lunedì, gennaio 21, 2008

Pequeno caso que demonstra a inexplicabilidade do processo democrático

Coube ao gabinete dAquele Secretário elaborar o Artigo Constitucional no qual se determinariam as cores permitidas na representação do número sete. Assim que a tarefa lhes foi designada, os diversos funcionários e funcionárias começaram seu trabalho. A primeira notificação veio da Assistente de Escritório: ela recomendou que calhava admitir-se o uso do branco, e do preto, caso contrário todas as publicações em branco e preto (ou em preto e branco) ver-se-iam seriamente restritas no seu uso da numeração, e a Liberdade de Imprensa, bem lembrou o Vice-Secretário era de importância maior para a Moralidade do Novo Governo Revolucionário, na Eminente Figura do Senhor Seu Marechal.

Sugeriu o Gerente de Comunicações que se aprovassem também todos os tons metálicos, assim, os números afixados às paredes e portas de casas, além dos túmulos, é claro – o respeito aos mortos é muito importante nessas ocasiões – seriam poupados; a refactura de tais números poderia custar fortunas desnecessárias ao Estado. Muito pelo contrário, bradou o Assessor de Imprensa, dado que os esforços da guerra civil provocaram uma escassez de minério, principalmente do cobre, muito importante para as Linhas Nacionais de Energia e Informação. Sendo assim, a proibição, e conseguinte recolhimento, de todas as representações do número sete feitas em metal fundido poderia prover um reaproveitamento destes importantes recursos. Uma emenda no artigo, ele disse, poderia estimular o uso de tons marrons amadeirados, dado que a madeira é um recurso renovável e de fácil acesso à população. Como os Senhores podem perceber, as preocupações desse humilde Assessor são de que a população possa facilmente repor os algarismos retirados com um mínimo de custo para o Estado.

A essa altura surgiu uma dúvida crucial para todos, mas que foi apontada primeiramente pela Sub-Chefe de Sessão Administrativa - tratamos aqui das representações absolutas do número sete, ou de qualquer uso do algarismo sete? Pois, até o momento, tem se pensado em todas as representações gráficas do desenho "7", o que gera uma ambigüidade preocupante nas Instruções recebidas do Congresso. Naturalmente, tenhamos o endereço do Senhor Contador de Finanças, por exemplo: sua casa está marcada Trinta e Sete, que é um número, diferente do Sete comum; mas, para nomeá-la, ele usa o símbolo do valor que aqui nos cabe. Soma-se a isso a dúvida a respeito dos Algarismos Romanos: determinamos aqui a coloração também da seqüência de letras VII?

Recesso Reflexivo foi sugerido pelo Próprio Senhor Secretário, afinal essa dúvida tornava tudo mais confuso; (pois sua sobrinha era concunhada de um rapaz cujo meio-irmão de criação havia sido casado com a Terceira Assistente de Redação e Registro do Gabinete dAquele Outro Secretário, que estava responsabilizado por determinar as Normas para Capitulação em Impressos Oficiais ou Extra-Oficiais, e desta veio a informação confiabilíssima de que os Algarismos Romanos seriam de uso extremamente comum na Nova Ordem, ou seja, que o problema é sério mesmo). O Estagiário para Assuntos Comuns, nesse momento, precisou que lhe explicassem a gravidade da situação: veja bem, o Gabinete fora designado para estipular sobre o número sete, e apenas sobre o número sete. Porém, nos algarismos romanos, o sete (VII) está incluso no oito (que se escreve VII e agora, mais um I, assim, VIII, veja só). Nesse caso, seria preciso identificar, em todo o Congresso, qual é o Pensamento Revolucionário acerca do uso do número oito, arábico e romano, e de suas cores, antes de tomar qualquer atitude que pudesse gerar um conflito considerado Contra-Revolucionário – palavra esta que, quando pronunciada, era sempre acompanhada por gesto marcado do interlocutor, traçando uma linha imaginária de lado a lado pelo pescoço com o dedo indicador.

A Pauta do segundo dia foi aberta com a declaração do Senhor Secretário de que o artigo iniciar-se-ia especificando regulamentar sobre o uso de todo e qualquer grafia na forma de “7”, mas que a coloração das letras VII só seria restringida quando estas, explicitamente, participassem da representação de um valor que, em algarismos arábicos, incluiria a utilização da figura supra-citada. Casos omissos seriam julgados pela autoridade cabível, ainda a ser estipulada na Nova Constituição. Todos aplaudiram o gênio legislador do secretário, que se mostrou nesse gesto digno da confiança nele depositada pelo Marechal ao atribuir ao seu humilde gabinete tão delicada tarefa. Naturalmente que muitos, sobretudo os mais jovens, conservaram algumas de suas inquietações a respeito da interpretação adequada das instruções centrais; inquietações essas que, pela Etiqueta do Novo Regime, serão conservadas por cada um em foro íntimo, como tema da consciência. Dificultar ainda mais o processo legislativo poderia gerar uma falsa visão de que Aquele Gabinete se colocava em postura retrógrada, em desacordo com o Bem Comum da Nação, e nenhum dos Senhores desejava isso.

Estabelecidas as bases jurídicas sobre as quais trabalhariam, retomou-se o debate cromático propriamente dito. O Assessor de Imprensa retomou seu argumento, pois a legislação, lembrou ele, deveria, em todos os seus meandros, apontar para o Progresso da Nação. Para a Ajudante Pessoal dAquele Secretário, tal pensamento configurava-se utilitário; opinou que o único critério válido neste momento de elaboração da Nova Constituição seriam os Princípios Revolucionários que nortearam a mobilização popular. Apesar de concordar, em absoluto, com a lógica da proposição, o Senhor Contador de Finanças atentou para o fato de que nenhum dos referidos Princípios determinava qualquer preferência de coloração ou numeração, então, como poderiam fazê-lo? Não seria o caso, inqueriu o Estagiário, de então permitir o uso de todas as cores do espectro visível?

Assombro tomou conta do Gabinete. O Senhor Secretário discursou do absurdo do ato, que seria como rejeitar a missão que lhes foi conferida pelo Próprio Eminente Senhor Seu Marechal. Mesmo que a palavra “Contra-Revolucionário” não tenha sido utilizada, o sinal característico com o dedo indicador sobre o pescoço marcou a reação de vários dos Senhores e Senhoras Funcionários dAquele Gabinete. Após pausa prolongada o suficiente para que o jovem engolisse em seco, a Assistente de Escritório notou que a cor amarela havia sido removida da bandeira, então que talvez fosse cabível bani-la também nesse caso. Finalmente, uma unanimidade!, - mesmo que de certa forma descontente, por parte da Sub-Chefe de Sessão Administrativa, que encontrava cada vez menos espaço para utilizar esta que era a sua cor favorita. Sacrifícios pessoais têm de ser feitos pelo bem da revolução, e era de admirável firmeza de caráter a sua resignação. Todos concordavam também que ela certamente teria uma carreira brilhante dentro do Novo Governo.

Proibir somente uma cor, porém (mesmo que sendo uma das chamadas cores primárias), não seria suficiente para demonstrar ao Congresso o afinco que a tarefa exigira destes humildes Cidadãos. Como deveriam entregar a redação do artigo até o fim da tarde do dia seguinte, concluíram que o tempo urgia. O Gerente de Comunicações propôs, dado que já havia uma cor de maior importância na lista do veto, caberia agora a escolha de tons secundários e terciários, de nomes duvidosos, que também deveriam ser evitados. Gelo, Bordô, Marfim, começou a listar o Encarregado de Datilografia; Fúcsia, Magenta, Petróleo... Os demais presentes se impressionaram com a participação súbita de membro tão calado dAquele Gabinete e, por votação simples, concluíram que as três primeiras cores arroladas seriam restritas, mas que detalhamento maior nessa atividade seria desnecessário. Ficou então decidido que a redação para análise do Congresso poderia ser realizada no dia seguinte, no período da manhã, para que após o recesso do almoço já fosse encaminhada as Autoridades Maiores. Também decidiram, em votação aberta e espontânea, que o Senhor Encarregado de Datilografia poderia parar de citar nomes raros de tons, interrompendo-o quando este lembrava de cores como o Cerúleo e a Sépia. Todas as matizes anotadas, porém, foram preservadas na ata, para garantir uma melhor representação do esforço e empenho da equipe de trabalho dAquele Secretário.

A equipe confraternizou e todos os Senhores cumprimentaram-se pelo bom trabalho, dando a missão por cumprida. No dia seguinte, poderiam todos comparecer aos desfiles pela manhã, que apenas o Senhor Secretário e o Senhor Encarregado de datilografia bastariam para a redação do artigo. Todos voltaram orgulhosos para sua casa, aguardando os festejos da manhã. Descansando tranqüilos pela noite, os funcionários daquele gabinete não notaram, nos muros de toda a cidade, mais, de todo o País, a rápida proliferação de novos números sete (arábicos e romanos) pintados, grafitados, gravados, construídos em mosaicos de azulejos, ou de toda sorte de material, sempre nas novas tonalidades proibidas.

2 commenti:

  1. Isto é um esboço.
    Mas leia do mesmo jeito.

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  2. por que você chamou de pequeno? faz um resumo de um parágrafo pra mim.

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