Os cientistas (estudiosos em geral inclusos aqui) em sua arrogância, acreditam ser superiores ao resto da humanidade. Eternamente em laboratórios e bibliotecas, só conhecendo ambientes externos para pesquisas de meio, eles são apaixonados pelo conhecimento. Procuram, na dita ciência, soluçõs, sobrevivência, mas também um prazer que não parecem ser capazes de extrair do convívio humano.
Sobre eles, os artistas dirão que são tolos e frios. Artistas, uma segunda categoria de pessoas, acredita piamente que os cientistas são uns completos imbecis, entregues a uma racionalidade positivista aonde não há alegria e prazer. Reúnem-se em ateliês, teatros, cinemas e cafés, e se deixam iluminar uns pelos outros, por uma quantidade humanamente aceitável de referências bibliográficas e por algumas drogas. Depois saem por aí a criar. O sonho masoquista de cada um é, certamente, não ser compreendido no próprio tempo e morrer faminto, amaldiçoando a mediocridade de todos que os cercam.
É para evitar essa rixa que existem os políticos - não os deputados engravatados que respondem inquéritos na tevê, mas os trabalhadores e estudantes que organizam movimentos de protesto, sindicatos, uniões e todo esse tipo de coisa. Os políticos foram alertados de que pode haver um mundo lindo de ciência e arte, onde todos são livres para fazer isso. E o primeiro passo para chegar nesse mundo é tratar todos os cientistas e artistas como pessoas alienadas, que não entendem nada e precisam ser demovidas de suas atividades fúteis e descompromissadas para poderem fortalecer o movimento.
No que todos esses três tipos superiores de gente concordam é que o resto, cera de noventa porcento de nós, é, basicamente, gado burro e amável. Qualquer um deles vai dizer que é apaixonado pela humanidade, que procura criar tecnologias para que todos vivam melhor, beleza para que se deliciem, e uma sociedade justa e livre, para que todos exerçam seu totall potencial como pessoas. Mas é só você colocar um de frente com um homem ou mulher verdadeiros, tirados das ruas, que o intelectual progressivo vai se enojar com os hábitos, idéias e vontades absurdas desse macaco. "Tirem essa critaura daqui, por favor" ele vai dizer, "estou ocupado salvando o mundo."
Bando de imbecis.
martedì, agosto 23, 2005
domenica, agosto 21, 2005
martedì, agosto 16, 2005
Imaginei um desenho. Eu não sei desenhar, então só planejava descrevê-lo pra outra pessoa fazer o trabalho sujo. Seria um desfiladeiro, meio caricato, um bocado Coiote e Papa-Léguas. Bem estreito e fundo. Em cima, teria uma placa de um lado, toda colorida, bonita e com luzes, meio torta e psicodélica, escrito "terra do nunca". Outro lado, uma placa dura e quadrada, quase de envenenamento nuclear, avisando "mundo real". Lá em baixo uma confusão de rabiscos parecendo alguém estatelado e uma flechinha apontando "Você está aqui." Mas ai eu tinha que decidir de que lado ficava cada placa. Veja bem, num mundo ocidental, você absorve toda a linguagem visual como começando na esquerda no topo, indo para a direita ao fundo; ainda mais numa imagem narrativa como essa. Então, ao colocar a placa da terra do nunca da esquerda, eu disse "tentou crescer e se fodeu." Que não é o que eu queria, nem um pouco. Já "tentou nunca crescer e se fudeu" me parece ainda mais idiota. Não queria sucitar nenhuma leitura tão simplista e direta das coisas. Reparei: mais que não saber fazer traços indo pra direção ou com a intensidade que eu quero, eu basicamente não sei desenhar; não conheço o código e as estratégias que me permitiriam exprimir da maneira adequada numa imagem estática em duas dimensões.
Aí eu conto isso por escrito, fingindo que a linguagem textual eu domino.
Aí eu conto isso por escrito, fingindo que a linguagem textual eu domino.
domenica, agosto 14, 2005
giovedì, agosto 11, 2005
Não te preocupes. Estamos salvos.
Deus (bem como as bruxas), insiste em existir por mais que eu não acredite nele. Se você me disser que a Arte está morta, respondo que nós dois, e também os outros, continuamos todos respirando. A Revolução é inevitável, igualmete à todas as suas predecessoras, e só nos cabe acelerar e guiar como um automóvel. E mais, sabe quem vai nos redmir a todos? O Amor, esse mesmo, tão banalizado nesses dias de melodrama. A Beleza salvará o mundo. Existem a sorte, o destino, o espírito, o despertar das conciências, a insurreição das classes, a verdade científica e todas as coisas perfeitas que alguém já quis que resolvessem tudo. Todas elas. Inclusive o pudim de leite condensado.
martedì, agosto 09, 2005
Linguagem universal.
Na fila do banco. Tinha um oriental de meia idade e origem não identificada (entre chinês, coreano ou outros), acompanhado de um adolescente mestiço uns quarenta centímetros mais alto. Atende o celular. Ai que ele começa a gritar com a pessoa do outro lado em termos de "Chow gong zeng assu gong chuchecha zing zong sossohosso"s e "Hu mwahaiii gogagogagoga"s e etcetera. A conversa é plenamente compreensível. É da empresa. Passaram o pepino para ele. Os incompetentes deviam ter resolvido isso, é um procedimento óbvio. Cabeças vão rolar. Mas eu resolvo. Sim, podemos fazer isso. E nessa hora, o sim é "Ok, how." Que não teria nada demais se não fosse seguido por um "Ok how how." E num ritmo alucinado, ele começa a repetir oks e hows em quantidades diferentes sem parar. Howhowhowhowhowhowhowhow. Ok Howhowhow. Howhow. Juro que ouvi muito disso, era um bocado esquisito. Ok Howhow final, Byebye. Desliga o telefone, guarda na cintura e murmura, irritado, enquanto ainda é assistido por toda a fila de curiosos no banco. "Saaaaaco!".
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