domenica, dicembre 24, 2006

Auto-estima carente:

Às vezes, quando estou sozinho, percebo que sou legal demais para não compartilhar isso com alguém.

martedì, dicembre 12, 2006

Hormônios

Quando eles estão acostumados com a idéia de serem bem utilizados e de repente não mais o são, fazem uma festa. Não consigo pensar ser humano (e alguns nãos humanos) com o qual eu não tenha tido um sonho erótico essa noite. Tá, a maioria das pessoas não participava do ato propriamente dito, mas minha vida inteira fez-se fetiche.

venerdì, dicembre 08, 2006

Macaco quer banana.

Reclama-se da banalização do ódio. Reclama-se da banalização do amor.
Pois eu reclamo da banalização do conceito de banalização, e tenho dito!

giovedì, dicembre 07, 2006

Átona Tônica Átona Átona Tônica (átona átona)

Eu estava lá, e disse. Que não, que não, que não. Subi no ponto mais alto, empostei a minha voz o mais que pude, gritei depois pra me fazer mais claro. Com as mãos em concha na frente da boca,para jogar o som ainda mais longe. Que não, que não, que não!
Mas todo mundo saiu de lá achando que sim.

mercoledì, dicembre 06, 2006

Bomb the Rocks! e outras histórias.

A vontade de viver cresce e cresce muito quando você troca suas caixinhas de som por caixas de som com equalização própria. Você toma banho ouvindo roquenrou no último volume e pulando que nem um retardado, não fica devendo pra nenhum Singing in the Rain.

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"Pessoas que transam precisam de pós pago"

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Quando não há amor platônico e nem amor de pica, o que pode-se cultivar de sentimento saudável?

domenica, dicembre 03, 2006

Won't help at all to worry about it

(eba, letra de música! mas contém historinha, dá pra ler sem se irritar.)

Readin' my paper in Roy's cafe
The ol' guy next to me is loud as day
Rambled and rambled while eatin' his pie
He dropped his wallet, now its mine uh huh

Sorry old man but that's jus' the way that it is
Don't bother none
Won't help at all to worry 'bout it

Picked up the wallet and slipped out side
Walked around and walked around and walked around town
I found my nerve and a good place to hide
Only to find no cash inside uh-huh

Oh well I guess that's just the way that it is
Don't bother none
Won't help at all to worry 'bout it

I got thirsty so I went to a bar
Met a lil darlin' with the face of a star
In the mornin' woke up to find
She stole my car along with my heart uh-huh

Oh well I guess that's jus' the way that it is
Don't bother none
Won't help at all to worry 'bout it

Wish she'd give me back my heart uh-huh

Oh, well I guess that's jus' the way that it is
Don't bother none
Won't help at all to worry 'bout it

giovedì, novembre 30, 2006

CDA

A quem interessar possa, avisamos que o vôo do senhor J. Pinto Fernandes está marcado para o dia 10 de dezembro. Boas festas.

lunedì, novembre 27, 2006

martedì, novembre 21, 2006

Ouçam o Croissant

Do UOL:


"Segundo Croissant, 'a causa principal da violência política não é, portanto, o fundamentalismo religioso, mas a pobreza, a segregação étnica, a fraqueza de um Estado, assim como a intervenção externa'".

Tá, é tudo batido, mas eu acho que vivemos numa época em que é preciso martelar constantemente que nenhum conflito será resolvido com a inclusão de mais participantes, e que o oposto de monopólio da violência é a ausência dela, não a sua democratização.

Então martelei, porque blog pode pagar de útil de vez em quando.

martedì, novembre 14, 2006

Enquanto isso, do lado de cá do Espelho...

"- Em nossa terra - explicou Alice, ainda arfando um pouco - geralmente se chega noutro lugar quando se corre muito depressa e durante muito tempo, como fizemos agora.
- Que terra mais vagarosa! - comentou a Rainha. - Pois bem, aqui, veja, tem que se correr o mais depressa que se puder, quando se quer ficar no mesmo lugar. Se você quiser ir a um lugar diferente, tem de correr pelo menos duas vezes mais rápido do que agora."

giovedì, novembre 09, 2006

Atenção, mundo.

Eu não posso mais comer chocolate. Então, trate de não me aprontar NENHUMA nos próximos três meses. NENHUMA.

martedì, novembre 07, 2006

Guichê 6

É essa burocracia de estar apaixonado que as vezes nos cansa um pouco; mas é fundamental para que o procedimento ocorra bem. Cada diálogo deve ser cuidadosamente reproduzido no nosso formulário padrão, e submetido a análise. Não se esqueça de declarar 'monogâmico' ou 'poligâmico' ao retirar seus documentos; é extremamente importante que os bancos de dados possam diferenciar as pessoas disponíveis das que não estão. Assim, quando pedidos como o seu forem enviados, a resposta acontecerá mais rapidamente, em alguns casos sem necessidade de resposta direta da pessoa desejada. Pedimos por favor que você e o alvo de seu interesse contenham a ansiedade e não marquem qualquer forma de encontro romântico ou estabeleçam um compromisso antes da correta avaliação do processo em todos os níveis hierárquicos; o deferimento de uma relação que já está acontecendo pode ser um evento extremamente traumático.

Todo o material requerido deve ser entregue em cinco vias, uma a ser direcionada a cada um dos órgãos competentes, a saber: coração, genitais, cérebro, pulmões e fígado. Parece trabalhoso, mas pense; uma vez aprovado o processo, você pode chamar aquela pessoa para um jantar a luz de velas e simplesmente declarar "amor, eu posso oficialmente gostar de você, e aqui estão os documentos para provar!". Sensual, não?

martedì, ottobre 31, 2006

No meu quarto você encontrará...

Muitas coisas que não me pertencem. E algumas que pertencem sim.

Um quadro com o vidro lascado, enchendo a tela de sujeira.

Uma capa de livro velha emoldurada.

Uma coleção de ímãs sobre bebida, e outra de ímãs bregas.

Uma foto da minha mãe no Madame Satã em 1982.

Uma Uma Thurman de papelão vigiando a cabeceira da minha cama.

Dois tabuleiros de jogos com peças coladas neles, pregados na parede.

Um computador bem judiado.

Uma porta de pré-adolescente.

Espaço pra mais um.


[eu me estou me repetindo-me a mim mesmo de novo como eu me faço comigo sempre, talvez seja um problema de auto-afrimação]

domenica, ottobre 29, 2006

Da Folha Online

"O principal incidente da votação aconteceu em Pernambuco, onde um eleitor sofreu um infrato e morreu logo após votar em uma seção em Recife. O cabelereiro Eraldo Martins Chaves, de 69 anos, havia acabado de deixar a cabine de votação quando se sentiu mal e caiu. Apesar de ter sido socorrido rapidamente, ele não resistiu e faleceu."

Esse aí morreu de desgosto. E não é sem motivo, entendo-o perfeitamente bem. Meu estômago ficou um pouco embrulhado depois que eu ouvi o barulhinho da confirmação...

venerdì, ottobre 27, 2006

Assuntos

- Eu acho que conversa de puta no bar sempre é sobre pau pequeno.

- Lógico, é a piada do mundo do trabalho delas! É que nem atendente de vídeo locadora falando de clientes que alugam pornôs bizarros...

lunedì, ottobre 16, 2006

Que quero

Um gato cor-de-gato.
Um chapéu daqueles jibóia-que-engoliu-um-elefante.
Um cd de músicas para dançar sentado.
Uma cadeira que diga "não saia daqui".
Um corpinho de 20 e um outro de uns 23.

lunedì, ottobre 09, 2006

E de repente, eu me meto em uma batalha

[vá-árias questões de estilo por resolver ainda. só pus aqui para me obrigar a fazer algo a respeito]


A metralhadora que eu nunca tinha aprendido a usar e os músculos que eu não tinha, as habilidades que não desenvolvi e uma coragem que não fazia parte da minha personalidade. Todos fluíam artificialmente no meu sangue, naquele instante eu era capaz de tudo. Mantive Jeremias imobilizado ajoelhando-me sobre seu peito. Ergui a mesa como uma barricada contra todos aqueles homens do saco. Enquanto o jovem de bege começava a asfixiar sob meu peso, eu me agachava torcendo para não ser atingido pela saraivada que começava a vir em minha direção. Puxei a metralhadora e tentava de quando em quando erguer-me e contra-atacar, mas eram muito pequenos os intervalos de tempo que me permitiam fazer isso sem perder a cabeça. Eu atingi dois ou três homens do saco. Uma multidão deles ainda avançava inabalada contra mim.

Uma janela no alto, atrás deles, se estilhaça. Muitos param para olhar para traz. Um tiro distante mata o segurança que capturara a menina do palco. Ela está livre dos braços do brutamonte, mas não de seu próprio medo e fica ali, paralisada. Caem lá de fora duas bombas de fumaça no lugar, transformando tudo numa massa cinza cheia de vultos. Nessa oportunidade, usei Jeremias, já inconsciente, de isca: levantei-o por cima da barricada com o meu chapéu em sua cabeça. Funcionou, seus colegas dispararam contra ele, enquanto me posicionei para começar o fuzilamento. A metralhadora gritava com fúria, se mexia e atirava praticamente sozinha, e acertou muito mais Homens-do-Saco do que eu podia imaginar.

Da janela estilhaçada, por cima de mim. Alguma coisa passa voando até o palco. Pareceriam duas aves desajeitadas, se não fossem do tamanho de mulheres. Eu matei muitos homens do saco, o suficiente para cobrir uma fuga, mas ainda parecia haver o suficiente deles para me fazer pagar por isso.

A menina seria preocupação, mas quando a fumaça sobre o palco se dissipou, só restava lá o cadáver do segurança. Não vi mais nem a ela, nem às coisas voadoras misteriosas. Do outro lado do cabaret, algo, talvez uma caixa de força, explode e começa um incêncio. Agarrei Jeremias que ainda tem alguma vida e arrastei-o comigo para fora dali, usando seu corpo como escudo. Só quando sai daquele porão que me dei conta: estava em via pública arrastando um sujeito baleado que provavelmente morreria em segundos!

Os meus perseguidores se tornaram ocupados demais de sua tragédia, e, vendo-os derrotados, concluo que a polícia também não representará problemas. Arrastei meu prisioneiro para um beco uns três quarteirões à frente.

Longe do perigo, minha força começou a esmorecer. Larguei Jeremias no chão, e o puto conseguiu me olhar com um risinho de desprezo. Fico mais cinza do que jamais estive. Minha mão treme. Derrubo a metralhadora que não tenho mais forças para carregar. O filho da puta fala cuspindo um monte de sangue.
"Nós vamos morrer aqui. Os dois. Juntos".

Eu não aceito. Eu não vou morrer com esse otário. Ele tem uma coisa para devolver, e vai me dizer onde ela está! Eu o esbofetearia até obter respostas, mas não tenho força para sequer um tapa. Só quando meu estômago começa a se contorcer gélido, me lembro do presente dos macacos. Uma banana do cacho sobreviveu inteira ao tiroteio, e mordo-a com a última fagulha de energia que minhas mandíbulas ainda têm. Jeremias perde seu desprezo conforme eu começo a recobrar minha cor quando termino a última mordida. Não tenho a mesma pulsão quente que usei no conflito anterior, mas tenho força suficiente para fazê-lo falar.

Dois tapas e ele já está em tanta dor que diz tudo que ainda é capaz. Cada palavra vem temperada com o gosto de ferrugem do seu sangue. Não sinto nenhuma dó.
"Deve estar na triagem ainda... no fim do mês... combustível. Forno."
"Aonde, porra?! Aonde você guardou"
"Na triagem... prédio da corporação. Segundo andar."

Não sei onde é o prédio da corporação, e esse traste acabou de fazer o favor de morrer sem contar. O tal fim do mês é daqui a dois dias, e certamente isso não é tempo de investigar cada corporação na cidade até achar uma gosma vítrea metade azul e metade rosa.

Quero voltar para encontrar Caolho, está exatamente na hora. Talvez ele possa me ajudar mais. Só quando penso no motorista, minha obsessão se desfaz e me dou conta dos fatos. Uma organização misteriosa acaba de me mandar para um lugar perigoso, cheio de Homens-do-Saco armados, sem me dar nenhuma informação. O lugar vira palco de uma batalha feroz comigo no meio, enquanto duas coisas voadoras não identificadas realizam uma missão secreta que não faço idéia de qual seja. Percebi, agora, que fui usado de isca, e que talvez meus novos "aliados" não estejam tão interessados assim na preservação minha vida. O fato de caolho ainda não ter aparecido só agrava as suspeitas. Lá em baixo, os Homens-do-Saco parecem estar se desvencilhando da confusão.

Grande! Sem pistas, sem apoio e muito em breve cercado por uma organização criminosa de pedófilos maníacos com umas belas contas a acertar.

Até que nessa hora o medo de não resgatar meu órgão perdido a tempo não era tão grande assim.


[ah, sim, não entendeu lhufas? capítulos anteriores pra você!
O homem do saco (1)
Sobrevivência (2)
Capítulo três, ainda sem um título decente.
Uma vez em casa de macacos... (4)
De volta à Cidade verdadeira (5)]

sabato, ottobre 07, 2006

lunedì, ottobre 02, 2006

O Comediante

- A vida é uma grande piada para você, né?

- Não. A vida é uma grande piada para Deus ou quem quer que seja o filho da puta que escreve o destino de tudo. Eu sou só um bom personagem consciente do meu papel.

venerdì, settembre 29, 2006

lunedì, settembre 25, 2006

Vida vazia, blog cheio

Eu não quero nada. Portanto, eu quero tudo. Mas não adianta, porque assim, eu não vou conseguir qualquer coisa, e se conseguir, não vai me satisfazer, porque eu na verdade não queria. Não é complicado.


E essa história de ir procurar Lazlo Bane no soulseek me fez me sentir terrivelmente udigrúdi.
E eu achava que, porque a luzinha do iTunes sobre o equalizador tava acesa, ele já tava com os presets autoselecionados. Agora eu descobri que não, e coloquei o preset "small speakers" como o padrão - uma vez que minhas caixas de som são pequenas - o meu IDH pessoal quase que dobrou. E eu serei muito mais feliz.

"Olha, essa música TEM uma linha de baixo!"

giovedì, settembre 21, 2006

mercoledì, settembre 20, 2006

Mimimi, ninguém comenta o meu blog.

(mas não é sobre isso)

No meu enterro, só não digam que vivi. Isso é segredo.

Estou à procura de um barbear mais rente.

Nessas horas a gente entende o poder do efeito placebo da música e porque existe até uma banda boa com esse nome. O problema do efeito placebo, é que quando a gente entende ele, não existe mais. Como os elétrons e os sentimentos.

Badmouth strikes again e Running up that hill e esses covers todos.

Eu vou ali fora tomar chuva e ser terrivelmente miserável e já volto.

Se você tiver o barbear mais rente para me oferecer, por favor entre em contato.

lunedì, settembre 18, 2006

Irritações

...se você foi a um show para assitir o monitor da sua câmera digital ou pior, a telinha do seu celular, enquanto fotografa MAL os seus ídolos, devia pelo menos ter a gentileza de ficar no fundo e deixar quem quer de fato ver a banda e ouvir a música ir pra frente em paz.

...e se você me empurra pra fora do meu lugar bom para FICAR DE COSTAS PRO SHOW enquanto fotografa a própria fuça com uma das minhas bandas favoritas servindo de fundo, BOMBINHA EM BICO DE FOTOLOGER!

...mas, se um veterinário não castrar logo a gata aqui de casa, eu mesmo castro. Mesmo. Com uma faca de churrasco.

domenica, settembre 10, 2006

Eu posso falar de insegurança, que isso não importa.
Eu posso falar de pesos e responsabilidades, que isso não importa.
Eu posso falar de rejeição, que isso não importa.
Eu posso falar de infantilidade, que isso não importa.

Só importa se estamos vivos e qual é a chance de nos mantermos assim até o ano que vem.


O mundo está com cheiro de morte esses dias.

venerdì, settembre 08, 2006

Se uma pessoa chega aos noventa anos sorrindo e falando "quero fazer pelo menos cem!", já devia ser motivo o suficiente, não?

Mas não é.

martedì, agosto 29, 2006

interlúdio um

Eu tenho um conto gigante para terminar. Terminar a primeira versão, colocada aqui em capítulos, arrecadar críticas e refinar. Mas eu empaquei na cena de ação. É difícil pra caralho escrever cenas de ação. Poxa vida, MESMO, tá dureza.

Enquanto isso, eu roubo uma imagem e a inspiração que ela me trouxe do fotolog do Ber.
(www.fotolog.com/aw6)



Eu trabalhava aqui, sabe? Nos anos duros. Eu me esforçava. O que eu fazia aqui realmente podia melhorar a vida das pessoas. Era IMPORTANTE, saca? Do tipo de coisa que dá tesão fazer. Você devia ter visto. Eu trabalhava bastante. Eu via os sorrisos e trabalhava mais.

Deus, como fiquei feliz quando essa porra toda desabou.

lunedì, agosto 21, 2006

Então tá, tchau.

"Eu acho que o vovô está morrendo."

A minha família se esqueceu por uns dois dias de me contar da notícia. O velho está internado, entubado, com sonda, se alimentando por soro.
Nenhuma lágrima.

Em algum ponto da minha vida eu me importei mais com o meu avô do que com um estranho qualquer.

Eu me lembro de um dia pensar nele com carinho e amor. Eu era mais novo.

Hoje eu fiquei ali, debaixo da coberta, com minha mãe e minha irmã, pensando no meu avô. Não consegui lembrar de uma frase realmente bonita que tenha saído da boca dele. Nenhum momento de carinho genuíno. Não sei se suprimi alguma coisa nesse sentido, mas não encontrei em minha mente nenhum motivo para achar que o meu avô seja (tenha sido?) uma boa pessoa. Ainda assim, sei que um dia o amei.

O único avô de quem consigo me lembrar era o senhor resmungão, velho comerciante do interior. Era um homem sério, trabalhador, pequeno burguês, conservador, homofóbico e racista. Foi um dia firme e severo, mas já tem uma década que todos reagem aos seus bufos como aos suspiros de um homem gagá. Era patético, e, confesso, um pouco engraçado.

Criou os filhos para serem pessoas ainda piores do que ele. Um ou dois quase conseguiram escapar, não se saíram tão mal. Tem espíritos mais gentis, certamente. Pena que enlouqueceram no processo. Um desses é o meu pai. Eu dormi na casa dele sábado, ele acordou cedo para ir para Taquaritinga, e não me contou a que ia. Parece que ele sabia que eu ia reagir desse jeito.

Amor de família é uma bosta. Quer dizer, eu admiro a minha mãe enquanto ser humano. Eu prefiro a minha irmã a qualquer pessoa no mundo inteiro. Porque elas são boas pessoas. Porque elas merecem. Claro que, se eu não as conhecesse tão de perto, não vivesse com elas, provavelmente nunca ia saber. Mas se eu não conhecesse meu avô tão de perto, eu provavelmente não ia saber o quanto ele representa muito daquilo que desprezo.
Eu me lembro de um dia o ter amado.

Qualquer dia desses eu vou sumir e ir pro interior, pro enterro. Se eu chorar, o mais provável é que seja por minha vó. Ela é uma senhora preconceituosa, conservadora, ingênua. Ela é uma mãe italiana opressora que apazígua as chamas da família entupindo-as de creme. Mas nela, encontrei algo que admiro. Ela ficará sozinha. Ela não viverá mais muito tempo também, eu sei. Eu já senti a morte nela também. Os outros não. Muito preocupados com o patriarca. Ela está definhando. Viveu forte esses anos apenas para protegê-lo. A não ser que se liberte na ocasião do funeral, deve morrer nos próximos cinco anos, por simples falta do que fazer.

Talvez vendo o caixão ali daqui alguns dias eu ache tudo diferente. Mas na verdade, nesse momento, o que sei é que não me importo.
Mas quando criança, por algum motivo, eu o amava.

sabato, luglio 29, 2006

About who?

Alguém colocou isso no orkut e disse que é do Caio Fernando Abreu. Eu como um dos maiores leitores de citações a Caio Fernando Abreu na internet, achei bem compatível com o estilo do que já vi. Então deve ser do mesmo Caio que os outros trechos, seja esse o certo ou não.

"No Século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo, sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o eterno do perecível, loucos."

Alguém também falou que tem paixão pelo estar sozinho. Acho todas as pessoas que apreciam a solidão um bando de lunáticos. Eu passei a maior parte do dia hoje dormindo sozinho. Dormir sozinho até que é legal, quando se sonha que se está em qualquer companhia que se queira sem culpa. Estou acordado sozinho tem umas quatro horas. O dia lá fora frio e cinza, como deveria ser, e nem isso me alegra. A noite lá fora me espera com pessoas adoradas em duas horas, como deveria ser, mas isso também não me dá meio sorriso. Nenhuma ressaca, nenhum arrependimento da noite anterior, como deveria ser, mas isso, como o resto, não me satisfaz.
Nascer e morrer são as duas únicas coisas que me contento em fazer só.

sabato, luglio 22, 2006

O problema...

...da distância é que ela nos impede de chegar onde gostaríamos.
...da proximidade é que ela faz nossos espinhos se entrelaçarem.
...da beleza é que ela é muito facilmente quantificável.
...da feiura é que ela as vezes é imensurável.
...da putaria é que ela não satisfaz.
...da castidade é que ela não satisfaz.
...da companhia é que as pessoas são problemáticas.
...da solidão é que EU sou problemático.

Decidi que estou num estado de espírito desagradável que precisa ser resolvido de qualquer maneira.

lunedì, luglio 17, 2006

O código da...

"Já a paráfrase quem fez foi o jornalista mineiro Leandro Müller, que acaba de lançar, pela editora Espaço e Tempo, seu O código Aleijadinho. A história é em tudo símile da de Brown, mas travestido à realidade tupiniquim. O crime original se passa na Igreja da Sé de Mariana (MG), a pintura reveladora é do artista que dá nome ao livro nacional, o serviço de inteligência é da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Da seita que tudo sabe, inclusive o segredo da vida eterna, participam Jesus, Buda e todos os profetas, mas também cada um dos nossos inconfidentes. Enfim, que ninguém lhe negue a criatividade."

extraído de matéria publicada na revista entrelivros.


Eu ia desfilar um monte de cinismos, mas creio que eles soariam previsíveis. Então, prevejam.

domenica, luglio 16, 2006

Novo Glossário Freakout

M.O.S.I. (ou 'mosi')
Sigla para 'Método de Obtenção de Sexo Indie', o protocolo de ações necessárias para se pegar um(a) indie na balada. Também pode ser usado informalmente como apelido para os(as) indies desejados(as).
Ex: "Eu não tenho paciência mais para M.O.S.I, vou virar do pagode."; "Todos os meus mosis saíram da pista, vambora!"

R.A.N. (ou ran)
Ritual de acasalamento nerd. Tem aplicações semelhantes ao mosi, mas vale lembrar que os protocolos são ainda mais obscuros e complicados.

DidGéia: feminino de DidGêi.

giovedì, giugno 29, 2006

domenica, giugno 25, 2006

Daco é ruim

Visita tá chegando
Fui sê uma boa moça
Entrei na cozinha
Pra prepará uma rosca

O fogão era da Tati
Veio na liquidação
uma porcaria
Me queimou o meu roscão

daco é ruim
daco é ruim
queimou a minha rosca
e agora eu tô assim!


Preparem-se para a nova sensação do funk moralista brasileiro: Bonde dos Valor Familiar. Não percam!

venerdì, giugno 23, 2006

Eu dormiria se não tivesse que trabalhar.
Eu trabalharia se não estivesse com tanto sono.


Hoje eu estou com vontade de explodir o mundo. A sorte de todos vocês é que não tenho uma devida bomba e, mesmo que a tivesse, eu teria preguiça de acender o pavio.

martedì, giugno 20, 2006

O implícito é minha droga, já me sinto viciado e acaba me matando.

Resumo da ópera: queria eu ter achado meu [implícito] no lixo.

martedì, giugno 06, 2006

domenica, giugno 04, 2006

Planos Pessoais

O professor falou. Disse que todos nós precisariamos apresentar os nossos projetos em um mês. Porque, antes de mais nada, é preciso saber o que queremos fazer, porque e como isso será feito. Nossos trabalhos só começam quando o projeto já está feito. Ele discursou por umas três ou quatro aulas de algumas horas cada sobre a importância do projeto. Sobre a escolha do tema, o início da pesquisa, a boa argumentação. E eu sentado ali, computador e livros e cadernos e nenhum plano.
Sou a última pessoa da sala a apresentar o projeto.
Fujo para tomar um café e pensar. Nada. Nada para dizer.

Eu volto para a sala, o professor me encara.
Qual é seu projeto, filho?

- Eu vou virar luz, professor. É isso que eu vou fazer da vida. Virar luz.

Hmn, e tem alguma implicação prática esse seu projeto?

- Eu vou sergurar um papel fotográfico e deixar minha impressão digital.

giovedì, maggio 25, 2006

lunedì, maggio 15, 2006

Atenção, funcionários da CPTM: informamos que os trens estão em circulação normal e sem alterações

Nessas horas que a gente lembra que todo paulistano gosta de achar que está em Nova Iorque.
Deve ter sido a pior segunda feira pra se ir ao banco em décadas. Todas as pessoas na fila só sabiam falar de polícia, do PCC, de seqüestro aqui, ataque ali, alarme falso acolá. O ar fedia a paranóia. Enquanto o caixa me atendia, meu pai ligou no meu celular; tinha me procurado no trabalho, ficou preocupado e um pouco puto de eu estar no banco. Por conseqüência, saí sem olhar na cara do caixa e já vítima do primeiro sintoma. No caminho de volta para o escritório, só queria que alguém me ligasse, pra dizer nada, pra contar uma fofoca, dividir uma piada. Só para ouvir uma voz humana em tom displicente, alguma pessoa sã para quem estivesse tudo bem. Eu que odeio telefone, queria uma ligação inútil, assim, no meio de uma segunda à tarde. E estava só começando.
Voltei e só esperavam a mim pra fechar. Ninguém tinha certeza se daria para chegar em casa. Atravessamos a ponte da casa verde congestionada a pé. Meus colegas pegaram a avenida para o centro, eu me dirigi sozinho para a zona oeste, lar. Má idéia, a avenida passa pelo fórum criminal. Policial nunca foi um símbolo de conforto e segurança para mim; cruzar um círculo deles em sentinela neurótica, armados até os dentes, isso pode te fazer sentir medo. Eu sabia, sabia o tempo todo, que não devia me entregar. Que é tudo aumentado, ampliado. Que os opressores, todos eles, governo, mídia, PCC, polícia, terrorista, igreja e talibã, só esperam isso de nós. Que fiquemos com medo, e imploremos por proteção e liderança. Mas a cidade estava com medo, o ar estava com medo, e eu tinha sido vencido. Peguei o celular e disquei neuroticamente, tentando contato com alguma pessoa amiga. Só uma voz, só uma voz displicente me contando uma piada para tudo ficar bom. Na pequena tela, sempre a mesma mensagem "Network Overload". Ligações demais acontecendo, garoto, você não pode falar. Continue andando, continue sozinho.
Subi a estação Barra Funda para atravessar os trilhos. Muitas pessoas corriam para lá e para cá, poucas pareciam saber o que fazer. O alto-falante repetia insistentemente.
"Atenção, funcionários da CPTM: informamos que os trens estão em circulação normal e sem alterações."
Mas os portões para esses trens estavam fechados. Esse insólito me deu um primeiro segundo de conforto real no surto paranóico. Pois a vida já tinha ficado tão parecida com um filme de ficção científica que eu podia esperar sobreviver por milagre; tudo estava tão absurdo que qualquer um seria herói e esses malditos replicantes estariam todos mortos, os alienígenas voltando à seu planeta natal e a paz de volta a terra. Fora da estação isso ainda funcionava um pouco, se eu repetisse freneticamente para mim mesmo aquilo que tinha ouvido no metrô. Acreditar que os trens estavam em circulação normal me acalmava; ouvir o som inteligível de uma voz conhecida, mesmo que a minha, parecia ser a única coisa capaz de colocar meu pé esquerdo diante do direito, e depois num novo passo.
Na Avenida Francisco Matarazzo, ao lado de mais um braço de congestionamento, eu quis mijar. Minha bexiga começou a reagir a tensão. Somei isso com o fato de que quase não havia mais pedestres em circulação, e que ninguém, policial, segurança ou zelador, estava dispensando qualquer atenção para os pudores higiênicos sobre a calçada. Ao invés de me aliviar logo, avancei no pensamento. Então, se eu quisesse levar aquela cadeira em frente à danceteria country ridícula, eu poderia? E qualquer coisa que eu destruísse em frente ao hipermercado fechado, ninguém ia fazer nada? Nada mesmo? Vazio de poder. Eu era como a garotinha em V de Vingança, que cai da bicicleta e diz merda. Merda. E pixa tudo e corre e xinga e se liberta em desapego e destruição. Mas a porra da Francisco Matarazzo nem tem o que depredar direito, e fui vândalo apenas por conceito.
A Avenida Antártica é antipática e piorou tudo. Eu tremia só de passar perto daquele viaduto. Viadutos são o símbolo do que há de pior nas cidades, não passe por eles quando em pânico. Todo o comércio fechado, menos o bar, é claro. Só um bar aberto em meio a tudo. Comprei uma latinha de cerveja para conseguir continuar andando. Eu bebia ridiculamente rápido, mas era um alívio químico importante. Queria que algum lugar decente estivesse aberto, pra comprar uma garrafa de conhaque e ficar me amargurando com ela em casa. Ainda bem, não aconteceu. A Sumaré estava vazia no sentido bairro, e parada no sentido centro. Pensei em quem era toda essa gente presa tentando ir pro lado do qual eu fugia. Paulistano tem essa coisa de querer ser novaiorquino. Hoje a gente foi, por certo lado. E eu tinha ainda que continuar andando muito. Estava sem cerveja já, e o tremor começava a voltar. Logo tudo seria insuportável. Mais um único comércio aberto; uma barraquinha de frutas, com uma placa sobre morangos deliciosos. Como alguém pode estar vendendo morangos deliciosos numa hora dessas? Mas, se ele pode vender, eu posso comprar. Parei na barraca, escolhi a caixa com os menores, que aprendi serem os mais doces. O preço era o abuso de cinco reais, talvez influenciado pelo fator risco. Por um momento, me achei um pouco frívolo comprando morangos, uma vítima dos excessos de poesia fácil torcendo para que uma metáfora barata viesse me salvar montada num cavalo branco. Não sei se era barata, mas é que veio mesmo. "Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim." Eu abracei minha caixa de morangos, comecei a correr, como que num insulto aos carros parados e sua lerdeza paradoxal, e cantei como se tivesse quatro anos de idade, para que todos ouvissem e invejassem.
Eu tenho morangos, eu tenho morangos!

Mais tarde, em casa, comi-os com creme de leite e dediquei-me a contar isso.

domenica, maggio 14, 2006

Tem uma loja que na porta está escrito "futuros".
Você chega lá e na prateleira, em todos os pacotes, de várias formas e tamanhos, vê que está escrito 'presente'.
Se ficar intrigado e perguntar ao balconista, apático e sonolento, ele vai te olhar por baixo da aba do boné e dizer "desencana que quando você levar para casa, já vai ser passado".
Então ele boceja, você não compra nada e sai satisfeito.

domenica, maggio 07, 2006

martedì, maggio 02, 2006

Um dia, faz quase um ano, eu subi no terraço e pintei um telefone anigo de preto.
Hoje eu lembrei disso e me senti feliz.
Vai entender.

martedì, aprile 25, 2006

Por hábito, eu choro é pelos vivos.













(espero um dia 26 tolerável para meu amigo)

mercoledì, aprile 19, 2006

Dia desses eu vi algumas pessoas dessas que sabem voar falando sobre o tempo. Deu aquela sensação de desperdício do tempo todo que passei e ainda hei de passar sem poder voar como eles. Eu precisava ter fugido com o circo quando era criança e ainda dava tempo.
Eu gosto de circo; atualmente, é a forma de arte que mais me projeta pensamentos, é o lugar das coisas mais bonitas.

domenica, aprile 16, 2006

Cinza como nunca se houve.

Domingo de páscoa numa casa vazia com um tempo nublado, frio e parado.
Ressaca.
Ler o blog antigo, arquivos de 2002 à 2004.

Não tem como ser exatamente um momento feliz.

Mas por toda essa coisa de autoconhecimento...

Percebi que as coisas apresentaram uma evolução de duas faces.

Antes, eu só sabia falar de mim. Nada de tentar escrever coisas interessantes, bonitas, úteis. Só falava de mim.

MAS

Antes, eu sabia falar de mim.

(quem ainda não leu o lance aí de baixo, por favor leia, que é mais importante que esse mimimi todo.)

martedì, aprile 11, 2006

De volta à cidade verdadeira

Caolho abriu a porta do passageiro para que eu entrasse. O interior daquele carro parecia o lugar mais seguro de todo o mundo, dada a espessura do capô, a firmeza da estrutura e a potência do motor. Era quase como se viajasse num tanque de guerra. Ele deu a partida e acendeu um cigarro mantendo as janelas fechadas, fiz uma careta ao me incomodar com a fumaça, ele me encarou com reprovação. Passado um tempo, dando voltas pouco compreensivas naquele bairro irreal, o silêncio me constrangeu. Perguntei.

- Há quanto tempo você está nessa?
- Não estou. Nunca estive. Só faço alguns favores.
- Certo. Como eu posso te chamar?
- Você disse seu nome para alguém? Até agora? Uma vez?
- Não.
- Ainda bem. Pode me chamar de Caolho, como já está fazendo por dentro.

Apagou o cigarro no cinzeiro da porta e prosseguiu o caminho.

Depois de meia hora, saímos dos prédios tortos e da geografia desproporcionada. Chegamos numa parte da cidade cuja existência real eu já era capaz de admitir, embora todas as construções parecessem extremamente antigas e sombrias. Era o centro, era noite e isso era de se esperar, mas mesmo assim, dessa vez, meus olhos viam algo a mais no escuro. As sombras das sombras, acho. Novos tons de preto transformaram minha cidade numa imitação de Gotham. Caolho desacelerou e entrou em estado de alerta. Desligou os faróis e conduziu o carro com uma leveza e silêncio inesperados. Eu sempre tive por irracional o meu medo de silêncio, mas ao assistir aquele motorista espalhafatoso procurando ao máximo não ser notado, eu finalmente entendi qual era a origem nada tola desse temor. Num mundo onde não se crê em tranqüilidade, a quietude indica perigo.

Entramos num beco obscuro, com rua ainda de paralelepípedos. Não circulavam por ele nem as figuras noturnas que perambulam na região. Havia uma escada que descia para algo, que poderia ser um clube ou bordel. Caolho me orientou.

- Põe o chapéu e abaixa a aba da frente, pra sombra esconder o seu rosto. Diz na porta que as ações da Varig vão subir; vão te dizer 'você tá é louco'; diga que não, que veio pela bebida, e você está dentro. Não ache que foi fácil planejar isso, quatro pessoas quase morreram pra você saber a senha de hoje. Lá dentro não converse muito, encontre o desgraçado que te sacaneou, aposto que ele estará bebendo uísque. Você vai saber o que fazer dessa hora em diante. Me encontre de novo aqui fora em exata meia hora. Eu não vou esperar nem me atrasar. Não estarei aqui se você vier antes. Exata meia hora, ou você vai ter que se virar sozinho. Quatro pessoas quase morreram para te ajudar, e eu não serei o primeiro a conseguir.

Segui a risca as instruções do Caolho para adentrar aquele espaço. Era horrendo. Parecia um Cabaré cujo glamour fora drenado há décadas, trocado por uma concepção patética de higiene. Toda a madeira dos móveis era ridiculamente nova, envernizada, clara e homogênea. As lâmpadas eram todas econômicas, brancas azuladas. Algumas dezenas de Homens do Saco (também do sexo feminino) bebiam recatadamente e conversavam sem fazer muito barulho. O disfarce era relativamente eficiente, pois eles não pareciam se importunar muito com minha presença. A maioria lá fazia o estilo jovem executivo, com ternos listrados, gravatas, tailleurs e coques reluzentes. Algumas exceções interagiam livremente, de igual para igual no ambiente. Um ou dois homens do saco mais tradicionais, trajando o clássico mendigo esfarrapado, uma velha cigana acolá, um mestre de picadeiro escondido no canto e dessa forma minha aparência não era tão gritante.

Dei duas voltas no lugar, na segunda pedi uma gin-tônica no balcão para não parecer suspeito. Finalmente, notei Jeremias sentado numa mesa próxima ao palco vazio, olhando fixamente para a cortina de veludo. Levou à mão as coxas, que tremiam, enquanto batia o pé nervosamente no chão. Estava tão concentrado em sua ansiedade que não notou quando sentei a mesa logo atrás. Fiquei ali, observando-o por alguns minutos, imaginando o que poderia fazer a seu respeito.

Luzes se acenderam sobre o palco; às da casa se apagaram. Os Homens do Saco se aquietaram e voltaram seus olhos para a atração principal. Cortina subindo, revela uma menina, uns oito anos, vestidinho rosa com babados bucólicos, cachos que só uma avó poderia amar, e a mais terrível expressão de pânico. Uma corda amarrada em dois postes mecânicos começou a girar como se estivesse sendo conduzida por outras duas garotas; o sistema de som do lugar começou a tocar um coro de crianças desafinadas. A estrela, quase em desespero, começa a pular corda. A música se torna insuportável.

Um homem bateu à minha porta

(Eu começo a achar tudo aquilo ridículo demais)
e eu a-
(Então noto o olhar, o prazer pérfido de Jeremias e todos os homens do saco. Uma mulher de tailleur lambe os beiços.)
-bri!
(A metralhadora escondida junto ao meu peito parece ficar quente)
Senhoras e senhores
(Minhas pernas me erguem sozinhas, e se flexionam em prontidão)
Pulem num pé só!
(A menina obedece à canção. Aquele calor da metralhadora se transforma em fúria dentro de mim)
Senhoras e senhores
(Todo o meu corpo esquenta e meus músculos se tensionam. É como se tivesse muito mais energia fluindo pelo meu corpo do que deveria.)
Encostem a mão no chão.
(Eu salto para perto de Jeremias.)
Senhoras e senhores
(Jogo a mesa sobre ele, com uma força que nunca tive. O desgraçado cai no chão imóvel.)
Dêem uma rodadinha
(Todas as atenções se voltam para mim.)
E vá
(A menina corre, tentando fugir do palco)
Pro olho
(Os homens do saco se erguem e vem em minha direção. Alguns levantam pistolas. Estou cercado. A menina esbarra num segurança, que a segura refém sobre o palco.)
Da rua!

giovedì, marzo 30, 2006

Uma vez em casa de macacos...

As velhas, longas e escuras escadarias de madeira não representaram dificuldade. O ranger dos degraus e as teias de aranha nada eram comparadas a sensação de que finalmente estava chegando em algum lugar. A porta do apartamento indicado um dia tinha sido de um vermelho radiante, mas apenas guardava alguns vestígios disso. Abriu-a, obviamente, um macaco.

Era de pelagem preta, um pouco maior do que eu. Vestia roupas todas brancas, incluindo sapatos e um jaleco, e trazia um estetoscópio pendurado em volta do pescoço. Cumprimentou-me educadamente, me pediu para entrar e me sentar no sofá. Tudo na casa era vermelho vivo ou amarelo, algumas coisas desbotadas pelo tempo ou por poeira, mas se sentia as cores vibrantes como o conceito decorativo do lugar. Não nos apresentamos. Ele chamou Clarice. Clarice era outra macaca de pelo negro, lábios cuidadosamente retocados com batom, vestindo um tailleur elegante e feminino. Examinou-me de cima a baixo com o olhar e declarou, "Primeiro ele deverá ir para o banho, querido, tentar ganhar alguma cor". Ela então me conduziu por um pequeno corredor até o cômodo onde estava uma antiga banheira de porcelana toda já rachada, com uma mistura quente e convidativa de água e sabão. Ela me ajudou a me despir e pendurou as minhas roupas, e pediu que eu entrasse calmamente na água.

Quando o fiz, senti um calor completamente novo. Dentro dos ossos. Não um calor imenso, mas um abraço confortável que fazia meu pulmão respirar e minhas veias pulsarem. Ausentou-se por uns instantes e trouxe um prato de sopa meio alaranjada. Com a colher, me alimentava como se eu fosse um bebê. A sopa era picante, parecia mais um creme de mostarda e cury. Ela recostou minha cabeça num travesseiro inflável e dormi confortavelmente, até o amanhecer, com o corpo imerso naquela banheira. No dia seguinte, quando eu estava começando a aceitar o fato de que o sol entrava pela janela, o macaco me despertou nervoso, reclamando que eu precisava levantar logo para os exames. Levantei meio bamba e com a pele toda enrugada e o segui para a sala ao lado. Deitei sobre uma mesa laboratorial. Ele pressionou meu abdome, tateando-o. Então, colocou sobre mim uma espécie de aparelho de raios-X esquisitíssima e observou-a por uma telinha.

- Você tem sorte, Rapaz! - ele disse, mostrando uma chapa que tirou do vazio no meu interior - Ele arrancou isso, mas o intestino não se acomodou, e ainda tem o espaço certo para o re-implante.
- Mas afinal de contas, o que ele arrancou de mim?! - não aceitei a explicação pela metade.
- Você viu, não viu?
- Vi, mas o que era aquilo?
- Não tem nome. Mas, se você viu e chegou até aqui, acho que você sabe o que é.

E, de certa forma, eu sabia.

*

Já vestido, com mais rubor na pele, esperei no sofá enquanto meus benfeitores se reuniam num último cômodo decidindo o meu destino. A porta do apartamento se abriu e passou uma menina de uns quatro anos, com trancinhas de chocolate, vestindo macacãozinho jeans e blusa cor de rosa. Ela pulava corda e cantarolava.
"Um homem bateu à minha porta
e eu
abri!
Senhoras e senhores...

Nesse momento, ela parou de pular, se concentrou um pouco, fez cara de decepção, largou a corda no chão e correu para fora do apartamento. De longe, a ouvi cantar outra canção e conclui que deveria estar bem. Acho que ela só demorou em perceber que a brincadeira que ela praticava requeria outros amigos.
Clarice e o macaco médico vieram até mim e me pediram que entrasse na sala de reunião. Fecharam a porta e me deixaram sozinho com um sujeito (humano) sentado atrás de uma grande mesa de madeira nobre. Havia um abajur clássico de cúpula verde esmeralda iluminando solitário todo o lugar. O homem fumava charuto, e fora por não ter uma viseira, pareceria muito um antigo editor chefe de jornal metropolitano. Olhou serenamente para mim e começou.

- Ninguém aqui sabe seu nome, não é mesmo?
- Não.
- Então eu o chamarei de Cor, porque eles exageraram no tratamento e você parece uma tevê com o ajuste de cor exagerado.
- E eu o chamarei de Charuto.
- Muito justo. Você parece ter entendido.
- Quem era a menina?
- Nós estamos cuidando dela, bem como estamos de você. Vocês têm os mesmos inimigos, e nós também. Isso te basta?
- Por enquanto, sim.

Charuto olhou sério para mim. Ele viu que eu também estranhava toda essa segurança que saia de minha boca. Devia ser efeito do tal tratamento que os macacos me deram. Sorriu.

- Os nossos cuidados não podem realmente substituir o que você perdeu. Logo você começará a definhar de novo, a não ser que encontre seu órgão e faça o re-implante.
- E como eu faço isso?

Apontou para minha roupa, especialmente para o volume que a metralhadora fazia guardada dentro dela.

- O sobretudo você já tinha. A metralhadora eu te dei. Saindo daqui, não peça nada aos macacos; eles te darão uma terceira coisa. Você vai precisar dos três e de mais coisas que vai achar pelo caminho. Agora, recomendo que você deixe esse lugar e agradeça pela hospitalidade. Te vejo num breve futuro, cor.

Disse isso e apagou o abajur. A única coisa que eu ainda conseguia ver era a moldura de luz em torno da porta. Sai por ela, encontrei os macacos. Disse lhes que precisava procurar o que era meu. Eles me deram então um chapéu de lã alaranjado, para me proteger da friagem. Clarice disse que essa era a terceira coisa. O médico então entregou também um cacho com sete bananas. Eu deveria comer uma por dia, sempre na mesma hora do dia. Acabado o cacho, eu precisava voltar imediatamente para manter o tratamento. Era a única chance que tinha de continuar vivo.
Agradeci mais uma vez e desci as escadas, só então pensando que eu realmente não fazia idéia de para onde ir. Não sabia nem ao mesmo como deixar aquele lado insensato da cidade. À porta do prédio, então, avistei, ao lado de um opala preto vistoso e inacreditavelmente inteiro e forte, o motorista caolho, que parecia estar me esperando.




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(capítulo quatro já do negócio. Já? finalmente. Pra entender melhor, 1, 2 e 3.)

lunedì, marzo 27, 2006

Paleta de cores

Desde que comecei a contabilizar, já estive cinza, então vermelho, depois azul, verde no começo desse ano e agora estou mudando para o amarelo e simplesmente não sei o que fazer.

Espero que na verdade não seja um problema, mas isso é um pouco verde de se pensar.

giovedì, marzo 23, 2006

domenica, marzo 05, 2006

Dois é bom.

Quando a gente nasce, deveria vir sempre com um outro eu anexado. Não um irmão gêmeo, só uma repetição de si mesmo. Alguém que está onde a gente quer e não pode, que faz o trabalho que a gente não consegue, que dobra nossa capacidade de tudo. Uma pessoa não tem como dar conta de uma vida inteira, dois é a conta certa. E aí, quando a gente precisasse dos outros, a gente sempre ia ter duas versões deles para escolher. A gente ia poder confessar para uma metade o que sente a respeito da outra. Dois de alguém para um de mim.

martedì, febbraio 07, 2006

Não acredito que a guerra acabou até ouvir da boca do Repórter Esso ele mesmo.

giovedì, febbraio 02, 2006

(Da terceira vez sempre dá certo)

(isso é um capítulo três feito com muito retardo por coisas mil. Esse lance não tem sido um grande sucesso mesmo, e retomar a idéia depois de tanto tempo só piora. Criação de expectativa e todo o mais, sei lá. Mas eu preciso levar isso a um fim. E ainda não chegou. Um, dois e três!)

Um mapa abandonado por um oráculo de rua comendo banana certamente não tem uma rosa dos ventos indicando o norte, uma escala, latitudes e longitudes. Parece muito mais com um esboço infantil de mapa da ilha do tesouro, dotado de uma simbologia pouco compreensível e de instruções herméticas que devem ser seguidas à risca. Várias vezes eu de alguma forma desobedecia uma dessas instruções, e a seqüencia de eventos a partir daí acabava por me levar de volta ao ponto de partida. Só pelo fim do dia consegui acertar todo o rumo.

Para prosseguir viagem, precisei primeiro subir ao topo do edifício mais alto e olhar toda cidade; desci e peguei carona no pára-choque do sétimo caminhão a passar pela minha frente. Saltei ao passar pelo primeiro acidente de trânsito, segunda rua à esquerda, vai ter um ponto de taxi. Lá, esperei os exatos trinta e três minutos até que aparecesse um motorista caolho, e então pedi (conforme o indicado):
- Me leve lá.

Fiquei um tempo em silêncio, olhando aquele homem estranho, com seu carro em franca decomposição, pensando no absurdo que eu havia acabado de dizer. Depois de me torturar bastante com minha própria ansiedade, ele sorriu e pediu que subisse no carro. Tentei explicar que eu não tinha dinheiro, mandou eu não me preocupar, a viagem era por conta. Dentro do carro, me senti magicamente calmo, e completamente desprovido da vontade de prestar atenção no caminho para a tal casa dos macacos. Apesar do constante barulho de peças de metal caindo do taxi contra o asfalto numa velocidade consideravelmente incoerente com a potência assumida daquele veículo, eu havia adquirido a certeza de que ia chegar, e isso me bastava.

Paramos num quarteirão expressionista. Saltei do táxi e agradeci. O motorista caolho acenou e partiu, eu vi ao longe o escapamento do carro caindo no chão. A porta do prédio estava trancada com correntes espessas e vários cadeados. Toquei uma campainha, uma voz no interfone me perguntou quem eu era, respondi sem dar detalhes. O sujeito me contou que seria necessário arrombar o cadeado. Me disse para proteger a cabeça. Vi algum objeto grande caindo da janela da rua, embrulhado em um monte de pano preto. Desenrolei o pacote e encontrei uma metralhadora daquelas típicas dos anos trinta, que aparecem em filmes de gângster, inteira nova, bem conservada e carregada. Empunhei a arma e disparei uma rajada contra as correntes que trancavam a entrada; não que eu saiba atirar, mas a metralhadora parecia ter vida própria e ser capaz de uma precisão incrível. Porta aberta, me deparo com enormes escadarias de madeira. O interfone me avisa de que posso subir.

domenica, gennaio 29, 2006

Mother bounce

Estava eu alegremente brincando com o soulseek da rita, quando um malucão mala me baniu!

[ritakohl] bane a mãe pra ver se quica!
(22:00) [The Music Man] what
[ritakohl] its a brazilian angry expression
[ritakohl] it means "ban you mother to see if she bounces back!"
(22:02) [The Music Man] ban my mother ?? Please explain
[ritakohl] it's just a curse! it's not supposedto be understood!
(22:03) [The Music Man] Sorry it does not make sense
(22:03) [The Music Man] well I can not ban my mother
[ritakohl] off course it doesn't! it's not supposed to make sense!
(22:05) [The Music Man] well why sway something that does not make sense

"Eles" andaram assistindo monty python conosco.

lunedì, gennaio 23, 2006

"como desabilitar a tecla power no teclado"

Sagrado botão direito (não sei como os macintosheiros vivem sem ele) no desktop, abrir "propriedades de vídeo".
Entre na guia "proteção de tela".
Lá embaixo, o botão "energia".
Na nova janela, guia "avançado".
E lá tem um lancezinho que seleciona como o computador reage as teclas power e sleep do seu teclado.

giovedì, gennaio 05, 2006

"Alguns costumes ainda foram mantidos, como o do casamento, com a noiva que se deita no chão e o noivo sobre ela, frente-a-frente, e os demais varões por cima dos nubentes, formando uma pilha que é interrompida quando a noiva se põe a gemer. Basta a noiva gemer para o casamento ser consumado.

Fala de um roteiro que eu li no trabalho.
Nessas horas, eu gosto do que faço.