martedì, agosto 29, 2006

interlúdio um

Eu tenho um conto gigante para terminar. Terminar a primeira versão, colocada aqui em capítulos, arrecadar críticas e refinar. Mas eu empaquei na cena de ação. É difícil pra caralho escrever cenas de ação. Poxa vida, MESMO, tá dureza.

Enquanto isso, eu roubo uma imagem e a inspiração que ela me trouxe do fotolog do Ber.
(www.fotolog.com/aw6)



Eu trabalhava aqui, sabe? Nos anos duros. Eu me esforçava. O que eu fazia aqui realmente podia melhorar a vida das pessoas. Era IMPORTANTE, saca? Do tipo de coisa que dá tesão fazer. Você devia ter visto. Eu trabalhava bastante. Eu via os sorrisos e trabalhava mais.

Deus, como fiquei feliz quando essa porra toda desabou.

lunedì, agosto 21, 2006

Então tá, tchau.

"Eu acho que o vovô está morrendo."

A minha família se esqueceu por uns dois dias de me contar da notícia. O velho está internado, entubado, com sonda, se alimentando por soro.
Nenhuma lágrima.

Em algum ponto da minha vida eu me importei mais com o meu avô do que com um estranho qualquer.

Eu me lembro de um dia pensar nele com carinho e amor. Eu era mais novo.

Hoje eu fiquei ali, debaixo da coberta, com minha mãe e minha irmã, pensando no meu avô. Não consegui lembrar de uma frase realmente bonita que tenha saído da boca dele. Nenhum momento de carinho genuíno. Não sei se suprimi alguma coisa nesse sentido, mas não encontrei em minha mente nenhum motivo para achar que o meu avô seja (tenha sido?) uma boa pessoa. Ainda assim, sei que um dia o amei.

O único avô de quem consigo me lembrar era o senhor resmungão, velho comerciante do interior. Era um homem sério, trabalhador, pequeno burguês, conservador, homofóbico e racista. Foi um dia firme e severo, mas já tem uma década que todos reagem aos seus bufos como aos suspiros de um homem gagá. Era patético, e, confesso, um pouco engraçado.

Criou os filhos para serem pessoas ainda piores do que ele. Um ou dois quase conseguiram escapar, não se saíram tão mal. Tem espíritos mais gentis, certamente. Pena que enlouqueceram no processo. Um desses é o meu pai. Eu dormi na casa dele sábado, ele acordou cedo para ir para Taquaritinga, e não me contou a que ia. Parece que ele sabia que eu ia reagir desse jeito.

Amor de família é uma bosta. Quer dizer, eu admiro a minha mãe enquanto ser humano. Eu prefiro a minha irmã a qualquer pessoa no mundo inteiro. Porque elas são boas pessoas. Porque elas merecem. Claro que, se eu não as conhecesse tão de perto, não vivesse com elas, provavelmente nunca ia saber. Mas se eu não conhecesse meu avô tão de perto, eu provavelmente não ia saber o quanto ele representa muito daquilo que desprezo.
Eu me lembro de um dia o ter amado.

Qualquer dia desses eu vou sumir e ir pro interior, pro enterro. Se eu chorar, o mais provável é que seja por minha vó. Ela é uma senhora preconceituosa, conservadora, ingênua. Ela é uma mãe italiana opressora que apazígua as chamas da família entupindo-as de creme. Mas nela, encontrei algo que admiro. Ela ficará sozinha. Ela não viverá mais muito tempo também, eu sei. Eu já senti a morte nela também. Os outros não. Muito preocupados com o patriarca. Ela está definhando. Viveu forte esses anos apenas para protegê-lo. A não ser que se liberte na ocasião do funeral, deve morrer nos próximos cinco anos, por simples falta do que fazer.

Talvez vendo o caixão ali daqui alguns dias eu ache tudo diferente. Mas na verdade, nesse momento, o que sei é que não me importo.
Mas quando criança, por algum motivo, eu o amava.