domenica, dicembre 12, 2004

Pra Onde a Vida Vai Quando Se Perde de Você

Há três semanas eu estava sentado numa sala de aula, ouvindo uma discussão de três horas que não tocou um só tópico interessante. A cadeira desconfortável, igual à daquelas quarenta outras pessoas com as quais eu não queria estar. O meu trabalho cada vez pior, minha vontade de fazê-lo totalmente esvanecida. Eu fiquei um pouco tonto e me surpreendi ao olhar minhas mãos. A pele estava cinza, as uhas brancas e eu não enxergava nem as veias mais óbvias. De repente eu senti frio e fome, porque eles são a falta de alguma coisa e o que me faltava era minha vida. Faz três semanas que eu quase morri, quase deixei tudo que me move, que me aquece e que me apaixona sair lentamente, do meu corpo, poro a poro, para nunca mais voltar. Levantei sem nem pedir licença e cai fora daquele lugar. Andei na rua, me entreguei a pensamentos desimportantes e a vontade de estar com os amigos, andei até que o sangue preguiçoso fosse forçado a circular pelo corpo, andei até me sentir vivo de novo. E não volto a tolerar um lugar tão mórbido quanto aquele. Mas não fico mais um dia sem olhar minhas mãos, com medo de que a vida cobre um preço maior para continuar a ser minha.

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