martedì, maggio 31, 2005

Can't step of the train

Quando eu comprei a passagem, a moça da bilheteria deu uma risadinha irônica. Pensei brevemente no que podia ser tão idiota assim em comprar aquela passagem, mas conclui que ela deveria era estar louca e fui tomar o café com pão de queijo da estação. Café, pão de queijo e estações de trem tem uma força anos trinta incrível, então rapidamente todas as cores decaíram a tons de sépia e as roupas se tornaram aquelas coisas charmosas, desconfortáveis e quentes de muito tempo atrás.
É curioso que em pleno século vinte e um o único jeito de se chegar naquela montanha seja de trem. Eu não devia perder tempo indo até uma montanha besta; eu devia ser Maomé. Mas eu não sou, e preciso ir até a porra da montanha.
Café nos anos trinta era engraçado, foi a primeira coisa que eu descobri. Quer dizer, ele era todo plantado aqui e era muito que sempre sobrava, então é algo de incrivel como o grão era mais fresco.
A segunda coisa que eu descobri é que pouquíssima gente entrava nesse trem. Uns solitários de capotes, umas jovens donzelas ingênuas e alguns boêmios cheios de conhaque e ópio. Ninguém embarcava acompanhado, e as pessoas na estação pareciam olhar curiosas em volta, todas com a mesma ironia contente da mulher que vendeu a passagem. A fila andou, um moço recebeu minha passagem; ele não falou com mais ninguém, mas na minha vez, me fitou nos olhos, e me disse com uma clareza solene: "Até que o trem pare, você não pode sair." Eu concordei com o pescoço, embaraçado pelo conselho um tanto ridículo e óbvio que acabara de ouvir. Um monte de silenciosos depois de mim, até que finalmente partimos.
Duas horas de trilhos e a paisagem urbana já deu lugar a pés de café e vacas. Na terceira, já podia ver a montanha lá no horizonte; meio azulada, como dizem que é o Olimpo, porque nessas horas a gente fica querendo ser heróico que nem aqueles intelectuais que sempre falam de coisas gregas. Achei que até o fim do dia chegaríamos, até entrar num túnel escuro e terivelmente longo. Passou a noite toda lá, e talvez alguma manhã. Claustrofóbico demais, mal consegui dormir. Quando acordei, a montanha estava lá atrás. Perguntei ao moço que conferia o bem estar dos passageiros. "Por ali não havia acesso; acalme-se, agora já estamos quase chegando. O senhor não pensou que seria uma linha reta, não é mesmo?"
Eu me senti idiota de ter acreditado na linearidade. Está bem, que venham as curvas, já estamos chegando. Curvas e curvas e mais curvas, e já voltamos a direção da montanha. Há um mar de morros. As curvas sobem e descem e contornam cada um dos morros, e depois pontes passam por cima dos morros e das curvas, e a noite acontece e desacontece, e ainda estamos chegando. "Agora falta tão pouco, por favor se acalme."
Só as vezes, parece que estamos chegando realmente mais perto, e então, curva! e estamos de novo sempre a mesma distância. Nunca a montanha. Sempre falta tão pouquinho; o trem nunca pára. Eu não aguento mais. Preciso descer. Vou até a porta do vagão. A janela tem o rosto da balconista, ela sorri e diz "o senhor não pode descer de um trem em movimento." A porta não abre. Agh! "Por favor, senhor, se acalme e sente. Nós já estamos quase lá."
É mentira, a montanha não chega, o trem não pára. E eu não posso descer.

Um dia a gente aprende a ser feliz só de ver a paisagem e ouvir o som dos trilhos, sempre sorrindo com a idéia de que vamos à montanha.

sabato, maggio 28, 2005

Death to Bonnie and Clyde



The Story of Bonnie and Clyde

You´ve heard the story of Jesse James
Of how he lived and died
If you´re still in need
Of something to read
Here´s the story of Bonnie and Clyde...

Now Bonnie and Clyde are the Barrow gang
I´m sure you all have read
How they rob and steal
And those who squeal
Are usually found dyin´ or dead.

They call them cold-hearted killers
They say they are heartless and mean
But I say this with pride
That I once knew Clyde
When he was honest and upright and clean.

But ´laws´ fooled around
Kept takin´ him down
And lockin´ him up in a cell
Till he said to me: ´I´ll never be free
So I´ll meet a few of them in Hell.´

If a policeman is killed in Dallas
And they have no clue to guide
If they can´t find a fiend
They just wipe their slate clean
And hang it on Bonnie and Clyde.

If they try to act like citizens
And rent them a nice little flat
About the third night
They´re invited to fight
By a sub-guns´ rat-a-tat-tat.

Some day, they´ll go down together
They´ll bury them side by side
To a few, it´ll be grief-
To the law, a relief-
But it´s death for Bonnie and Clyde.


Tem uma hora em que Clyde tenta desencorajar Bonnie de seguir com ele.
"You would never have peace."
"Do you promise?"

Que é tudo que você precisa saber sobre os dois.

domenica, maggio 22, 2005

O mundo é mais parecido com "Alice através do espelho" do que ele gosta de acrediar.

giovedì, maggio 19, 2005

A fuga do viandante

Era conhecido na cidade inteira por andar cercando-se das figuras mais estranhas e diversas dos lugares. Pessoas cheias de alegria sombria, ou de radiante dor. Amava e era amado por cada um deles. O viandante fazia tudo caminhando, e caminhava todos os dias. Tinha um teto, algumas roupas, em geral bonitas, um bar que quase era sua casa, e muitos amigos. E isso parecia tudo que ele precisava. Bradava, com orgulho e coragem, que tinha tudo que precisava. Quem já passou fome e sede, e quem já passou solidão, como ele conheceu os três, sabe que se escolhe por último a solidão. O movimento dessas ruas parecia ser o sangue que corre em suas veias; ninguém podia imaginar tal criatura morando fora daqui. Só que calhou um dia de acordar com um formigamento. Esse sangue lhe ardia, parecia contaminado. A fome e a sede pareceram grandes demais. Juntou suas roupas, saiu de baixo do teto. Viandou na luz do dia, que nunca foi sua amiga. Mesmo com todo o fluxo, e todo o calor do sol, e com seu tamanho grande e desajeitado, ninguém notou que ele ia embora. Não que ninguém tenha visto, mas tal informação era tão incoerente que as pessoas simplesmente não registravam corretamente: o viandante, uma das forças da natureza artificial desse lugar, foi embora. Quem sabe se um dia volta?

DÉJEUNER DU MATIN
Jacques Prévert

Il a mis le café Ele pôs o café
dans la tasse na xícara

Il a mis le lait Ele pôs o leite
dans la tasse de café na xícara de café
Il a mis le sucre Ele pôs o açúcar
dans le café au lait no café com leite
Avec la petite cuiller Com a colherinha,
il a tourné Ele mexeu.
Il a bu le café au lait Ele bebeu o café com leite.
et il a reposé la tasse e pousou a xícara na mesa.
sans me parler sem falar comigo.
Il a allumé Ele acendeu
une cigarette um cigarro
Il a fait des ronds E fez bolinhas
avec la fumée com a fumaça no ar.
Il a mis les cendres Ele bateu as cinzas
dans le cendrier no cinzeiro
sans me parler sem falar comigo
sans me regarder sem me olhar
Il s’est lévé Ele se levantou
Il a mis e colocou
son chapeau sur la tête seu chapéu na cabeça
Il a mis son manteau de pluie ele vestiu o seu casaco
parce qu’il pleuvait porque chovia
et il est parti e ele partiu
sous la pluie debaixo de chuva
sans une parole sem falar comigo
sans me regarder sem me olhar
et moi j’ai pris e eu coloquei
ma tête dans ma main minha cabeça entre as mãos
e j’ai pleuré. e eu chorei.


Obs: A coluna da direita é como me lembro da tradução que eu gostava mais desse poema; ela é bem literal na maior parte do tempo, mas as vezes fica esquisita. Não tenho a menor certeza de que seja assim, mas eu gosto. No site onde eu achei o original, existe outra tradução, que eu não gostei muito, achei que perde as pausas do poema.

martedì, maggio 17, 2005

Em caso de dúvidas, utilize nosso teste de urina.

Não são impressionantes as coisas que a gente descobre?
Eu descobri que passei um mês ou dois deprimido, logo agora que passou (bom, pasou há umas duas semanas já, vai). Poxa, ainda bem que eu não consegui completar o serviço que eu estava fazendo de jogar a minha vida fora, se não eu estaria perdido. Existem esses milhares de pessoas depressivas por aí que pelo menos podem se contentar em saber que são assim, se tratar e ter a plena consciência de que aquilo que elas estão sentindo é muito mais uma coisa de hormônios, neurotransmissores e azar na hora do parto do que de fato uma vida de bosta. Quer dizer, eles deviam ter consciência disso, não sei. Alguém paranóico pára de desconfiar dos outros pensando "Não, isso é só a minha nóia"? Mas veja só, eu que não sou um ser preparado para isso peguei todas aquelas dores da vida sem sentido nenhum e comecei a ter para mim. Achei que deviam estar motivadíssimas, porque eu nunca tive dessas caraminholas na cabeça. Se fosse que nem câncer de mama, que tem auto-exame, o mundo seria bem melhor, juro.
"Durante o banho, ou em sua intimidade, sente calmamente e reflita sobre sua vida e tudo que o incomoda. Passe delicadamente as mãos pela cabeça, enquanto mantém o corpo todo relaxado; procure sentir caroços e rachaduras que indiquem que o mundo inteiro está martelando por aí sem te deixar pensar. Caso encontre alguma coisa, compre imediatamente uma barra de chocolate ou procure seu psiquiatra."

lunedì, maggio 16, 2005

E se a vida for mais que nem uma comédia romântica?

De repente perseguir as pessoas que nem um alucinado traz futuro. E trilhas sonoras óbvias e ruins, que escancaram de um jeito meio idiota os nossos sentimentos, contem no fim de tudo uma verdade. Uma verdade engraçada e bonitinha na qual todo mundo queria viver; um mundo assim meio qualquer coisa com a Julia Roberts ou a Jennifer Aniston. Nesse cenário absurdo, o roquenrou, a revolta e todos os vanguardismos ficam sendo, por um instante, a fantasia, o escape de perfeição de porcelana. E os mitos mais bobos da nossa modernidade, realismo. Só por um instante. Que dará a todo o resto uma porção imensa de significado.

giovedì, maggio 12, 2005

Sobre o dia.

Hoje eu fiz nada o dia todo. Aí eu saí no fim da tarde pra ir numa reunião, mas fiquei preso no trânsito e voltei. Devia ser proíbido a gente ficar preso no trânsito nesse estado em que eu estou.

(Coluna boba e típica bem de blog ali do lado. Eu quis.)

mercoledì, maggio 11, 2005

Plano de carreira

Eu escolhi essa minha vida audiovisuenta, entre outras coisas, pelas vantagens oferecidas sobre um trabalho comum: informalidade do ambiente profissional, multiplicidade das tarefas, cooperação de equipes, rotatividade dos locais de serviço, contao humano intenso.
Como existem outras atividades mais lucrativas no mercado que oferecem as mesmas comodidades para profissionais destacados, decidi: vou virar seqüestrador.

lunedì, maggio 09, 2005

CNTP

O jeito que eu encaro as coisas é exatamente como o clima em São Paulo: ele simplesmente não tem a menor obrigação de seguir uma sequencia lógica, linear e previsível ou respeitar a época do ano. É quente ou frio, com vento ou ar parado. E hoje estamos com deliciosos 20° centígrados dentro da minha cabeça, não importam todas as coisas que ainda podem dar errado.

sabato, maggio 07, 2005

Homenagem Freakout ao dia das mães

(ou melhor, à tua velha.)



(Tá porco e feito em cinco minutos mesmo. Aqui é um blog, não um deviant.art.)

mercoledì, maggio 04, 2005

Epitáfio

Escrevi convidado (por Lima) a publicar um texto nesse blog que infelizmente agora fecha as portas. Bom, olhem lá, leiam as contribuições de outras pessoas, e tenham opiniões.

Eu as vezes acho que estou me repetindo, as vezes que é só o meu estilo a se definir. Mas no fundo é tudo a mesma coisa.

(obs: enquanto eu fazia esse post, acabei sem querer achando essa maravilha aqui.)

domenica, maggio 01, 2005

O que você quer ser quando crescer?

Eu quero usar tênis. E poder ter um corte cabelo divertido, fazer piada e sair de fim de semana a noite sem ser para ir num lugar "sossegado". O mais importante é toda noite poder pensar no que eu vou fazer amanhã, sem que isso seja uma coisa óbvia e pronta. Sem que envolva bater cartão em algum lugar. A segunda coisa mais importante é que tenha mais gente fazendo isso comigo. E hoje eu trabalhei no cinema.
Falando desse jeito brega e prepotente mesmo, chamando as coisas de cinema, porque no fim, o resto também é - já que cinema é movimento, e um montão de coisas legais se mexem. Então, seja isso um dia televisão, um dia rádio, um dia, quem sabe (após os traumas) teatro... é um lugar. Um lugar onde eu posso, em determinado momento, ser gente grande, sem que isso signifique ser infeliz, entediado, conformado ou monótono. Sem que isso me obrigue a fazer o que eu não gosto a maior parte do tempo e não saiba mais perder a noção e me divertir.
As pessoas lá são todas incrivelmente novas, até o momento em que você descobre a idade delas. Nenhum Peter Pan, não. Mas é possível sim ter trinta e poucos anos e ser realmente alguém da balada - independente e da balada. Independente, competente, com crianças geniais, da balada, e feliz.
E felicidade é brega, mas de importância primária nessa vida.