As coisas acontecem. Primeiro uma, depois duas, depois três.
Geralmente três são o bastante. As bolsas sob meus olhos tornam-se pesadas como se eu tivesse cem anos. Desistindo de seu confronto com o pulmão, o diafragma resigna-se a erguer-se até metade do caminho; o pulmão, por sua vez, se sente traído - mas, mesmo que tente, não consegue provocar o velho músculo para que volte à briga de sempre, uma vez que ele Já não se importa mais. Pobre do coração, que, abusado pelos insultos disparados aleatoriamente pelo colega valentão, arrepia-se a bater para todos os lados, fora do eixo, cada vez mais rápido e cada vez mais fraco. É assim que eu fico, depois que as coisas acontecem.
Primeiro uma, depois duas, depois três. Atuam em escalas tão distintas, até mesmo o conceito de "coisa" se torna difuso. Pode ser um dia que está um pouco feio, excesso de sujeira na sua mesa do trabalho, uma discussão sem razão de ser, um sorriso de despedida que pareça minimamente menos esperançoso do que o anterior, um prazo que se atraza, um aviso de que algo precisa ser refeito. Para que eu acredite que toda a minha alma precisa ser refeita. Com três coisas qualquer, assim.
Não é natural, nem humano. Talvez pareça com castigo divino, mas ressoa tão mais primitivo do que tudo.
As contas à pagar são sim o fim do mundo.
Só espero que tudo melhore, Lucas.
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