lunedì, ottobre 09, 2006

E de repente, eu me meto em uma batalha

[vá-árias questões de estilo por resolver ainda. só pus aqui para me obrigar a fazer algo a respeito]


A metralhadora que eu nunca tinha aprendido a usar e os músculos que eu não tinha, as habilidades que não desenvolvi e uma coragem que não fazia parte da minha personalidade. Todos fluíam artificialmente no meu sangue, naquele instante eu era capaz de tudo. Mantive Jeremias imobilizado ajoelhando-me sobre seu peito. Ergui a mesa como uma barricada contra todos aqueles homens do saco. Enquanto o jovem de bege começava a asfixiar sob meu peso, eu me agachava torcendo para não ser atingido pela saraivada que começava a vir em minha direção. Puxei a metralhadora e tentava de quando em quando erguer-me e contra-atacar, mas eram muito pequenos os intervalos de tempo que me permitiam fazer isso sem perder a cabeça. Eu atingi dois ou três homens do saco. Uma multidão deles ainda avançava inabalada contra mim.

Uma janela no alto, atrás deles, se estilhaça. Muitos param para olhar para traz. Um tiro distante mata o segurança que capturara a menina do palco. Ela está livre dos braços do brutamonte, mas não de seu próprio medo e fica ali, paralisada. Caem lá de fora duas bombas de fumaça no lugar, transformando tudo numa massa cinza cheia de vultos. Nessa oportunidade, usei Jeremias, já inconsciente, de isca: levantei-o por cima da barricada com o meu chapéu em sua cabeça. Funcionou, seus colegas dispararam contra ele, enquanto me posicionei para começar o fuzilamento. A metralhadora gritava com fúria, se mexia e atirava praticamente sozinha, e acertou muito mais Homens-do-Saco do que eu podia imaginar.

Da janela estilhaçada, por cima de mim. Alguma coisa passa voando até o palco. Pareceriam duas aves desajeitadas, se não fossem do tamanho de mulheres. Eu matei muitos homens do saco, o suficiente para cobrir uma fuga, mas ainda parecia haver o suficiente deles para me fazer pagar por isso.

A menina seria preocupação, mas quando a fumaça sobre o palco se dissipou, só restava lá o cadáver do segurança. Não vi mais nem a ela, nem às coisas voadoras misteriosas. Do outro lado do cabaret, algo, talvez uma caixa de força, explode e começa um incêncio. Agarrei Jeremias que ainda tem alguma vida e arrastei-o comigo para fora dali, usando seu corpo como escudo. Só quando sai daquele porão que me dei conta: estava em via pública arrastando um sujeito baleado que provavelmente morreria em segundos!

Os meus perseguidores se tornaram ocupados demais de sua tragédia, e, vendo-os derrotados, concluo que a polícia também não representará problemas. Arrastei meu prisioneiro para um beco uns três quarteirões à frente.

Longe do perigo, minha força começou a esmorecer. Larguei Jeremias no chão, e o puto conseguiu me olhar com um risinho de desprezo. Fico mais cinza do que jamais estive. Minha mão treme. Derrubo a metralhadora que não tenho mais forças para carregar. O filho da puta fala cuspindo um monte de sangue.
"Nós vamos morrer aqui. Os dois. Juntos".

Eu não aceito. Eu não vou morrer com esse otário. Ele tem uma coisa para devolver, e vai me dizer onde ela está! Eu o esbofetearia até obter respostas, mas não tenho força para sequer um tapa. Só quando meu estômago começa a se contorcer gélido, me lembro do presente dos macacos. Uma banana do cacho sobreviveu inteira ao tiroteio, e mordo-a com a última fagulha de energia que minhas mandíbulas ainda têm. Jeremias perde seu desprezo conforme eu começo a recobrar minha cor quando termino a última mordida. Não tenho a mesma pulsão quente que usei no conflito anterior, mas tenho força suficiente para fazê-lo falar.

Dois tapas e ele já está em tanta dor que diz tudo que ainda é capaz. Cada palavra vem temperada com o gosto de ferrugem do seu sangue. Não sinto nenhuma dó.
"Deve estar na triagem ainda... no fim do mês... combustível. Forno."
"Aonde, porra?! Aonde você guardou"
"Na triagem... prédio da corporação. Segundo andar."

Não sei onde é o prédio da corporação, e esse traste acabou de fazer o favor de morrer sem contar. O tal fim do mês é daqui a dois dias, e certamente isso não é tempo de investigar cada corporação na cidade até achar uma gosma vítrea metade azul e metade rosa.

Quero voltar para encontrar Caolho, está exatamente na hora. Talvez ele possa me ajudar mais. Só quando penso no motorista, minha obsessão se desfaz e me dou conta dos fatos. Uma organização misteriosa acaba de me mandar para um lugar perigoso, cheio de Homens-do-Saco armados, sem me dar nenhuma informação. O lugar vira palco de uma batalha feroz comigo no meio, enquanto duas coisas voadoras não identificadas realizam uma missão secreta que não faço idéia de qual seja. Percebi, agora, que fui usado de isca, e que talvez meus novos "aliados" não estejam tão interessados assim na preservação minha vida. O fato de caolho ainda não ter aparecido só agrava as suspeitas. Lá em baixo, os Homens-do-Saco parecem estar se desvencilhando da confusão.

Grande! Sem pistas, sem apoio e muito em breve cercado por uma organização criminosa de pedófilos maníacos com umas belas contas a acertar.

Até que nessa hora o medo de não resgatar meu órgão perdido a tempo não era tão grande assim.


[ah, sim, não entendeu lhufas? capítulos anteriores pra você!
O homem do saco (1)
Sobrevivência (2)
Capítulo três, ainda sem um título decente.
Uma vez em casa de macacos... (4)
De volta à Cidade verdadeira (5)]

1 commento:

  1. Oi, Lucas, quando eu era pequena, morria de medo do homem do saco. E obrigada pelos votos lá no meu blog! bjs

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