Com Belmira aconteceu assim. Um dia, comprou cigarros no boteco e reparou numa carteira de motorista perdida esperando ser reconhecida no caixa pelo seu dono desatento. Noutro, viu o R.G. de uma desajeitada no lotação, grudado ao lado da catraca, pois quem sabe ela não passa por ali outro dia. É desde então que ela sabe o que fazer.
Belmira Mortessana, Berenice de nascimento, Belmira de Verdade. Nome difícil de esquecer, rosto que ninguém nunca notou, atrás dos longos e desfeitos cabelos pretos que cobrem tudo. Tirou uma foto com eles presos, uns brincos chamativos e maquiagem carregada. O verdadeiro rosto que ninguém nunca viu. Hora extra no serviço de cartório, como desculpa para tirar oitocentas e noventa cópias autenticadas da própria identidade. Um fim de semana basta para perdê-las por toda a São Paulo. E desde então, existe uma nova celebridade instantânea na cidade.
Só no mês de outubro, dezoito blogues, vinte e três fotologues, e três sites razoáveis publicaram comentários, fotos e artigos sobre o fenômeno. A musa dos botecos e lotações; quem será? Sabemos que nasceu à 13/07/1979. O nome dos pais está borrado e incompreensível em todas as cópias. Será que ela cometeu algum crime? Dalila Morena, do site "Isso sim me importa", investigou. Sim; criar um documento de uma pessoa que não existe, mas com todas as marcas federais de autenticidade, falsidade ideológica e mais uma dúzia de coisas. Sim, crime da esfera federal. Belmira Berenice das Couves, você está encrenca.
Tudo muito fatual até agora, paremos um momento para pensar nos cigarros de Belmira, de certa forma onde isso se iniciou. Consta que ela gosta de fumá-los aos pares; não ao mesmo tempo, mas sempre em seqüência. Ao todos, menos num dia que a maioria dos fumantes que você deve conhecer; mas, desde pequena, quando todos os outros precisavam de cinco minutos, a ela pareciam necessários dz ou nenhum. Daí o hábito: ela sempre tira dez minutos inteiros para fumar; caso contrário, consideraria o ato espetacularmente superficial e desnecessário, câncer pelo câncer, o que não é o caso dela por aqui.
Mas que tal crime federal (e foi tudo isso uma maneira barata de não falar nele por alguns instantes, os muito menos do que dez minutos que precisei para dizer isso?) criou uma disputa das que não se vê todo dia. Funcionário contra funcionário, a um burocrata com inusitado senso de decência pareceu que não havia porque fazer vista grossa as atividades da moça. Como no documento consta Belmira, que não existe para o estado, Fábio Moraes, o intrépido e desajeitado antagonsta que vos proponho não pôde localizar seu alvo facilmente. Foi necessário um plano. Primeira etapa simples, procurar nos locais já identificados pela jornalista. Nos botecos do largo da batata, jovens esquisitos e, no ideário de Fábio, excessivamente "pra-frentex" prestavam uma espécie de homenagem irônica e condescendenta para a imagem patética da moça do R.G. falso. O Balconista se recusou a entregar o documento; ótima isca de clientela; esses moleques não parecem mas bebem bem. Foi necessário puxar a autoridade, vantagens de quem trabalha para a polícia federal, para obrigar a entrega da prova. Finalmente, havia um começo.
Logo, despertaria o maior e mais honesto e decente detetive do Brasil.
E por essa parte, Belmira não poderia se interessar menos.
Muito bom. Mesmo. Gostei pra cacete.
RispondiEliminaE eu voto pra que voce tire essa porra de teste pra comentar.
Ah, eu pretendo adicionar intrigas a tudo isso aí...
RispondiEliminaseu blog virou uma balada! bacana...
RispondiEliminasó não sei se vai cair bem pra ler textos grandes.
Ei, Lucas Lui, essa noite eu tive o sonho MAIS BIZARRO DO MUNDO!!!
RispondiEliminaSonhei que estudávamosna mesma classe (?) e acabamos transando durante uma aula que envolvia retro-projetor.
Divertido não?
cara, como seu blog tá FÊO, Lui! caralho!
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