Patrícia morria de medo de dentistas. Quando era um novo, então, além do pavor, havia um enorme constrangimento - justo pela sua reação injustificada. Ela nunca passava por nenhuma esperiência dolorosa: escovação magistral, uso correto do fio dental e do antiséptico bucal, arcada dentária perfeita, sisos mais do que bem encaixados. De seis em seis meses, como foi orientada por sua mãe na infância, aparecia orgulhosa para mostrar como tudo estava bem. E, de repente, começava a achar que não estava tudo bem, que uma doença bizarra se acometera de sua gengiva, olha só, tá ficando inchada, Jesus, vamos ter que amputar sua mandíbula! Socorro, socorro eu tenho que sair daqui, meu Deus, meus dentes meus den...
- Patrícia?
-Hã?! Ah, oi...
- Prazer, eu sou o Roberto, o dentista. Vamos pra dentro?
Ro-ber-to. Era lindo! E a voz, como fluia... nunca pensou que um dentista pudesse ser tão jovem e atraente, estava apaixonada. Se deixou conduzir, hipnotizada, até a cadeira, ficou confortável, abriu bem a boca, relaxou. Parabéns, seus dentes são perfeitos! "você também" deveria ter dito, mas agradeceu e foi embora.
Seis meses era tempo demais para ficar sem vê-lo. Precisava de uma desculpa para voltar mais cedo, em um semestre ele ia engordar, noivar e engravidar umas três, não se podia jogar tempo fora. Uma cárie se fazia necessária. Patrícia ficou extremamente cautelosa quanto a porquice nos seus procedimentos de higiene bucal. Não lavava mais a escova, que passou a usar duas vezes por dia, para evitar os desagrados do mau hálito. Fio dental, só quando a sujeirinha começava a coçar. Anti-séptico, rá, quem precisa disso! Bingo! Conseguiu uma dorzinha de dentes, o suficiente. Voltou, em um mês.
Olá. você de volta tão cedo? Não achei que fosse ter um problema. Hmn, olha esse tártaro, você andou relaxando, hein? Ehehe, não tem problema, a gente cuida disso!(piscadela)Mas você tem dentes tão bons, não vai etragar assim, vai? Vamos fazer uma obturaçãozinha, não vai doer nada, e depois uma limpeza.
Obturação, limpeza, não doeu nada, ou se dou ela não estava em condições de sentir. Bem como a dor, a ação não existiu. Voltou para casa, ferida com a própria inércia. Se deu mais um mês de prazo.
Operação porqueira ao limite. Nada de escovar os dentes. Açúcar branco o dia inteiro. Irc, que fedor! Legal. Engordei cinco quilos! Tudo bem, eu começo a fumar, ainda amarela os dentes! Humn, é isso, vou firar viciada em café! E coca-cola, ouvi dizer que corrói o esmalte... bochechos matinais de refrigerante! Pronto, estão quase caindo da boca. vamos lá.
Não acredito! Você é louca? Eu falei pra cuidar dos dentes! Eram lindos! Eu amava os dentes... (soluço) Sai daqui, sua puta! Não, não te trato os dentes, você que se foda! Quer apanhar, é? Então toma, vaca!
O soco lhe custou a consciência, o orgulho, e dois pré-molares. Bem feito.
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