giovedì, giugno 30, 2005

O banco revolucionário

Sentou-se um contador infeliz no banco, disfarçado no meio de tantos outros, numa pequena galeria comercial sem qualquer interesse. Totalmente fora de seu hábito, pegou uma caneta, um pedaço de papel, rabiscou: "As máquinas não foram feitas para amar"; e, por mais que essa frase fosse uma obviedade, escrita sem qualquer estilo ou beleza, sentiu-se tornado um poeta. Guardou sua única obra, ergueu-se e foi embora, assobiando, morrer de tuberculose ou aids ou qualquer que seja a próxima.
Semanas depois, pousou uma perua decadente naquele mesmo banco, porém virada para o outro lado. Observava as belas roubas da coleção luxuosa de uma butique carésima a sua frente. Roupas feitas para separarem uma mulher da multidão, ela pensou, quando três loiras tingidas passaram entre ela e a vitrine, vestindo de cima a baixo peças daquela mesma coleção. Desde então, ela só usa roupas feitas em casa, de tecidos da 25 de março e couro rasgado.
Quando a galeria sofreu uma reforma geral, um empresário aproveitou para levar o banco para seu jardim, onde ele ornava muito bom. Sua recatada filha, estudante de admnistração, criou o hábito de receber rapazes - bom, geralmente eram rapazes - deslumbrantemente nua sobre aquele acento ao luar. Depois de um ano de encontros, ela engravidou e saiu de casa. Nunca mais falou com seu pai.
Furioso, o último dono estraçalhou o banco e jogou os pedaços numa caçamba de lixo. Dois garotos que passavam recolheram a madeira e a levaram para acender a fogueira de uma festa de rua. E olhando aquela chama vermelha queimar, foi que eu aprendi a respeitar as possibilidades de um simples banco de corredor de galeria.

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