martedì, agosto 28, 2007

The Real Man

Alguns de nós bebem para se sentirem potentes.
É por causa do meu pai, mas eu me sinto potente cada vez que não bebo, numa hora dessas. E até que são bastante horas.
Mas daí que essa potência se torna insuficiente, mínima. Ínfima.

O céu daqui de casa continua brilhando cor-de-rosa, toda noite. Eu nunca vi uma estrela, acho que elas pertencem aos contos de fadas. Mas a Lua, ah, a Lua, me esmaga com seu peso sempre que são cinco da manhã e eu estou atrasado pra terminar o meu sonho.

Não entendo perfeccionismo, sabe como é? Dedicação, também não. Ou a coisa sai, assim, na hora, como ela é, com todos os seus defeitos, ou simplesmente não existe e nunca existirá.

Me considero despreparado, ainda não feito para o mundo, imperfeito para cumprir minha função, preciso ser guardado para depois. Portanto, é só o lógico deduzir que não existo.

Tenho os sonhos de outra pessoa ali pra terminar, numa folha de papel feita de mil pedacinhos de areia quentes como o mel sobre uma torrada. Estou apaixonado por ela e me temo imperfeito para sonhar seus sonhos, e nunca começo, e, por minha culpa, ela não existe.

A televisão te perguntou se você já pensou em se matar. É uma questão complicada. Acredito que o devaneio sobre o suicídio é como aquele sobre a mega-sena: sempre passa pelas cabeças, como solução absurda para problemas sem fim. Bom, eu já me imaginei ganhando na mega-sena, isso quer dizer que eu sou triste?

Aquele prédio na Consolação te perguntou, o velho sem dentes, se você é feliz. Mais louco é quem me diz. Mais louco.

Não é quando eu bebo, é quando já chega de beber e são oito dá manhã e eu estou muito ocupado sendo miserável, que eu sou incapaz de dar um jeito nessa porra dessa minha vida. E eu sempre acabo dando um jeito na vida de alguém, assim, lixo humano. É só nessa hora que me sinto potente, um homem de verdade. Mas escurece, de novo (e escurecer aqui continua sendo uma mudança do cinza para o rosa) e a Lua me manda mais uma carta, sempre escrito que eu ainda não sou perfeito, que não existo.

O último clichê que eles me mandaram foi aquele em que a gente descobre que as pessoas que tem tudo o que a gente queria ter não são lá felizes com isso; logo depois, você se encontra reclamando de uma sina sua que seria fortuna para milhares a seu redor.

O clichê e o kitsch não são mentiras: são mito. Estamos cansados deles porque se repetem eternamente, justificando nossa realidade. São o princípio da realidade. Cada história de melodrama, cada moral do século XX, é minha realidade e sombra.

Sombra cor de rosa que se estende por toda a cidade pesando quatro fases e todos os grandes saltos para a humanidade nas minhas costas.

O homem da cidade procura conforto no campo; nenhum som que não o vento e os pássaros e algumas idéias tem na cabeça. Matarei todas as aves do mundo, por um barulho de máquinas, algumas buzinas e uma luz de neon enguiçada fazendo aquele zumbido irritante em baixo de onde eu durmo a noite inteira.

Ou talvez, uma valsa tocada na guitarra elétrica, e um sintetizador pedindo um pouco mais de poesia ao se servir os copos de uísque, olha como você está inclinando esse pulso, o que Baudelaire diria disso?

5 commenti:

  1. Ou, com sorte, isso é só um agosto mais agosto do que os outros, e sábado passa.

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  2. acreditar demais que o "eu" está incluso no "tudo" também não me parece uma boa. :~

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  3. ei, já parou pra pensar em como a pipoca se sente? você deve ser tipo um herói pra ela, ou ao menos um dos quatro titãs que habitam o mundo real dela. enfim, você tem uma reputação a zelar. uma imagem a cumprir... expectativas para manter.

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  4. a vida vale cada segundo que a gente respira. não é questão de desistir, é poder dar mais um suspiro.

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  5. Imagine quando chegar o inverno.

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