremessados caíram no mundo lá em baixo e a lei da gravidade os fez ser destruídos pelo próprio peso. Foi um choque. Ninguém esperava isso, porque os outros perderam a memória. Eu revelei as que guardei, de quando planejamos nosso sacrifício, e me chamaram de assassino. Estão furiosos. E nem podem ver os fantasmas de nossos amigos que se elevam mais rápidos do que cairam, para o alto acima da torre, ver mais do que vimos. Porque a eles está reservado também o prazer da beleza que não há.

venerdì, febbraio 11, 2005

Me Alimenta

Me alimenta. Que eu tô com fome. Tenta me entorpecer, porque eu estou sóbrio; e se eu não ver a terra girar, acho que nunca vou conseguir me mexer sozinho. Talvez me bata, me machuque, para que eu fuja e descubra o mundo. Ou então me acolha, me deixe aninhar no seu colo até eu ficar mais forte, mesmo sabendo que já era a hora de estar pronto. Mas por favor me dê algo pra comer, que minha barriga ronca e eu já não posso mais. Estou aqui, faminto, morrendo, congelado no calor dessa cidade. Cidade fantasma de dez milhões de habitantes. Me alimenta.



Há, letra de música:
(quer dizer, só um refrão que no momento é o que importa e ninguém nunca lê inteiras mesmo)

So take me home, don’t leave me alone
I’m not that good, but I’m not that bad
No psycho killer, hooligan guerilla
I dream to riot, oh you should try it
I'll eat parole, get gold card soul
My joy of life is on a roll
And we’ll all be the same in the end
Cos then you’re on your own
Then you’re on your own

lunedì, gennaio 31, 2005

O que um trabalho digno e verdadeiro pode fazer com você.

O trabalho é um grande defensor, divulgador e promotor da mentira.

Trabalhar faz as pessoas mentirem compulsivamente, alegremente e descaradamente.

Muita gente nunca tinha mentido antes do primeiro expediente, e se viu surpresa ao fim do dia contabilizando as prórias lorotas, cascatas e inverdades.

Da mesma forma, ou até pior, profissionais liberais são criaturas totalmente incapazes de pronunciar uma verdade, a exceção dos advogados, que ainda sabem como fazê-lo, mas escolheram guardar esse último recurso para emergências.

Se nas drogas se inicia com o álcool e a maconha, as mentiras trabalhistas nascem do hábito quase natural de dizer "eu já estou terminando" sobre o que você nem começou, e com os impressionantes (e quase sempre estúpidos) "pode deixar que eu faço". Quando vê, o mentiroso já se inseriu num mar de falsidade, e anuncia disparates como "meu chefe é um grande amigo meu" ou "todo mundo no escritório é incompetente, eu levo tudo nas costas".

As mentiras do trabalhador vem em pares de oposição, portanto, se alguém te disser: " Isto é praticamente impossível", entenda que é algo fácil que ele não quer fazer bem feito; bem como "Isso é muito fácil" é uma vil tentativa de delegar uma tarefa absurda e inatingível. Caso similar é o dos mentirosos que convencem ao mundo e a si mesmos de que há uma proporção inversa entre a velocidade da sua produção e o bom acabamento dos resultados. A clássica disputa entre "Claro que os relatórios de fulano são impecáveis. Ele leva uma semana pra fazer!" e "Bom, se Beltrano te entrega sete planilhas por dia, certamente tem a ver com o fato de elas não virem organizadas em sub-pastas alfabéticas com perfume de morango." Mas aí já estamos falando de mentir para si mesmo e começando a ficar pentelhos.

Há também aqueles que já são profissionais da engação antes de terem uma profissão para enganar. Adúlteros que vão "ficar de plantão até tarde, querida.", veteranos sádicos que vão "contar as historinhas da firma pra você se familiarizar" e mitomaníacos ricos que não precisam de um emprego mas não resistem às oportunidades.

E lembre-se, se você chegar completamente alcoolizado no serviço, significa que você está TRABALHANDO demais, e mal tem o tempo necessário de se recuperar.

giovedì, gennaio 27, 2005

Papai e a Pá

- Meu pai esconde cadáveres. Juro! Ué, você perguntou o que ele faz e eu respondi. Na outra escola não acreditaram também, sabia? Mas é verdade. Não sou louco não! Se você quiser, eu trago uma prova! Dããã, ele esconde porque não quer que as pessoas achem, oras. Por que a sua mãe esconde os biscoitos? Viu? Hmn, sei lá, acho que da polícia... meu pai fica nervoso sempre que tem polícia por perto, então acho que ela não pode achar os presuntos. Não, meu pai não esconde carne de porco! "Presunto" é o jeito que o chefe dele chama gente morta. Minha mãe que me ensinou a chamar de cadáver. Ela acha mais poético e instrutivo.
"Uma vez o chefe chegou correndo lá em casa, suado, no meio da noite. Gritou até o meu pai sair. Eles estavam tão assustados olhando pra própria sombra que nem perceberam que eu entrei no carro e fui com os dois. O seu Astozzi, que é o nome engraçado do chefe, falou que tinha matado um cafetão por acidente, que ele tava muito chapado, o pó, sabe como é? A minha mãe também diz que quer matar alguém quando vai tirar o pó das coisas, mas acho que não é do mesmo tipo... A gente chegou no lugar onde o tal do cafetão tinha morrido, e eu fiquei um pouco triste, porque eu perguntei pro meu pai se ele era um cafetão, cadê todo o café, que eu queria um pouco porque tava com muito sono, e ele riu e foi explicar que cafetão não queria dizer isso, daí percebeu que eu tava lá e deu um berrão enorme comigo que eu caí no chão e comecei a chorar. Meu pai pediu desculpas, fez um cafuné, e pediu pra eu fazer segredo, por isso que não é pra contar pra ninguém da outra sala, tá bom?"
"Aí ele levantou e eles começaram a conversar, eu só olhando. Meu pai avisou que o serviço era muito em cima da hora e que o sujeito era tão gordo que ele ia ter que cobrar o dobro, mas o homem falou alguma coisa de família e então o papai só cobrou cinquenta porcento a mais. Pegou um dos enormes plasticões pretos que ele guarda no porta malas do carro, estendeu do lado do presunto e pediu pro Astozzi ajudar a enrolar aquele monte de banha; depois, cortou uns pedaçoes bem grandes de corda com o canivete suíço e amarrou bem apertado, pra não desfazer o embrulho. Na hora de colocar dentro do carro, eles quase quebraram a coluna. O corpo era tão grande que não coube direito, e meu pai teve que pegar um bastão de metal e ficar batendo e entuchando até dar pra fechar. Ficou tudo manchado de sangue, e meio fedido, minha mãe ficou uma fera. Aí a gente foi prum aterro sanitário, onde tinha menos sangue, mas fede bem mais. Meu pai pegou uma pá e começou a cavar uma cova. Eu peguei o canivete e cortei um dedinho em segredo, pra guardar de recordação. É verdade, juro! Quer ver? Tá aqui no meu bolso... ei, volta aqui, espera! Droga, odeio almoçar sozinho!"

mercoledì, gennaio 19, 2005

Está acabando, e por isso mesmo parece melhor do que de fato é.
Mas, ainda que talvez não seja tão bom, não quero que acabe.
Absolutamente nada é absoluto, muito menos a terra do nunca, e portanto não há muito o que fazer. Espero que isso seja apenas uma casaca de ovo a se quebrar por dentro. Se nada dura para sempre, as angústias também passarão.

giovedì, gennaio 13, 2005

Ok, computer.

Meu computador cometeu suicídio. Estou com saudades (e sem postar).

Mas um HD pode ter uma sobrevida graças a criogênia, e isso é algo que me agrada saber.

Mas, para se saber: Guerra é guerra! Só que, depois da convenção de Genebra, isso ficou cada vez mais non-sense!

Uma balada Dândi ou um Sarau Beatnick? O que você prefere?

E se tudo der certo, esse vai ser o primeiro blog com gerador de caractéres, e isso é muito legal. Quando eu voltar a ser um interneteiro.

domenica, gennaio 02, 2005

Eu estou em síndrome de abstinência de gente.

Feliz 2005. Começou bem.