lunedì, luglio 05, 2004

História Verde, Azul e Branca

Estou aqui porque eu gosto de veneno. Mentira, eu gosto é do antídoto; eu amo o veneno. Eu vejo o veneno na prateleira do médico e eu quero tomar todo ele, aquele líquido azul sedoso que tem cheiro de calma. Já fiquei um mês direto pensando só nele, em como eu queria tomar todo o frasco de uma vez e morrer apaixonado por aquela água espessa. No fim, eu sempre tomo o maldito. Alguém nota, uma enfermeira desesperada vem, me leva pra outra sala, acho que perto do laboratório, e pega aquele becker com um borbulhante verde e fedido. É antidoto, vai anular o efeito do meu corpo. Eu quero o antídoto. Sinto como se devesse pedir desculpas ao veneno, eu que tinha prometido morrer por ele, mas o antídoto tem um gosto tão bom, as borbulhas fazem cócegas no meu nariz e tudo isso me faz lembrar que talvez eu queira continuar vivo.

Depois que tomo o antídoto, não penso nele. Passo um bom tempo livre dele e do veneno, sou capaz de não lembrar que nenhum dos dois existe por semanas, meses, um ano. Fico na parte daqui onde só deixam os mais calmos ficarem. Vejo as árvores, brinco com os bichinhos e jogo baralho. Ninguém gosta quando a gente joga truco, então é sempre buraco, buraco, buraco. E eu fico lá jogando buraco e brincando com os bichinhos até que um dia eu olho praquele céu azul e sedoso e quero meu veneno de novo. Da última vez que isso aconteceu.

Eu entrei na sala do médico. Ninguém nem me olhou no caminho, as enfermeiras pareciam até querer que eu entrasse lá. Estava vazia, exceto pela escrivaninha, cheia de garrafas e mais garrafas. Vinte e uma garrafas. Dez delas tinham a substância verde e borbulhante. Onze tinham o veneno. Foi a primeira vez que eu olhei pro veneno e pro antídoto assim, no mesmo lugar e no mesmo tempo. Cabeça doia, o que eu queria?
O veneno? Antídoto? Veneno ou antídoto. Veneno, antídoto. Veneno antídoto. Venenantídoto. Dez garrafas azúis, dez garrafas verdes, já não morri dez vezes hoje, o que dá um todo de trinta. E ainda tem a última. E o que eu quero, afinal? Eu quero o antídoto. Eu amo o veneno. E eu morro por ele.

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