giovedì, agosto 13, 2009

Take me to the river. Drop me in the water.

Quando tinha uns três anos de idade, eu escorreguei pelo tobogã improvisado na piscina do Clube Náutico de Taquartitinga, bóias amarelas nos braços, com imagens de uma contente foca vermelha. Eu adorava entrar na piscina mais do que tudo, meus pais já estavam lá em baixo, as bóias me deixariam seguro.
Caí muito fundo.
Fiquei com a cabeça presa entre as pernas de uma mulher, que, assustada, se agitava e me prendia mais para baixo.

Com uns quatro, eu estava indo para o casebre que tínhamos na praia, no Sertaozinho, um loteamento pré-turístico que havia na praia de Camburi (que, naquele tempo, era incivilizada e praticamente deserta). Para chegarmos nele, precisávamos atravessar o rio por uma ponte improvisada com um tronco espesso.
A enxurrada levou o tronco.
Então pedimos para usar a ponte de tijolos da vizinha - meus pais não se davam bem com essa vizinha, por isso nunca pedíamos para usar a ponte. A ponte tinha uma porta, que trancava, para que outras pessoas não pudessem usar sem autorização.
Estava de noite, tinha mais gente conosco, não lembro quem, podem ser uns amigos hippies, podem ser uns caiçaras chamados para carregar malas, não lembro.
Eu usava minhas botas vermelhas do Pica-Pau. Iluminávamos o caminho com lanternas feitas com velas acesas dentro de latas de nescau. As pessoas cantavam. Eu dancei. Eu pisei em falso. Eu cai no rio. Minha mãe gritou para que meu pai pulasse, ele não entendeu, achou que fosse uma mala que tivesse caído. Depois de entender, ele pulou.
Eu tinha chegado no fundo, estava fazendo bolinhas com o nariz como tinha aprendido na aula de natação na escola.
Meu pai conseguiu me pegar, estávamos a salvo. Mas minhas botas foram levadas pela correnteza.

Tudo isso são histórias reconstruídas: lembro dos objetos porque faziam parte do meu cotidiano. Eu sei que aconteceram. Afetivamente, me lembro muito bem; sensorialmente, eu só lembro da cor delas. Estava de olhos fechados, naturalmente, mas enxergava uma cor, uma cor que eu vou saber para sempre. É um tom bem intermediário, vermelho, marrom, laranja, ocre, cobre, ferrugem, apenas brilhante, ao invés de opaca. É uma cor que arde.

Não sei se tenho traumas, no sentido simples da palavra. Nunca adquiri medo de água, nem de nadar, nem de rios, chuvas e etcetera.
Se me recusei durante a adolescência a ir à piscina do clube, era de mostrar meu corpo que eu tinha medo.

Mas eu me lembro de quão assustado eu estava. De quanto eu achei que ia morrer. Eu vi aquela cor.

Eu não tenho medo de morrer, eu tenho medo de me sentir como se sente quem vai morrer.

Talvez vocês sejam todos assim, talvez não.

Acho que nunca falei direito sobre isso.

5 commenti:

  1. Acho q era cor de olhos fechados, não?

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  2. com três anos eu caí da boia, daquelas de sentar na piscina, e de olhos abertos.
    Até hoje o que eu lembro é da cor dos azulejos azuis claros da parede, que iam subindo na minha frente, e as bolinhas.. Meu pai tb mergulhou e me pegou.. Eu não tive tempo de pensar na morte.. haha

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  3. Oi gostei do seu blog, visite o meu de textos pessoais, espero que goste, obrigado.

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  4. Eu gosto de me deparar com histórias das quais o próprio narrador sabe pouco. E particularmente gostei da atmosfera trágica desta.

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