giovedì, maggio 25, 2006

lunedì, maggio 15, 2006

Atenção, funcionários da CPTM: informamos que os trens estão em circulação normal e sem alterações

Nessas horas que a gente lembra que todo paulistano gosta de achar que está em Nova Iorque.
Deve ter sido a pior segunda feira pra se ir ao banco em décadas. Todas as pessoas na fila só sabiam falar de polícia, do PCC, de seqüestro aqui, ataque ali, alarme falso acolá. O ar fedia a paranóia. Enquanto o caixa me atendia, meu pai ligou no meu celular; tinha me procurado no trabalho, ficou preocupado e um pouco puto de eu estar no banco. Por conseqüência, saí sem olhar na cara do caixa e já vítima do primeiro sintoma. No caminho de volta para o escritório, só queria que alguém me ligasse, pra dizer nada, pra contar uma fofoca, dividir uma piada. Só para ouvir uma voz humana em tom displicente, alguma pessoa sã para quem estivesse tudo bem. Eu que odeio telefone, queria uma ligação inútil, assim, no meio de uma segunda à tarde. E estava só começando.
Voltei e só esperavam a mim pra fechar. Ninguém tinha certeza se daria para chegar em casa. Atravessamos a ponte da casa verde congestionada a pé. Meus colegas pegaram a avenida para o centro, eu me dirigi sozinho para a zona oeste, lar. Má idéia, a avenida passa pelo fórum criminal. Policial nunca foi um símbolo de conforto e segurança para mim; cruzar um círculo deles em sentinela neurótica, armados até os dentes, isso pode te fazer sentir medo. Eu sabia, sabia o tempo todo, que não devia me entregar. Que é tudo aumentado, ampliado. Que os opressores, todos eles, governo, mídia, PCC, polícia, terrorista, igreja e talibã, só esperam isso de nós. Que fiquemos com medo, e imploremos por proteção e liderança. Mas a cidade estava com medo, o ar estava com medo, e eu tinha sido vencido. Peguei o celular e disquei neuroticamente, tentando contato com alguma pessoa amiga. Só uma voz, só uma voz displicente me contando uma piada para tudo ficar bom. Na pequena tela, sempre a mesma mensagem "Network Overload". Ligações demais acontecendo, garoto, você não pode falar. Continue andando, continue sozinho.
Subi a estação Barra Funda para atravessar os trilhos. Muitas pessoas corriam para lá e para cá, poucas pareciam saber o que fazer. O alto-falante repetia insistentemente.
"Atenção, funcionários da CPTM: informamos que os trens estão em circulação normal e sem alterações."
Mas os portões para esses trens estavam fechados. Esse insólito me deu um primeiro segundo de conforto real no surto paranóico. Pois a vida já tinha ficado tão parecida com um filme de ficção científica que eu podia esperar sobreviver por milagre; tudo estava tão absurdo que qualquer um seria herói e esses malditos replicantes estariam todos mortos, os alienígenas voltando à seu planeta natal e a paz de volta a terra. Fora da estação isso ainda funcionava um pouco, se eu repetisse freneticamente para mim mesmo aquilo que tinha ouvido no metrô. Acreditar que os trens estavam em circulação normal me acalmava; ouvir o som inteligível de uma voz conhecida, mesmo que a minha, parecia ser a única coisa capaz de colocar meu pé esquerdo diante do direito, e depois num novo passo.
Na Avenida Francisco Matarazzo, ao lado de mais um braço de congestionamento, eu quis mijar. Minha bexiga começou a reagir a tensão. Somei isso com o fato de que quase não havia mais pedestres em circulação, e que ninguém, policial, segurança ou zelador, estava dispensando qualquer atenção para os pudores higiênicos sobre a calçada. Ao invés de me aliviar logo, avancei no pensamento. Então, se eu quisesse levar aquela cadeira em frente à danceteria country ridícula, eu poderia? E qualquer coisa que eu destruísse em frente ao hipermercado fechado, ninguém ia fazer nada? Nada mesmo? Vazio de poder. Eu era como a garotinha em V de Vingança, que cai da bicicleta e diz merda. Merda. E pixa tudo e corre e xinga e se liberta em desapego e destruição. Mas a porra da Francisco Matarazzo nem tem o que depredar direito, e fui vândalo apenas por conceito.
A Avenida Antártica é antipática e piorou tudo. Eu tremia só de passar perto daquele viaduto. Viadutos são o símbolo do que há de pior nas cidades, não passe por eles quando em pânico. Todo o comércio fechado, menos o bar, é claro. Só um bar aberto em meio a tudo. Comprei uma latinha de cerveja para conseguir continuar andando. Eu bebia ridiculamente rápido, mas era um alívio químico importante. Queria que algum lugar decente estivesse aberto, pra comprar uma garrafa de conhaque e ficar me amargurando com ela em casa. Ainda bem, não aconteceu. A Sumaré estava vazia no sentido bairro, e parada no sentido centro. Pensei em quem era toda essa gente presa tentando ir pro lado do qual eu fugia. Paulistano tem essa coisa de querer ser novaiorquino. Hoje a gente foi, por certo lado. E eu tinha ainda que continuar andando muito. Estava sem cerveja já, e o tremor começava a voltar. Logo tudo seria insuportável. Mais um único comércio aberto; uma barraquinha de frutas, com uma placa sobre morangos deliciosos. Como alguém pode estar vendendo morangos deliciosos numa hora dessas? Mas, se ele pode vender, eu posso comprar. Parei na barraca, escolhi a caixa com os menores, que aprendi serem os mais doces. O preço era o abuso de cinco reais, talvez influenciado pelo fator risco. Por um momento, me achei um pouco frívolo comprando morangos, uma vítima dos excessos de poesia fácil torcendo para que uma metáfora barata viesse me salvar montada num cavalo branco. Não sei se era barata, mas é que veio mesmo. "Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim." Eu abracei minha caixa de morangos, comecei a correr, como que num insulto aos carros parados e sua lerdeza paradoxal, e cantei como se tivesse quatro anos de idade, para que todos ouvissem e invejassem.
Eu tenho morangos, eu tenho morangos!

Mais tarde, em casa, comi-os com creme de leite e dediquei-me a contar isso.

domenica, maggio 14, 2006

Tem uma loja que na porta está escrito "futuros".
Você chega lá e na prateleira, em todos os pacotes, de várias formas e tamanhos, vê que está escrito 'presente'.
Se ficar intrigado e perguntar ao balconista, apático e sonolento, ele vai te olhar por baixo da aba do boné e dizer "desencana que quando você levar para casa, já vai ser passado".
Então ele boceja, você não compra nada e sai satisfeito.

domenica, maggio 07, 2006

martedì, maggio 02, 2006

Um dia, faz quase um ano, eu subi no terraço e pintei um telefone anigo de preto.
Hoje eu lembrei disso e me senti feliz.
Vai entender.