domenica, luglio 26, 2009

Parte Um

Fui apresentado à prática da individualidade meio tarde, com uns oito ou nove anos.
Na época, minha atividade preferida era "imaginar", que era o melhor nome que eu tinha para essa brincadeira.
Minha imaginação, no entanto, não independia do plano material como essa definida no dicionário. Muito menos usava os recursos comuns das brincadeiras de imaginário - desenhos, livros, bonecos, etc.
Para imaginar eu precisava de um (nunca dei um nome para esse objeto, nunca mesmo, mas para facilitar a vida de quem lê, chamemos-no de imaginador).
Um imaginador consiste de qualquer objeto disponível ao alcance das mãos, que possa ser movido (mesmo que arrancado) de seu local de origem, possua estrutura flexível, seja comprido e fino. Alguns exemplos de imaginadores incluem cabos e fios de aparelhos eletrônicos, talinhos altos de grama e mato, cordões e barbantes (embora esses geralmente fossem considerados moles demais).
O imaginador ideal teria entre 10 e 50 centímetros de comprimento, não mais que um centímetro de diâmetro e a consistência de um fio de cobre recoberto com capa de borracha.

Obtido o instrumento, começava a ação: eu me agachava próximo ao chão e sacodia o imaginador para lá e para cá, observando e ajustando seus volteios e ondulações. Enquanto isso, dava pequenos saltos e agitava meu corpo conforme o ritmo e a intensidade da imaginação obtida. Emitia barulhos com a boca, também, algo como um shwwhsshshs, para complementar o movimento.

Conforme fui crescendo meus pais se preocuparam e começaram a coibir a brincadeira. Pára de ficar ciscando no chão, menino! Vão achar que você é maluco! Tá com energia pra gastar vai jogar bola, vai correr na rua.

Foi assim que imaginar passou a ser o meu primeiro prazer proibido; muito antes da masturbação e das rebeldias, era o ato de imaginar aquilo que eu precisava fazer escondido.

Em ambientes novos, sempre era necessário pesquisar a disponibilidade de imaginadores em potencial. Se eu não os encontrasse a sensação de opressão era tamanha que eu fazia de tudo para ser levado embora. Nas viagens de escola, tinha medo de não ter momentos de privacidade onde pudesse imginar sem ser avistado pelos outros.

Foi assim que eu aprendi a às vezes me esconder, a exigir ter o meu tempo, a procurar me separar dos outros.
Mas eu nunca aprendi direito.