domenica, agosto 12, 2007

25: a fera que gritou "Eu" no coração do mundo - ou 6: o dilema do Ouriço

Eu nunca pensei que me sentiria assim por causa de uma mulher.

Você me diz as coisas em segredo. Quer cautela e discrição. Não não não, tem uma hora que a coisa arde tanto no peito que a gente precisa mesmo gritar e foda-se a vergonha e foda-se o mundo, babe. Não se chama fazer drama, quando o drama já está feito. Nada do que quis gritar antes na minha vida se comparara a isso. E, Deus, como eu grito, meu anjo, como eu grito.

Sua casa em mim começou quando eu tinha uns dezessete anos. Você me ensinou a ter carinho, a cuidar dos meus amigos. A admitir que gostar, a admitir que amizade, a admitir que amor. Agora eu preciso que você aprenda a admitir que dor, admitir que raiva, admitir que berro.

Porque o grito que você não grita, que você se recusa a soltar, que você protege sei lá de quem
já está NA MINHA garganta, e eu me sinto sufocar. Ele é um viruzinho do tamanho de uma bola de tênis, redondo com espinhos sem ponta, azul-pêssego. Tem olhos tristes e chora leite. E ele só vai sair daqui se você gritá-lo.

Tem algum tempo - MAIS do que esse um mês desde aquela briga - que eu sofro inquietude e que eu sofro solidão - (meu Deus, eu não sentia solidão fazia uns seis anos, talvez mais). E eu sofro inquietude e eu sofro solidão porque eu sofro a sua dor não declarada.

Eu:
(No, I ain't got nothing to be scared of... because I love you. I was born out of love)

O silêncio vai me matar e você fica em silêncio porque tem medo. Não é só você que tem: todas as pessoas que me machucam, talvez tirando o meu pai (feliz dia dos pais, velhinho, você me dói mas hoje já não é a sua dor que me importa) me machucam porque tem medo e fazem silêncio.

Eu estou te dizendo isso aberto, em público, porque você de novo sussurrou quando o assunto é para gritos. E o simples fato, minha querida, de que você consegue manter a calma a meu respeito desse jeito, me é tal violência. Seu estoicismo foi pior que qualquer ataque histérico, o verdadeiro olhar que mata mais que atropelamento de automóvel.

Você:
your fear is crowded and there is still no place for someone like me to fill

E você não é mais você, ok? Você é o mundo. Igual a todos os outros - você vai aprisionar sua verdadeira expressão, seus verdadeiros momentos, dentro do teu terror absoluto, o medo horrível que você, MUNDO, sente de ser descoberto.

A gente aprende de algum idiota que quando mostramos nossa verdadeira face nos pomos vulneráveis.

Nunca nunca ninguém que me feriu de verdade me feriu por saber o que eu sentia, o que eu queria e quem eu era. Jamais conseguiram usar isso contra mim. E olha que tenho botado cada centímetro de minhas entranhas para fora.

Eu decidi
Eu não vou ter mais medo
O resto do mundo
Você
Sentem um monte
Eu já sinto menos,
bem menos

E vou sentir cada vez menos e arrancar toda a minha pele e puxar as fibrinhas do meu ser e desfazer num fio bem comprido e enrolá-los em letra de mão numa parede extensa contando pra todo mundo que quiser ouvir tudo o que sou. Eu não vou guardar mais nada nada nada.
Assim vai ter espaço pra alguém (como você) preencher. Espero que, no mundo inteiro, pelo menos um ser humano tenha a mesma idéia e me venha ao encontro. E a gente mostre para todos os outros
o tempo que vocês estão perdendo.

Eu te amo.

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