"Porém duma feita quando embrulhava os pães na carrocinha percebeu Rosa que voltava da venda. Esperou muito naturalmente, não era nenhum mal-criado não. O sol dava de chapa no corpo que vinha vindo. Foi então que João pôs reparo na mudança da Rosa. Estava outra. Inteiramente mulher com pernas bem delineadas e dois seios agudos se contando na lisura da blusa que nem rubi de anel dentro da blusa. Isto é... João não viu nada disso, estou fantasiando a história. Depois do século dezenove os contadores parece que se sentem na obrigação de esmiuçar com sem-vergonhices essas coisas. Nem aquela côr de maçã camoesa amorenada limpa... Nem aquêles olhos de explendor solar... João reparou apenas que tinha um mal estar por dentro e concluiu que o mal-estar vinha da Rosa. Era a Rosa que estava dando aquilo nêle, não tem dúvida. Alastrou um riso perdido na cara. Foi-se embora tonto sem nem falar bom dia direito. Mas daí em diante não jogou mais os pães no passeio. Esperava que a Rosa viesse buscá-los na mão dêle."
De "O Besouro e a Rosa", in "os contos de belazarte", de Mário de Andrade.
Sei lá, queria citar, citei.
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